Marcelo reage a votação no Parlamento: "Depois de amanhã estarei a falar de direitos humanos no Catar"
Presidente assume que votos contra ida ao Mundial de Futebol têm leitura política, mas ressalva que têm o sentido que ele quiser dar
Presidente assume que votos contra ida ao Mundial de Futebol têm leitura política, mas ressalva que têm o sentido que ele quiser dar
“Depois de amanhã estarei a falar de direitos humanos no Catar”, promete o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, poucas horas depois de o Parlamento aprovar a sua deslocação àquele país onde decorre o Campeonato do Mundo de Futebol. Foi em Leiria, onde esta terça-feira, se deslocou para uma aula-debate com aluno do secundário, que o Presidente da República reagiu à divisão entre os deputados.
“A votação no Parlamento terá o sentido que eu lhe quiser atribuir”, começou por dizer Marcelo, reconhecendo que “os votos contra foram obviamente de conteúdo, não foram formais, o que significa que houve uma ponderação política”. Contudo, para o PR esses votos contra implicam uma visão sobre a política externa que é diferente da orientação do país.
Na interpretação do PR, há partidos e deputados que entendem que qualquer deslocação a um país não democrático ou com problemas de respeito pelos direitos humanos “seria uma legitimação” desses regimes. “Sabem que não é essa a orientação da política externa portuguesa”, salientou o chefe de Estado, invocando a marcação da próxima cimeira sobre o clima para os Emiratos Árabes Unidos e a recente cimeira no Egipto.
“É a única maneira de as democracias falarem com não democracias sobre os problemas do mundo”, defendeu o Presidente, que também fez questão de lembrar quem eram os representantes institucionais de Portugal quando “este Mundial arrancou”, ou seja quando foi aprovada a realização deste Campeonato no Catar: Cavaco Silva era Presidente da República e José Sócrates era primeiro-ministro. E não houve clamor público sobre a decisão, lembrou.
“A seleção protuguesa tem uma visibilidade e um peso internacional óbvio, é Portugal representado por embaixadores muitos qualificados”, reconheceu. Mas não é suficiente. “Havendo esse certame, que é um certame importante de projeção para Portugal, Portugal deve lá estar”, insistiu Marcelo Rebelo de Sousa, para quem “é diferente apoiar lá e lá dizer o que se pensa sobre a situação política lá”.
É isso que conta fazer num encontro sobre educação onde está convidado a participar, à margem do Campeonato do Mundo. “Falar de educação é falar de direitos humanos”, acrescentou o Presidente em declarações aos jornalistas, na Escola Secundária Domingos Sequeira, em Leiria.
Marcelo, Santos Silva e António Costa acordaram entre si repetir o que já tem sido prática em anteriores competições deste tipo: vão à vez aos jogos de Portugal em ordem descrescente hierárquica. O Presidente vai ao primeiro jogo, na quinta-feira, com o Gana, o presidente do Parlamento vai no dia 28 ao jogo com o Uruguai e o primeiro-ministro vai ao jogo com a Coreia do Sul, no dia 2. Se Portugal passar à fase seguinte, voltam a agendar deslocações em função das passagens de fase de Portugal.
A deslocação do Presidente tornou-se, contudo, mais polémica depois de declarações feitas a seguir a um jogo treino de Portugal em que Marcelo desvalorizou as violações de direitos humanos no Catar. O Presidente, no dia seguinte, tentou controlar os danos, lembrando que, como sempre, a sua deslocação teria de ser votada pelos deputados, co-responsabilizando, assim, o Parlamento pela sua decisão.
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