Política

Abusos na Igreja e o recuo em três atos de Marcelo (sem pedir perdão): "infelizmente terá havido números muito superiores em Portugal"

Abusos na Igreja e o recuo em três atos de Marcelo (sem pedir perdão): "infelizmente terá havido números muito superiores em Portugal"
RODRIGO ANTUNES

Primeiro, o Presidente disse que 400 casos validados não representavam um número “particularmente elevado”. Depois, emendou o erro através de uma nota no site da Presidência da República. Para que não restassem dúvidas, repetiu a emenda em declarações à RTP. Depois, fez o mesmo ao microfone da SIC Notícias. Marcelo não percebe porque é que foi mal interpretado à tarde, e garante: a sua fé católica em nada interfere com a forma como está a lidar com este assunto

Marcelo Rebelo de Sousa garantiu esta terça-feira que “continuará a promover e apoiar todos os esforços” para apurar as responsabilidades nos casos de abusos sexuais no seio da Igreja Católica em Portugal.

“O Presidente da República tomou conhecimento da validação de 424 testemunhos de abusos sexuais na Igreja em Portugal, hoje anunciada pela Comissão criada pela Igreja Católica", pode ler-se no início de uma nota publicada no site oficial da Presidência da República.

O comunicado surge poucas horas depois de Marcelo ter desvalorizado o número de casos validados pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja. “Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado”, afirmou o Presidente aos jornalistas esta tarde.

Poucas horas, Marcelo tentou emendar a gafe: “O Presidente da República sublinha, mais uma vez, a importância dos trabalhos desta Comissão, muito embora lamente que não lhe tenham sido efetuados mais testemunhos, pois este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo Mundo”, lê-se na nota.

Assim, o chefe de Estado volta a explicar: “vários relatos falam em números muito superiores em vários países, e infelizmente terá havido também números muito superiores em Portugal", acrescentando que “espera que os casos possam ser rapidamente traduzidos em Justiça.”

Mas a emenda não ficou por aqui. Pouco tempo depois da nota escrita, já de noite e à porta do Palácio de Belém, Marcelo sentiu necessidade de entrar em direto na RTP para explicar oralmente a explicação que tinha acabado de dar por escrito: as suas palavras não foram de “desvalorização”.

"Para os milhões de pessoas que contactam com instituições religiosas, católicas, acho curto o número de 400 e tal. Se quer a minha convicção, acho que há muitos mais”, afirmou ao jornalista do canal público, apontando que não compreendia as críticas de que foi alvo durante a tarde, incluindo por parte dos partidos da oposição.

Claramente em contenção de danos, Marcelo voltou a reforçar que “considera qualquer caso muito grave”, lembrou que “não é a primeira vez” que fala no assunto, e rejeitou que a sua fé católica esteja a toldar o seu julgamento no que toca aos abusos na Igreja Católica. Aliás, lembrou que foi ele – com a sua “assinatura” – que enviou para o Ministério Público uma denúncia feita contra D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, por alegado encobrimento de um caso de abuso.

O assunto estava esclarecido, mas o recuo presidencial foi em três atos: “Já percebi que fui realmente mal interpretado. Não percebo bem porquê mas fui”, afirmou o chefe de Estado à SIC Notícias, também em Belém, já depois da intervenção na RTP. “As coisas são como são. Vivemos em democracia, as pessoas tem o direito de criticar", acrescentou, sublinhando que “respeita” a opinião de todos.

A 4 de setembro, numa entrevista à CNN Portugal, o Papa Francisco disse isto: "Não nego os abusos [sexuais na Igreja Católica]. Mesmo que fosse um só, é monstruoso, porque o padre e a freira têm de conduzir o menino, a menina a Deus e, ao fazerem isso, destroem-lhes a vida."

Nota: este texto foi atualizado pela última vez às 23h34.

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