Política

Guerra de robôs: o novo navio "revolucionário" da Marinha inventado por Gouveia e Melo

21 agosto 2022 8:06

Vítor Matos

Vítor Matos

Jornalista

O almirante criou o conceito de um “porta-drones” para “guerra robotizada” do futuro e convenceu o Governo a financiá-lo com €130 milhões do PRR. “É um navio revolucionário”, diz o chefe da Marinha

21 agosto 2022 8:06

Vítor Matos

Vítor Matos

Jornalista

O inglês Nicholas Pocock era um pintor setecentista de violentas batalhas navais, quando os inimigos se enfrentavam num perímetro que a vista podia alcançar. Se as batalhas navais hoje já não cabem numa tela, no futuro, um quadro de Pocock teria de representar um enxame de drones voadores e de pequenos submarinos, com o navio-mãe a controlar a guerra a centenas de milhas náuticas como se fosse um jogo de computador, comandada à distância por especialistas ou guiada por algoritmos de inteligência artificial. Não é ficção científica. Uma parte da guerra já se faz assim. Os robôs vão ser os próximos soldados. Na Marinha, serão os futuros marinheiros. E Portugal está a preparar a construção de um navio pioneiro com este conceito.

Henrique Gouveia e Melo, o almirante chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) — que se tornou célebre quando chefiou o processo de vacinação contra a covid-19 —, teve de “convencer muita gente”, do topo do poder político a empresas e universidades, para o Governo aceitar inscrever quase €130 milhões do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) para um tipo de navio que não existe. Nenhuma Marinha de Guerra tem um navio multifunções com o conceito que Gouveia e Melo inventou e deu a conhecer num ensaio em 2019, nos “Cadernos Navais”: “Este é um navio revolucionário. O próprio desenho e conceito é de um navio revolucionário”, destaca, enquanto fala com o Expresso das tecnologias mais avançadas, sentado na sala da biblioteca do Estado-Maior da Armada, forrada de livros antigos com lombadas de couro.