Política

António Costa: "Portugal tinha muitas saudades do Brasil e eu tinha muitas saudades do Presidente Lula"

António Costa: "Portugal tinha muitas saudades do Brasil e eu tinha muitas saudades do Presidente Lula"
Nuno Fox

Uma conversa de amigos, com muitos sorrisos e a promessa do resgate de um prémio adiado. Lula despede-se de Lisboa com a promessa de voltar a Portugal, desta vez de braço dado com Chico Buarque para receber o Prémio Camões, numa cerimónia que está adiada desde 2019

A "alegria de estar em Portugal, numa demonstração de que o Brasil voltou ao mundo político", afirmou um Lula da Silva, claramente emocionado, ao lado de um António Costa manifestamente satisfeito. Lado a lado, o chefe de Estado brasileiro e o chefe de governo português congratularam-se esta sexta-feira perante os jornalistas dos dois países, que aguardaram as primeiras declarações públicas de Lula em Lisboa, no fim de um jantar e depois de uma hora de conversa.

Costa agradeceu a Lula a deferência de ter escolhido Portugal para a sua primeira viagem bilateral, ainda antes de ter tomado posse. E disse que "o mundo tinha muitas saudades do Brasil e precisava de que o Brasil regressasse". Também "Portugal tinha muitas saudades do Brasil" e, pessoalmente, Costa assumiu que tinha muitas saudades do Presidente Lula".

"Não foi o mundo que isolou o Brasil, foi o Brasil que se isolou", assumiu o Presidente eleito por 60 milhões de brasileiros. Disse ser o chefe de Estado de "um país triste, em que a esperança desapareceu", mas garantiu que quer inverter a situação. Ao som de música: "Finalmente eu vou assinar o prémio que Chico Buarque ganhou e vou estar em Portugal com o Chico Buarque", prometeu Lula. "Há que recuperar o tempo que perdemos", disse o primeiro-ministro português, com o sorriso de quem queria deixar para trás a palavra que se diz ser exclusiva da língua portuguesa: saudade. "Temos muito a fazer em conjunto", concluiu António Costa.

Mas nem só de festividade falou o Presidente eleito do Brasil. O maior tempo da sua declaração no Palácio de São bento foi dedicado à defesa do ambiente. "Vamos cuidar da questão climática, vamos cuidar da Amazónia, mas precisamos partilhar com o mundo a pesquisa da nossa biodiversidade, esse compromisso nós assumimos de dizer ao mundo de que vamos cuidar das áreas de preservação ambiental para que continuem intocáveis", prometeu, garantindo ainda que o Brasil vai cumprir a sua missão planetária. " A questão climática é um desafio para a humanidade", resumiu Lula da Silva.

E para concretizar este objetivo, a questão climática, Lula da Silva defende a criação de uma governação global, em que "os países ricos" também cumpram aquela que diz ser a sua responsabilidade de financiar a preservação das florestas nos territórios dos países em desenvolvimento através de um fundo de 100 mil milhões de dólares, que deveriam ter sido disponibilizados a partir de 2009 e que, segundo Lula, ainda não disponibilizou um único dólar para este fim.

Costa olhava sorridente às declarações de Lula da Silva, balançando a cabeça afirmativamente, diante do entusiasmo do brasileiro, que rejeitou a manutenção de países com direito de veto na ONU. “Todos tem de ser iguais e tratar a natureza com muito carinho, porque a natureza não perdoa”, afirmou Lula da Silva perante os jornalistas. Lula não parava de falar, nem Costa parava de sorrir. O mesmo Costa que entrara na sala da conferência de imprensa com a mão a desenhar o célebre "L" dos apoiantes de Lula.

"Estou muito feliz e muito orgulhoso porque o meu país retomou a sua habitual atitude democrática de conviver com o mundo e Portugal é um parceiro histórico, o nosso irmão, a nossa pátria mãe", afirmou o Presidente brasileiro. E a gente tem de aprender a ter com Portugal uma relação carinhosa que eu tive enquanto Presidente e que a gente tem de voltar a ter a partir do dia 1 de janeiro. À espera da presença dos dois portugueses na posse.

"O Brasil voltou à normalidade", prometeu Lula, a ssumindo como objetivo fundamental do seu governo o fim da fome no Brasil. Lula chamou os jornalistas de companheiros, disse que vai voltar muitas vezes a Portugal e assumiu o centro do palco da conferência de imprensa, papel que António Costa lhe cedeu com visível prazer.

Questionado pelos jornalistas, António Costa, em resposta ao convite público de Lula da Silva, não assumiu a certeza de que vai estar na sua posse a 1 de janeiro, mas prometeu que "todos" , ou seja, ele e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, estarão representados na cerimónia. "Há muito tempo que não tínhamos esta proximidade, esse carinho", suspirou António Costa. O primeiro-ministro ainda disse que concorda coma visão brasileira de que a Amazónia é "uma responsabilidade da humanidade" e apoiou a realização da COP 30 no Brasil, sublinhando a necessidade de reforçar a aproximação dos países atlânticos.

Lula da Silva aproveitou a oportunidade para dizer que que veio a Portugal para “aprender com a esperteza política do Presidente [da República] Marcelo” e com António Costa. “Vim aprender com o primeiro-ministro, porque eles inventaram uma tal de ‘geringonça’ que, ao que a gente sabia, ganhou as eleições. Depois, consertou a economia portuguesa. Depois, eu vi a notícia de que ele ia perder, que não estava dando certo. E o que aconteceu foi que ele sozinho ganhou e fez maioria”, elogiou Lula da Silva. “Então, eu vim aqui também para aprender o sucesso desses dois – do Presidente, do primeiro-ministro – para ver se a gente consegue fazer o mesmo no Brasil e dar certo”, declarou.

Houve tempo para se falar do Mundial de Futebol no Catar e Costa respondeu às perguntas dos jornalistas, afirmando que "aonde a seleção estiver, apoiaremos a nossa seleção, porque veste a nossa bandeira". Lula riu e disse que acreditar firmemente que "chegou a vez do Brasil ser novamente campeão do mundo" e, entre as razões para esta profissão de fé está até o desempenho mais recente de Cristiano Ronaldo, que, disse, já não joga "como há 15 anos". Mas disse também que se Portugal ganhar, ele ficará "muito feliz". Os dois políticos deram um "chute para escanteio" no tema dos direitos humanos no Catar, mostrando-se mais habilidosos com essa bola do que foi Marcelo Rebelo de Sousa esta semana.

"Eu tô feliz, porque me sinto como milhões de brasileiros, que libertaram o Brasil. O Brasil voltou a respirar", despediu-se Lula da Silva, que este sábado tem um encontro com a comunidade brasileira, antes de regressar ao Brasil.


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