Depois de ter falado 50 minutos num comício em Leiria, que marcou a rentrée política do PS, António Costa ainda foi ao jantar de arranque das jornadas parlamentares do PS deixar conselhos aos 120 deputados para o ano político que se avizinha. Trata-se da primeira sessão legislativa completa desde que o PS conquistou a maioria absoluta e, pesados os prós e os contras, Costa, o “otimista irritante”, só encontra um senão: é que, com maioria, o PS “leva pancada de todos os lados”; sem maioria, leva pancada de uns e é “tolerado” por outros.
Mas o bem que sabe compensa o mal que faz. E esse pequeno “contra” não faz mossa na conta final: “É muito melhor ter maioria absoluta do que não ter”, disse um António Costa que já governou de todas as formas e feitios. Começou por ir para o Governo sem ter sido a força política mais votada, depois ganhou as eleições mas teve de governar com o apoio do PCP e do BE, e, finalmente, conquistou em janeiro deste ano a maioria absoluta que sempre quis.
“Os portugueses não fizeram nenhuma reunião secreta no sábado à noite para decidirem como votar no dia seguinte, os portugueses votaram livremente”, disse, pedindo aos deputados que não tenham “vergonha” dessa maioria. Sempre que possível, disse, deve-se procurar o diálogo, mas quando não for possível, que vença quem tem mais votos. E quem tem mais votos, neste momento, é o PS.
Sublinhando o que tem dito sempre, que maioria absoluta não é poder absoluto, e que maioria absoluta é ter responsabilidade acrescida, Costa espicaçou os deputados do PS. “Somos uma maioria de diálogo, mas não somos uma maioria envergonhada. Não temos vergonha de ser maioria. Somos maioria porque os portugueses assim quiseram e nós respeitamos os portugueses”, reforçou, insistindo que “quando o diálogo não é possível, devemos exercer a maioria”.
Até porque a maioria “não dura sempre”, há que saber aproveitá-la. “Quando não se tem maioria levamos pancada de um lado e somos tolerados do outro, quando se tem maioria levamos pancada de todos os lados. Quem já era deputado na anterior legislatura, pode recordar os velhos tempos em que não se levava pancada de todos os lados, quem só é deputado agora pense que a maioria não dura sempre, por isso haverá um dia em que não levarão pancada”, ironizou.
Por fim, um último conselho antes de o jantar ser servido: o PS ganhou a maioria absoluta quando todos os “comentadores, analistas e sondagens” diziam que “eu estava cansado e que os portugueses estavam cansados do PS”. Não se verificou. Por isso, “pensem pela vossa cabeça, pensem o que é que o vizinho, os pais dos colegas dos filhos, ou o senhor ao lado na pastelaria pensam e o que querem para o país — porque são essas pessoas que temos de ouvir e servir, são essas pessoas que votam em nós”, disse antes de o jantar ser servido.
“Não vos sinto muito optimistas”, atiraria ainda António Costa, uma vez apelidado por Marcelo Rebelo de Sousa de “o optimista irritante”. Último conselho: da mesma forma que é melhor ter maioria absoluta do que não ter, também é melhor ser optimista do que não ser. “Digo-vos já que à saúde faz muito bem ser optimista…”.
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