Política

IL propõe extinção de "mais de metade" das ordens profissionais e Chega quer estágios remunerados

Cotrim Figueiredo, líder dos liberais
Cotrim Figueiredo, líder dos liberais
JOSÉ SENA GOULÃO

Debate sobre ordens profissionais está marcado para dia 29. Projeto do PS retira alguma autonomia às ordens e proposta do PAN exige que estágios tenham salário

A Iniciativa Liberal entregou esta segunda-feira um projeto de lei que pretende extinguir “mais de metade” das ordens profissionais enquanto o Chega propõe que os estágios de acesso sejam remunerados e passem a ter um limite de um ano.

Retomando um ‘dossier’ que foi interrompido com o final da legislatura passada, os liberais voltam a submeter uma iniciativa legislativa com o objetivo de “extinguir mais de metade das ordens existentes” – mais concretamente 11 das 20 atuais - advogando que “ao longo dos anos, têm sido constituídas várias ordens, sem lógica nem critério, a não ser por motivos eleitoralistas de alguns partidos representados na Assembleia da República”.

“A IL olha para a existência de ordens de como algo benéfico para a sociedade nos casos em que a natureza da profissão exige uma prática continuada séria e certificada, relacionada diretamente com os direitos fundamentais dos cidadãos - o que não implica que haja exclusividade nessa certificação. Nos casos em que tal não se verifica, a IL defende que não devem existir ordens profissionais a colocar impedimentos ao acesso e exercícios da profissão”, refere o diploma.

Os liberais sublinham que “muitas ordens profissionais cuja existência é justificada têm abandonado o seu papel base e têm-se transformado em corporações de defesa dos interesses instalados nestas profissões, para prejuízo dos novos profissionais e, sobretudo, dos consumidores” e, por isso, para o partido “deve haver mais concorrência”, propondo “a revogação da norma que refere que a cada profissão regulada corresponde apenas uma única associação pública profissional”.

É também proposta “a abolição das regras profissionais que consubstanciam um obstáculo desproporcional e desnecessário à livre prestação de serviços, à liberdade de escolha de profissão e à iniciativa privada”.

“A Iniciativa Liberal acompanha a iniciativa legislativa já apresentada pelo PS que segue as recomendações liberais das organizações internacionais, constatando a ‘necessidade de separar a função regulatória da função representativa e de as mesmas serem dotadas de um órgão de supervisão independente, de forma a contribuir para uma melhor regulação e criar incentivos à inovação em prol dos consumidores’”, lê-se também no projeto.

O Chega propõe alterações à lei que estabelece o regime jurídico de criação, organização e funcionamento das associações públicas profissionais, nomeadamente que a duração máxima do estágio “não pode exceder os 12 meses, a contar da data de inscrição e incluindo as fases eventuais de formação e de avaliação” - atualmente são 18 meses.

O projeto, submetido ao parlamento na sexta-feira (17) – e com objetivos bastantes semelhantes aos apresentados pela ex-deputada não inscrita Cristina Rodrigues na anterior legislatura, que agora é assessora do Chega - defende também que estes estágios sejam remunerados.

No projeto, o Chega propõe uma alteração ao Decreto-Lei n.º 66/2011, de 01 de junho, “com o intuito de garantir a sua aplicação aos estágios que correspondam a trabalho independente”, dando como exemplo o caso dos advogados.

O partido refere que, apesar do decreto em causa “ter consagrado a obrigatoriedade do pagamento do subsídio mensal de estágio, este estabeleceu que se encontravam excluídos do seu âmbito de aplicação, nos termos do previsto no n.º 2 do artigo 1.º, os estágios que correspondam a trabalho independente”.

“Por isso, aquilo que se verifica é que algumas entidades pertencentes ao setor das profissões liberais autorreguladas têm recusado a celebração de um contrato de estágio e, em consequência, o pagamento de qualquer remuneração, alegando que estão em causa situações de trabalho independente”, apontam.

Fazendo referência aos advogados, o Chega sustenta que “a total ausência do pagamento de uma retribuição nestes casos coloca os estagiários em situação de enorme precariedade e instabilidade sendo obrigados a custear todas as suas despesas, nomeadamente com alimentação, transportes e formação, o que faz com que estes ainda tenham que pagar para trabalhar” e que “a situação é especialmente grave porque se trata de profissões em que o estágio é requisito de acesso ao respetivo exercício, sendo os estagiários forçados a aceitar estágios não remunerados para poderem ingressar na profissão”.

Em situações em que “os orientadores não dispõem de recursos económicos que lhes permitam contratar um estagiário e que este facto pode condicionar o acesso destes à profissão” e sendo esta situação “particularmente evidente no caso dos advogados estagiários” o Chega incumbe o Governo de “produzir a regulamentação necessária a criar uma medida de apoio aplicável aos estágios sob orientação da Ordem dos Advogados, ajustada às especificidades da profissão e com procedimento simplificado, prevendo logo que a compensação mensal ao estagiário não tenha um valor inferior ao valor do IAS [Indexante de Apoios Sociais]”, escrevem.

O debate sobre ordens profissionais está marcado para dia 29 e o PS já assumiu a vontade de concluir este processo antes das férias parlamentares. Os socialistas têm um projeto que mexe na autonomia das ordens e o PAN tem uma proposta que pretende impor o pagamento dos estágios profissionais.

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