Durante o verão, um coletivo de artistas dinamarqueses anunciou a fundação do Partido Sintético, que seria baseado num modelo de inteligência artificial para concorrer às eleições de 2024. Estas acabaram por ser antecipadas e a ideia morreu, até porque o desempenho público do chat que conversava com os cidadãos não era particularmente evoluído: a sua capacidade para defender as ideias que propunha era muito fraca e não foi capaz de explicar a sua utilidade para o sistema.
Mas a experiência serviu para lançar a discussão sobre o contributo que a inteligência artificial pode ter na decisão política, algo que ainda não é prática corrente. Arlindo Oliveira, Presidente do INESC e autor de vários livros e artigos sobre inteligência artificial, confirma isso mesmo: “Tanto quanto sei, usa-se muito pouco ou nada da inteligência artificial na decisão política. Comparada com a sofisticação das empresas, em geral, as decisões políticas são feitas quase sem recurso a dados analíticos. É diferente quando se fala no direcionamento eleitoral através das redes sociais, especialmente nos Estados Unidos, onde casos como o da Cambridge Analytica são conhecidos.”
Num momento em que a desconfiança sobre o sistema politico continua a crescer, as teorias sobre um governo gerido por uma inteligência artificial até podem ser sedutoras. Em 2019, um pequeno inquérito de uma universidade espanhola concluiu que 25% dos eleitores entrevistados preferiam que as decisões fossem tomadas por sistemas automatizados. Mas isso não responde a um problema central em aberto: a inteligência artificial governa com recurso a algoritmos e bases de dados, que são sempre geridos por humanos, que os podem manipular de acordo com os seus objetivos, pelo que importa saber quem iria escrever esse algoritmo e que mecanismos de controlo iriam existir. Assim como deixa antever o regresso de uma discussão mais antiga sobre os limites da intervenção tecnológica, da tecnocracia e da necessidade de existir um espaço de debate sobre diferentes caminhos políticos.
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