Política

Montenegro descreve Governo de Costa como “o mais comunista desde a Revolução de Abril”

Luís Montenegro
Luís Montenegro
HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

“É caso para perguntar ao primeiro-ministro se continua disponível para andar de braço dado com partidos anti-Europa e anti-NATO – e um deles até pró-Rússia”, desafiou o líder do PSD num jantar na Madeira. Por sua vez, o presidente regional definiu o pacote do Governo para a habitação como “uma violação flagrante de direitos pela primeira vez desde a bagunça constitucional de 1975”

De olhos postos numa maioria absoluta nas eleições regionais do outono, Luís Montenegro denunciou o Governo de António Costa como “o mais comunista desde a Revolução de Abril”. Num jantar realizado em Câmara de Lobos, parte do 1º Encontro Interparlamentar do PSD na Madeira, o presidente do partido assinalou esta quinta-feira a discrepância entre o discurso e a atuação do primeiro-ministro. Isto porque, questionou-se, “como é possível” o Governo dizer que é a favor das autonomias locais e regionais e depois apresentar um pacote de medidas para a habitação “sem previamente ouvir sequer as autarquias e as regiões autónomas”?

O PSD é favorável ao “aprofundamento da autonomia regional” e, por isso, apresentou um projeto de revisão constitucional também com esse foco, continuou. Uma das propostas é a extinção do representante da República nas regiões autónomas. E o que dizem os socialistas, perguntou Montenegro, para, em seguida, responder: se o PS não acompanhar esta e outras propostas, “então é só conversa quando fala das autonomias regionais”.

O líder social-democrata, que insistentemente tem sido questionado sobre o que pretende fazer se precisar do apoio dos partidos à sua direita – sem nunca desfazer o tabu –, voltou a atirar sobre o PS. “Não somos o partido que aceita passar as linhas vermelhas e andar de braço dado com partidos que são anti-Europa e anti-NATO – e um deles até pró-Rússia”, demarcou-se. E lançou o desafio: “É caso para perguntar ao primeiro-ministro se continua disponível” para o voltar a fazer, “até por questões de sobrevivência política”.

Nova demarcação: “exatamente ao contrário” do modo como tem funcionado o Governo, o PSD “funciona de forma estruturada e coordenada” e está “a posicionar-se cada vez mais como a alternativa de confiança para dar um Governo novo a Portugal, como é bem necessário”. Montenegro insistiu que essa alternativa em construção é “um projeto político nacional que valoriza realmente as autonomias locais e regionais”. Porque estas, sublinhou, são muitas vezes a forma de se ultrapassarem “as deficiências do poder central”. De resto, “o país está cada vez mais na cauda da Europa, tem hoje impostos máximos e serviços mínimos, e isso não é um caminho que dê futuro a Portugal”.

A intervenção de Montenegro terminou quando arrancava a transmissão televisiva, na RTP, da entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa por ocasião do seu 7º aniversário como Presidente da República. À tarde, no final de uma visita ao Centro Internacional de Negócios da Madeira, na freguesia do Caniçal, o líder do PSD foi questionado sobre se esperava que o chefe de Estado se mostrasse alinhado com o que defende. E respondeu que “o PSD e o seu líder fazem o seu trabalho e o senhor Presidente da República faz o seu”, acrescentando que votou “duas vezes, sem hesitação” em Marcelo e que este “tem sido um bom Presidente da República”. Mas, rematou: em rigor, o chefe de Estado “é apenas um” dos eleitores que pretende conquistar.

Miguel Albuquerque
HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Antes de Montenegro discursar no jantar, o presidente do Governo Regional e do PSD Madeira disse discordar “em absoluto” de duas políticas recentemente adotadas pelo Governo da República: o pacote para a habitação, que Miguel Albuquerque definiu como “uma violação flagrante de direitos pela primeira vez desde a bagunça constitucional de 1975”, e “o bloqueio do investimento estrangeiro”, com a extinção dos ‘vistos gold’ e “o encerramento e condicionamento do alojamento local”. As regionais do outono, a que o PSD de Albuquerque concorre em coligação com o CDS regional, encerram “um ciclo muito difícil” em que os madeirenses enfrentaram “a maior crise de saúde pública e económica, sem apoio do Estado” – mesmo assim, “conseguimos ultrapassar”, assinalou.

E apelou ao firmar de “uma relação adulta” do poder central com as regiões autónomas. “Não podemos continuar neste ciclo repetitivo de desconfiança”, prosseguiu, reclamando do Estado central “um quadro legislativo próprio” e “um sistema fiscal que permita às regiões captar investimento”. Mas, como tem pouca esperança de que isso aconteça, “é necessário o PSD ser uma força coadjuvante” nesse sentido. Albuquerque incitou ainda o país a “tirar proveito” da posição geopolítica que ocupa com “uma política atlantista”. E já em registo de pré-campanha eleitoral, o líder madeirense disse que o seu partido tem de ser “muito claro” na classificação dos professores como “uma classe decisiva para o país”.

Sobre a crise política açoriana nem uma palavra de Albuquerque e Montenegro neste jantar. Horas antes, no Caniçal, o presidente do PSD disse: “Não levem a mal, mas se há coisa que não vou fazer na Madeira é falar da situação política dos Açores.” Contudo, face à sucessão de perguntas dos jornalistas, acabou por falar. Questionado sobre se o Chega e a Iniciativa Liberal são partidos confiáveis, apontou ao PS: “O PSD é o partido mais confiável, de longe, que há no país e na Região Autónoma da Madeira. Somos previsíveis, as pessoas sabem com o que podem contar, não somos aventureiros, não somos repentistas. Não temos uma opinião ontem e outra hoje, não mudamos as políticas da manhã para a tarde. Isso tem estado sobretudo centrado em António Costa e no PS.”

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