Bispo da Jornada da Juventude: preço do altar “magoou-nos a todos”, Igreja quer baixar custos, como Marcelo pediu
Bispo Américo Aguiar assumiu erros da Igreja
TIAGO PETINGA
Bispo Américo Aguiar assume erros, quer saber por que razão a estrutura é tão cara e promete cumprir desejo de Marcelo, avançado pelo Expresso: baixar custos de tudo. “Não queríamos ferir a Jornada com este ou outro acontecimento do género”
O bispo Américo Aguiar admite que a Igreja e restantes promotores da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) falharam na comunicação do evento. “Não fomos capazes de partilhar com todos esta grandeza”, diz o responsável da Igreja, a propósito da polémica causado pelo custo, superior a 5,4 milhões de euros, do altar-palco que vai ser montado no Parque Tejo.
Mas mais do que isso: o valor do altar “magoou-nos a todos”, assume, em nome da Igreja. Em nome próprio também. “Confesso que número do ajuste direto me magoou.”
Américo Aguiar diz que a proposta foi “trabalhada com as autoridades da Santa Sé” e comparou a aprovação do projeto pelo Vaticano com a votação do Orçamento do Estado: o altar está aprovado na generalidade, mas falta a especialidade. E é aí que promete tentar baixar os custos.
“A primeira coisa que vamos fazer é, com as equipas responsáveis do projeto, sentar e fazer um microscópio de qual é a razão deste valor.” “Estamos totalmente abertos”, garantiu o bispo, “a olhar para as parcelas dos custos e o que não for essencial, solicitar que seja eliminado”.
O bispo responde assim implicitamente, e positivamente, à pressão que Marcelo Rebelo de Sousa exerceu sobre os intervenientes para que baixassem os custos, como o Expresso noticiou na tarde desta quinta-feira. E apelando a todos para uma limpeza da imagem que este evento ganhou. “Não queríamos ferir a Jornada com este ou outro acontecimento do género.”
BISPO GARANTE QUE NÃO SABIA VALOR DO ALTAR
É com palavras fortes que Américo Aguiar assume uma série de falhas, entre as quais o silêncio a que a Igreja estava remetida nos últimos dias, quando já praticamente todos os intervenientes da JMJ tinham falado sobre os custos que o evento vai ter para o erário público. Mas notou que, embora “os amigos tenham insistido que o bispo está caladinho que nem um rato e não diz nada”, não o faz mais vezes, ou mais cedo, “para não mentir”.
A propósito de mentir, ou omitir, o bispo garantiu que não sabia do valor da obra adjudicada à Mota Engil até a notícia ser avançada pelo Observador. E que também o Presidente da República não tinha conhecimento. Nem um nem outro, avançou ainda, “tinham de saber”.
Embora tenha sinalizado várias vezes que o valor é para baixar, Américo Aguiar defendeu uma obra que, por ser “nunca vista no nosso país”, tem obrigatoriamente de ter também custos nunca vistos. “Nunca no nosso país tivemos um acontecimento como a Jornada. Nem a Web Summit, nem festivais de verão”, nada, elencou o bispo, “na escala e nas exigências”.
“Sempre que pensamos em organizar alguma coisa, temos uma escala de paróquia, de diocese, [mas] mesmo o Santuário de Fátima é um [só] um bocadinho [comparado] com a JMJ.”
Não é apenas a dimensão. O responsável da Igreja quis deixar escrito na pedra que o altar-palco fica mesmo para o futuro da cidade, tal como ficam as outras estruturas. Leia-se: o evento vai ser muito caro porque vai ser construído do zero e “fica para as populações”. É o caso do altar, mas também do aterro de Beirolas, que será transformado em parque urbano, ou ainda da ponte pedonal que fica a ligar Loures e Lisboa.
Foi a escolha do local, frisou o responsável pelo evento do lado da Igreja, que fez subir os custos todos. Fazer o evento principal no Parque Tejo “foi a proposta escolhida, quer pelo PR, quer pelo Governo, quer pelo Presidente da Câmara de Lisboa” para garantir a possibilidade de “terminar o serviço” da Expo-98, ou seja, reabilitar aquela zona. “Nunca houve hipótese de doar um parque urbano para as populações” depois de uma Jornada da Juventude, saudou o bispo.
PARQUE EDUARDO VII TAMBÉM É PARA RECUAR
A certa altura de uma também longa conferência de imprensa, o bispo foi questionada pelos outros palcos, que ainda não foram contratualizados. Como o Expresso avançou, o caso mais bicudo é o do Parque Eduardo VII, que seria uma espécie de plano B, caso houvesse algum imprevisto no Trancão e que estaria orçamentado acima do milhão de euros. Marcelo não quer, a Igreja também não, o projeto deve ser bem mais modesto do que chegou a estar previsto.
“Cometer erros novos é humano, repetir erros é burrice”, disse Américo de Aguiar, deixando nas entrelinhas que o pé já está no travão. “Temos que ter procedimentos diferentes, para evitar que aconteçam coisas deste género. Pedindo para acompanhar mais de perto, junto das autoridades respetivas.”
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