Montenegro não comenta declarações de Marcelo sobre abusos sexuais na Igreja. Mas diz que “todos os casos” merecem “investigação profunda”
Luís Montenegro
MIGUEL A. LOPES/LUSA
O líder do PSD sublinha não ser sua “função” pronunciar-se sobre o que diz o Presidente da República e acrescenta que na audiência desta tarde terão ambos “ocasião de falar de todos os temas que forem oportunos”
Luís Montenegro não quis fazer “nenhum comentário” sobre as declarações da véspera do Presidente da República, “até porque”, lembrou o líder do PSD, tem uma audiência esta tarde com Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado começou na terça-feira por dizer que 400 casos validados de abusos sexuais na Igreja em Portugal não representavam um número “particularmente elevado”. Posteriormente, criticado por todos os partidos, Marcelo Rebelo de Sousa viria a tentar emendar a mão a três tempos, sendo que na primeira declaração arredondou por baixo o número de casos: foram validados 424 testemunhos de abusos sexuais.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita ao Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, em Évora, Montenegro sublinhou não ser sua “função” fazer comentários sobre o que diz o Presidente da República. E acrescentou que na audiência com Marcelo Rebelo de Sousa terão ambos “ocasião de falar de todos os temas que forem oportunos”. O chefe de Estado está a ouvir esta quarta-feira os partidos no Palácio de Belém sobre a proposta do Governo do Orçamento do Estado para o próximo ano.
“O que desejo é que todas as situações que forem denunciadas sejam investigadas até à última consequência e nomeadamente à punição dos responsáveis, sejam eles quem forem, venham eles das proveniências que vierem”, afirmou Montenegro. E disse ainda que “todos os casos – e portanto do primeiro até ao último – são merecedores de uma investigação profunda, de um apuramento de responsabilidades absolutamente exigente, e todos aqueles que prevaricaram e prevaricam têm de ser punidos e penalizados”.
Perante a insistência dos jornalistas sobre os testemunhos validados, o líder social-democrata atalhou: “Não posso estar a diferenciar nenhum. São todos igualmente importantes e merecedores de investigação, de apuramento de verdade, de apuramento de responsabilidade e de punição.” “O crime de abuso sexual de crianças é um crime horrível, que repugna a natureza de todos, a natureza da organização social da nossa comunidade e, por isso, temos de ser absolutamente intolerantes com quem o pratica”, acrescentou.
Questionado sobre se não seria desejável que essa investigação decorresse sem interferência política, Montenegro respondeu: “Era o que faltava. Não é só essa. Essa e todas as investigações criminais têm como referência democrática não ter interferência política. Isso não é um exclusivo deste tipo de crimes. É de todos os crimes, sem exceção.” Deste modo, o presidente do PSD evitou pronunciar-se igualmente sobre os contactos de Marcelo Rebelo de Sousa junto de altos dignitários da Igreja relativamente a investigações em curso.
Após a audiência com o Presidente da República, em Lisboa, Montenegro regressa ao distrito de Évora, onde estará até ao final da semana.
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