Política

Marcelo agradece “100 anos de vida, obra e serviço”, Cavaco “curva-se” perante “ilustre português”: as reações à morte de Adriano Moreira

Marcelo agradece “100 anos de vida, obra e serviço”, Cavaco “curva-se” perante “ilustre português”: as reações à morte de Adriano Moreira
FERNANDO VELUDO/NFACTOS

Nuno Melo, atual presidente do CDS, diz ao Expresso que “o melhor tributo é recordar o percurso de vida enquanto personalidade fundamental dos séculos XX e XXI”. Para Paulo Portas, “Portugal perdeu um sábio, um príncipe da política”

“Os portugueses, pela minha voz, agradecem-lhe 100 anos de vida, 100 anos de obra, 100 anos de serviço a Portugal.” Numa curta declaração a partir do Palácio de Belém, o Presidente da República reagiu à morte de Adriano Moreira. O advogado, académico e ensaísta foi ministro do Ultramar no Estado Novo, presidente do CDS e membro do Conselho de Estado. A 6 de setembro completou 100 anos, tendo morrido na manhã deste domingo.

Marcelo Rebelo de Sousa destacou que, “durante 100 anos”, Adriano Moreira foi “tudo ou quase tudo: académico, mestre de civis e militares, lutador pela liberdade e democracia, reformador impossível em ditadura – ainda assim, revogando o estatuto do indigenato –, exilado, regressado, presidente de um partido político [o CDS], vice-presidente da Assembleia da República, conselheiro de Estado”.

O chefe de Estado lembrou ainda que Adriano Moreira “atravessou dois regimes, andou pelo mundo, deixando discípulos, defendendo a nossa língua, a nossa cultura, a nossa pátria comum – sempre com inteligência, com brilho, com tenacidade, com orgulho transmontano, com orgulho português”.

Líder do CDS fala em “personalidade fundamental dos séculos XX e XXI”

Nuno Melo, atual presidente do CDS, começa por lamentar “profundamente” a morte de Adriano Moreira. “Mas, ao mesmo tempo, acho que o melhor tributo que lhe podemos fazer é recordar o percurso de vida enquanto figura maior do CDS e personalidade fundamental dos séculos XX e XXI em Portugal”, acrescenta, em declarações ao Expresso.

“Uma pessoa que marcou cada lugar por onde passou numa vida cheia de trabalho e serviço, ao nível do pensamento, da visão geopolítica, dos livros, de páginas relevantes enquanto governante, parlamentar e líder partidário, enquanto professor universitário, e também nas Nações Unidas. Todos estes exemplos fazem com que lhe devamos prestar a homenagem que é justa e que nos fica como referencial”, conclui Nuno Melo.

“Portugal perdeu um sábio, um príncipe da política”, diz Portas

Paulo Portas, antigo presidente do CDS, considera que “Portugal perdeu um sábio, um dos nossos maiores sábios”. “O Estado português perdeu um estadista, um dos nossos melhores. Muitos portugueses perderam uma referência essencial. Os democratas-cristãos tiveram nele o mais ilustre dos presidentes”, acrescenta o também ex-vice-primeiro-ministro.

Em nota enviada às redações, Portas diz ainda que “a lusofonia sabe que ele foi um aliado fundador e visionário”. “Os seus amigos – tive a honra e a felicidade de o ser – perderam um mestre magnífico, um conselheiro presciente, um notável conversador”, nota igualmente. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa descreve Adriano Moreira como “um príncipe da política, um pensador da diplomacia e um teorizador da segurança com tributo decisivo à preservação da paz”.

“Um cristão empenhado e um seguidor da doutrina social, um reformador quando a inércia era dominante e um institucionalista quando a desordem era triunfante. Humanista e aberto ao mundo, foi sempre, do início ao fim, um patriota que considerava Portugal um dever”, remata Portas.

“Curvo-me perante a memória do professor”, diz Cavaco Silva

Cavaco Silva evoca Adriano Moreira como “um dos mais importantes pensadores políticos do Portugal contemporâneo”, assinalando o seu “legado de verdadeiro serviço público”. “No ensino construiu escola em torno da ‘convergência dos saberes’ e desses saberes produziu um manancial enorme de pensamento e reflexão sobre Portugal”, escreveu o antigo Presidente da República numa declaração enviada à agência Lusa.

O também ex-primeiro-ministro recorda o “português ilustre” e o “orgulhoso transmontano”, fazendo a apreciação sobre “a sua vida de dedicação à causa pública como político, como intelectual e como académico”. “Como já referi em 2009, Adriano Moreira ‘pertenceu à estirpe dos que permanecem fiéis à sua palavra e ao seu trajeto’ – e num tempo tão volátil como o que nos coube viver, só isso é já causa de admiração e louvor”, destaca ainda.

Cavaco Silva considera que o antigo líder do CDS e ex-ministro “soube também comunicar o seu pensamento através de uma forma extraordinariamente lúcida, até ao fim dos seus dias, num legado de verdadeiro serviço público”. “Curvo-me perante a memória do professor Adriano Moreira. À sua família deixo uma palavra de profundas condolências”, conclui o ex-chefe de Estado.

Manuel Clemente faz “homenagem agradecida” a homem íntegro

O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, faz uma “homenagem agradecida” a Adriano Moreira, sublinhando a sua integridade e o facto de se ter mantido sempre fiel ao seu pensamento. “É uma memória agradecida porque é uma vida sempre muito fiel a si própria, aos seus sentimentos e pensamentos”, afirmou Manuel Clemente, em declarações enviadas às redações.

Manuel Clemente concorda que Portugal “deve a pessoas como ele, pessoas íntegras e pessoas que se mantêm fiéis ao seu pensamento quando é um pensamento assim tão verdadeiro e com tanta urgência” como “o pensamento social cristão”. O cardeal-patriarca diz ter conhecido o antigo líder do CDS ainda nos anos de 1960 quando este visitava o lar universitário onde residia, lembrando que “fazia as suas considerações sobre o momento político nacional e internacional sempre com uma preocupação fortemente humanista”.

“A última conversa que nós tivemos foi há uns 15 dias na casa dele e ele queria falar da sua preocupação sobre o futuro da doutrina social da igreja, ou seja, a fidelidade ao seu pensamento humanista cristão que teve sempre, em diversas fases, em vários regimes, mas muito fiel a si próprio”, destacou.

“Grande figura da democracia”, “‘grand seigneur’” e voto de pesar anunciado

“Adriano Moreira ficará como uma grande figura da democracia portuguesa, que o soube reconhecer e integrar”, escreveu o presidente da Assembleia da República no Twitter. “Foi a democracia que o fez deputado e líder partidário, e mestre de várias gerações. Por sua vez, ele ajudou a democracia a situar-se na continuidade histórica de Portugal”, acrescentou Augusto Santos Silva.

Para o presidente do PS, Adriano Moreira foi “uma referência da vida política portuguesa e um académico, um especialista em Relações Internacionais, em Segurança e Defesa Nacional, que fez escola e deixou obra relevante”. “Depois de uma colaboração influente com o regime anterior”, prossegue Carlos César em mensagem publicada no Facebook, “encontrou-se com o Portugal Democrático em que participou ativa e construtivamente”.

Luís Montenegro, presidente do PSD, descreveu no Twitter Adriano Moreira como “um ‘grand seigneur’ da academia e da política portuguesa”. “Deixa-nos um legado riquíssimo de pensamento sobre valores e princípios sociais. Expresso à sua família e ao CDS o nosso profundo pesar e solidariedade", acrescenta o líder social-democrata.

O ministro dos Negócios Estrangeiros apresenta as suas “condolências aos familiares e amigos de Adriano Moreira”. “Ao longo de muitas décadas teve sempre disponibilidade e abertura de espírito para pensar sobre o lugar de Portugal no mundo”, escreveu João Gomes Cravinho, também no Twitter.

Para André Ventura, a morte de Adriano Moreira “deixa-nos a todos mais pobres”. “Um verdadeiro senador da política portuguesa e um pensador incomparável. Esteve dos vários lados da barricada e a todos enriqueceu tanto”, acrescenta o deputado e presidente do Chega, que anuncia que o partido apresentará no Parlamento um voto de pesar.

“Adriano Moreira, tanto para dizer e seria sempre pouco. Um exemplo de serenidade na política, quando incompreendido e quando consensual”, escreve Rodrigo Saraiva, líder parlamentar da Iniciativa Liberal.

“Reconhecido pelos diferentes quadrantes políticos, Adriano Moreira tornou-se uma das personalidades históricas da política do nosso país. À sua família e amigos, as minhas mais sentidas condolências”, diz, por sua vez, a porta-voz e deputada única do PAN, Inês de Sousa Real.

O presidente da Câmara de Lisboa descreve Adriano Moreira como “exemplo excecional de quem até aos 100 anos de vida nos obrigou sempre a pensar”, agradecendo Carlos Moedas o “estímulo que até ao fim nos deu para nos sabermos encontrar como nação e como povo”.

Também Rui Rio reagiu à morte de Adriano Moreira, a quem presta sua “homenagem”, dizendo que “a integridade, conhecimento e valia intelectual” do ensaísta sempre o “impressionaram”. “Fui seu contemporâneo no Parlamento e, mesmo havendo nessa altura personalidades de elevada qualidade e respeitabilidade na Assembleia da República, ele sempre se distinguiu”, recorda o ex-líder do PSD.

Francisco Camacho, presidente da Juventude Popular, escreveu no Facebook que “um dos nossos maiores partiu”. “Foi um privilégio para mim, e seguramente para outros milhares, ter apreendido tanto com as palavras e o testemunho de Adriano Moreira. Toda a sua carreira pública, na política, na ciência e na academia, nos inspira, mas é pelos seus valores humanistas que continuará vivo entre nós”, acrescentou o líder da jota centrista.

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