Política

Bispos que defenderam investigação são agora o alvo de denúncias

16 outubro 2022 8:17

“Cada caso é uma derrota”, disse esta semana o presidente da CEP, D. José Ornelas

ana baião

José Ornelas propôs a comissão independente e Manuel Clemente sugeriu o nome de Pedro Strecht. Houve resistência

16 outubro 2022 8:17

Primeiro foi o cardeal-patriarca de Lisboa e, depois, o bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Os dois altos membros da hierarquia católica portuguesa foram — até agora — os únicos bispos acusados publicamente de encobrirem casos de abusos sexuais de menores na Igreja. É “fogo amigo”, resume um membro da Conferência Episcopal Portuguesa, para quem é cada vez mais claro que as denúncias contra Manuel Clemente e José Ornelas surgem do interior da própria Igreja e visam precisamente os bispos que propuseram e defenderam uma investigação global aos abusos cometidos, por membros da Igreja Católica.

O certo é que nem todos os bispos portugueses aceitaram de bom grado a indicação, feita pelo Papa Francisco em fevereiro de 2019, para que fossem criadas, em cada diocese, comissões de apoio e investigação de abusos cometidos no interior da Igreja Católica. Os bispos do Porto, Lamego, Santarém, Guarda e Funchal resistiram à ideia e expressaram, dentro da própria CEP, muitas reservas quanto à necessidade de criar esse tipo de estrutura. D. Nuno Brás, bispo do Funchal, assumiu publicamente que “em princípio” não criaria tal comissão “porque não existem casos que justifiquem isso”, e o bispo do Porto Manuel Linda chegou a comparar essa hipótese à da criação de uma comissão “para estudar os efeitos do impacto da queda de um meteorito na cidade”.