23 outubro 2022 9:21

A primeira entrevista do segundo mandato presidencial após as eleições foi a Ricardo Araújo Pereira
tiago miranda
No Governo e em Belém há consciência do impacto de Ricardo Araújo Pereira, um recordista de audiências que não poupa nenhum político à sátira. O humorista desvaloriza o seu poder de influência, mas são muitos os que temem aparecer no seu programa de domingo
23 outubro 2022 9:21
Marcelo Rebelo de Sousa tem faro fino para detetar centros de influência mediática. Além disso, gosta de ser amado pelo povo. Não foi por acaso que — contra a opinião dos seus próprios colaboradores em Belém — a primeira entrevista que deu depois da reeleição para o segundo mandato tenha sido a um programa em horário nobre com audiências superiores a 1 milhão de espectadores, que o povo adora para se divertir, e não a um maçador jornalista político de audiências médias. Porque é que o Presidente preferiu relançar a sua vida como chefe de Estado a responder ao humorista Ricardo Araújo Pereira (R.A.P.)? É simples: porque R.A.P. tem poder, e porque o povo gosta dele (segundo um estudo da Marktest, é a personalidade portuguesa que gera mais empatia e identificação).
É claro que é um risco. Quem vive pelo R.A.P. pode morrer pelo R.A.P., mas quase todos os políticos já mudaram agendas a meio de campanhas para serem entrevistados por ele. Ano e meio depois dessa entrevista — em plena pandemia, cada um sentado à cabeça de uma longa mesa no Palácio de Belém —, Marcelo foi vítima das sátiras mais corrosivas feitas nos últimos tempos no programa dominical da SIC, “Isto É Gozar Com Quem Trabalha”. Primeiro, quando R.A.P. evidenciou as contradições nas datas e a incongruência das versões sobre os contactos entre o Presidente da República e o presidente da Conferência Episcopal, José Ornelas, a propósito do envio de uma denúncia de alegado encobrimento de abusos sexuais para o Ministério Público. Depois, quando gozou com as explicações de Marcelo sobre a polémica desvalorização dos números de denúncias de casos de pedofilia na Igreja. Foi o reverso da medalha da entrevista.