Política

Cotrim despede-se com farpas aos críticos e recados a Medina e Costa: “habitue-se”

Cotrim despede-se com farpas aos críticos e recados a Medina e Costa: “habitue-se”
NUNO BOTELHO

No último discurso enquanto líder, Cotrim Figueiredo lembrou a obra feita em três anos de crescimento do partido e invocou a “oposição inteligente” e “eficaz” ao Governo. Pelo meio, deixou farpas aos críticos internos e a António Costa e Fernando Medina

O líder cessante da Iniciativa Liberal (IL) recusou este sábado despedidas na VII Convenção do partido, prometendo estar “disponível” para servir a causa liberal sem cargos, nem favores. Logo à entrada do Centro de Congressos de Lisboa, onde decorre a reunião magna, Cotrim de Figueiredo, antecipou um discurso centrado no futuro, mas não deixou de percorrer o passado, elogiando o crescimento rápido nos últimos três anos sob a sua presidência. Pelo meio, deixou farpas aos críticos internos e ao Governo, em especial a Costa e Medina.

A IL, defendeu, foi o único partido que colocou o tema do crescimento económico no “topo na agenda”, e veio “abalar o sistema partidário”, afirmando-se como a única alternativa ao socialismo”, uma oposição “inteligente”, “eficaz” e “credível”, com respostas para não forçar os “jovens mais qualificados” a emigrar, atrair “investimentos” e apostar no crescimento da “esperança” no futuro. “É boa altura para dizer ao primeiro-ministro que a IL está aqui para lhe continuar a dar motivos para se irritar: habitue-se!”, atirou.

Criticando o Executivo socialista, Cotrim falou numa sucessão de “incompetências”, “políticas erradas” e “falta de coragem” para avançar com reformas. “O Governo não explica o passado, fica tudo em nebuloso. O Governo está em evidente desagregação”, prosseguiu.

Para o ainda líder, o Governo “não cria o presente”, porque nada do que o Estado devia assegurar está a funcionar. Cotrim de Figueiredo deu o exemplo do sector da Saúde, Educação, SEF ou o processo de implementação do PRR. “O PS não cuida do presente e não prepara o futuro”, insistiu. Já o ministro das Finanças seria um “ótimo” sucessor de António Costa, “porque nunca sabe de nada”, ironizou.

NUNO BOTELHO

Afirmando que o crescimento continuará na agenda, Cotrim sublinhou também a “diferença” que a IL fez na defesa da eutanásia e na oposição aos confinamentos durante a pandemia. E a curto prazo, garantiu, vai-se opor à restrição das liberdades e garantias na revisão constitucional acordada entre o PS e o PSD.

Contra os críticos e os “arautos da desgraça", disse que o partido conseguiu dar o salto e o futuro passará por continuar o caminho de “crescimento”.

Recados para críticos internos

Mas nem só de recados para fora se fez o discurso de Cotrim. Em resposta aos críticos na IL, voltou a admitir que não deu muita atenção às questões internas, aceitando com “humildade” esse reparo. Mas, ao mesmo tempo, garantiu não estar arrependido, tendo preferido dar prioridade à conquista de “mais portugueses” para a causa liberal. “Entre um partido virado para dentro e um partido virado para fora, não hesitaria em voltar a estar virado para fora”, afiançou.

NUNO BOTELHO

Mais: lamentou as acusações que considera “injustas” de ser “autocrata” e cabecilha do "comité central" do PCP durante a campanha interna, numa farpa a Tiago Mayan: “Chamar autocrata a quem na realidade o estimulou e encorajou. A todos demonstrámos estar focados no crescimento da IL e não nos objetivos pessoais", disse, sem nunca mencionar o nome do liberal.

Por último, e em jeito de nota final, o líder demissionário elegeu a “imaginação” como factor de sucesso para o partido seguir o caminho de crescimento e credibilidade. E voltou a defender o direito a manifestar a sua opinião na disputa interna, a favor de Rui Rocha.

“Não teria capacidade para viver com a minha consciência se tivesse a minha opção tomada em privado e não a comunicasse", justificou, frisando que a vontade dos membros é “soberana”. “Pensem pela vossa cabeça”. Antes de deixar o palco, de mão ao peito, e sob forte ovação, admitiu que “provavelmente” ser líder da IL foi a “maior honra”. “Não é um adeus, é um até sempre.” Um discurso com recados para fora e para dentro.

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