Política

Sucessor de Rio escolhido a 28 de maio. Ribau Esteves e Pedro Rodrigues marcam posição no ataque a Montenegro

Ribau Esteves com Rui Rio no congresso de dezembro passado. Foto: Estela Silva/Lusa
Ribau Esteves com Rui Rio no congresso de dezembro passado. Foto: Estela Silva/Lusa

É oficial: o PSD aprovou a antecipação das eleições internas para 28 de maio. Mas com um pormenor: Rui Rio, ausente por ter testado postivo a Covid, continua "em plenas funções" para tomar decisões como a composição do Conselho de Estado ou a liderança da bancada parlamentar. "Quem é que havia de decidir senão ele?"

Sucessor de Rio escolhido a 28 de maio. Ribau Esteves e Pedro Rodrigues marcam posição no ataque a Montenegro

Rita Dinis

Jornalista

É tudo uma questão de semântica. Rui Rio não se demite, apenas propõe (e o partido aprova) a antecipação das eleições internas para o final de maio. A escolha de palavras foi cuidadosa quando, no final do Conselho Nacional do PSD que se reuniu esta noite em Ovar, o presidente da Mesa subiu ao púlpito para dar conta dos resultados aos jornalistas. É oficial, o PSD escolhe um novo líder no dia 28 de maio, mas até lá Rui Rio continua em "plenitude de funções", tanto estatutária como politicamente, e será ele a tomar todas as decisões relevantes do partido nos próximos dois meses. "Quem é que havia de ser senão ele?", atirou Paulo Mota Pinto.

"Não há nenhuma demissão formal. Foi apresentada uma proposta de antecipação das eleições, que foi aprovada por larga maioria, mas não houve nenhuma discussão estatutária profunda sobre essa matéria", disse Mota Pinto no final da reunião, admitindo que o tema "semântico" da demissão-ou-não-demissão de Rui Rio foi levantado dentro de portas mas não discutido a fundo. "Houve quem entendesse que a demissão estava implícita na marcação das eleições, mas o problema não foi discutido do ponto de vista estatuário", disse, sublinhando várias vezes que, tanto estatutariamente como politicamente, "o presidente está em plenas funções".

Em causa está o facto de, havendo eleições só no final de maio, Rui Rio ainda ser o presidente do partido durante os primeiros meses da nova legislatura, cabendo-lhe a ele decisões parlamentares diversas, como a votação do primeiro Orçamento do Estado ou a indicação de nomes do PSD para o Conselho de Estado ou para a liderança da bancada parlamentar. Na última legislatura, o PSD indicou os nomes de Pinto Balsemão e de Rui Rio para aquele órgão consultivo do PR e, agora, Rui Rio pode estar a preparar-se para fazer o mesmo, indicando-se a si próprio mesmo sabendo que vai deixar a liderança do partido a 28 de maio. Um dos conselheiros nacionais e líder da distrital de Coimbra chegou a apresentar um requerimento no sentido de pôr o Conselho Nacional a discutir a legitimidade de Rio para pôr a mão nesses dossiês, mas o requerimento foi indeferido e não foi sequer discutido. Para Mota Pinto não há dúvidas: é Rio quem tem a legitimidade total para tomar essas decisões.

Candidatos, assumam-se

Sem Rui Rio, sem Luís Montenegro, sem Miguel Pinto Luz, sem Paulo Rangel, o Conselho Nacional do PSD reuniu-se esta noite em Ovar apenas para aprovar o calendário. Apesar de uma pequena tentativa de última hora para antecipar em uma semana, os conselheiros aprovaram a proposta da direção sem sobressaltos: eleições a 28 de maio, congresso a 1, 2 e 3 de julho. Que comece o processo eleitoral.

Nem duas horas foram precisas para se chegar ao desfecho mais pacífico da história recente dos Conselhos Nacionais do PSD. A reunião começou pelas 21h30 e pelas 23h já estava a entrar na fase das votações. Pouca discussão numa reunião apenas agitada por uma divergência sobre a data para o pagamento de quotas (que foi alargada em mais 11 dias).

Na ausência dos supostos candidatos a líder, Ribau Esteves, presidente da câmara de Aveiro, e Pedro Rodrigues, que também mantém o tabu sobre uma candidatura, foram os únicos que marcaram posição fazendo críticas audíveis ao "triste silêncio" em que mergulhou o PSD. Um criticou os protocandidatos por representarem o passado e "esconderem o jogo" numa altura difícil do partido, não aparecendo sequer no Conselho Nacional, e o outro criticou o facto de o processo de escolha do novo líder estar a ser encarado como se de uma "fila do talho" se tratasse: já se sabe de antemão quem vem a seguir.

Sem Rui Rio na sala, Ribau Esteves disparou críticas contra tudo e todos, acertando em cheio em Luís Montenegro. A primeira crítica foi ao partido em geral, que decidiu fazer a reunião mesmo sem a presença de Rui Rio, que testou positivo para a Covid-19 esta segunda-feira; depois atirou contra os que representam o "passado", não são "livres" e "independentes" (leia-se, maçonaria) e andam "escondidos" desde a noite das eleições não se chegando à frente para discutir o futuro do partido. Leia-se, Luís Montenegro.

"Anda gente escondida, e se o PSD continua a fazer jogo escondido leva um mau caminho. Os que se vão apontando como líderes quase certos são um retrocesso grave e este silêncio de mês e meio é muito grave para o PSD", disse o autarca, colando Luís Montenegro ao passado. "Luís Montenegro pertence ao passado do PSD não é uma carta nova, livre, inovadora", disse.

Depois, críticas às alegadas ligações de Montenegro à maçonaria. "É muito importante a independência absoluta do PSD em relação aos que se alimentam de sociedades que não são conhecidas", disse, defendendo que os candidatos ao PSD devem fazer campanhas que "não dependam financeiramente de ninguém".

E, por fim, uma crítica a Miguel Pinto Luz. "Ele hoje até decidiu estar na Polónia ou na Roménia a fazer coisa nenhuma em vez de estar aqui a trabalhar", atirou, criticando a deslocação feita pelo vice-presidente da câmara de Cascais à fronteira com a Ucrânia, em missão humanitária, no dia em que o PSD se reúne para discutir o futuro. A crítica estendeu-se aos restantes ausentes, mesmo os que não têm lugar fixo no Conselho Nacional, como é o caso de Luís Montenegro: "Todos os que querem ser candidatos a líder deviam estar aqui, e podiam vir como observadores, é do futuro que estamos a falar".

"Escolha do líder não pode ser encarada como a fila do talho"

Também Pedro Rodrigues, que esta segunda-feira anunciou estar a ponderar uma candidatura, manteve o tabu. "Não sou um político de bancada, no momento em que entender que sou o militante do PSD em melhores condições para liderar o partido e restaurar a confiança dos portugueses no PSD avançarei", disse, rejeitando dizer se esse momento tinha chegado. "Vamos ver". Mais importante do que datas e nomes, Pedro Rodrigues entende que o partido deve "afirmar uma estratégia". E deve abrir o debate e a reflexão sobre o caminho a seguir.

Dentro de portas, ao que o Expresso apurou, Pedro Rodrigues fez uma intervenção a pedir isso mesmo - uma reflexão séria sobre as causas que conduziram ao "divórcio" do PSD com a sociedade - e a apontar dois caminhos: ou mais do mesmo ou a "refundação do partido", sendo que o primeiro caminho poderá conduzir o PSD a um patamar de irrelevância.

Para Pedro Rodrigues, os problemas do PSD não desaparecem com a saída de Rui Rio nem a escolha do novo líder pode ser encarada como "a fila do talho" em que "já se conhece de antemão quem será o próximo".

Mantendo o tabu sobre uma eventual candidatura sua, e depois de ter dito aos jornalistas que não será um "político de bancada", o antigo líder da JSD defendeu que o PSD não pode ficar à espera de um "líder providencial que resolva os problemas estruturais" do partido. É preciso uma reforma global do PSD para voltar a ligar o partido aos portugueses, defendeu, avisando que, se nada for feito, o PSD pode cair na mesma armadilha onde cairam "vários partidos tradicionais europeus que foram perdendo a influência social e política".

Numa intervenção crítica, o conselheiro nacional que apoiou Paulo Rangel na última corrida interna apelou ainda a que o PSD refletisse sobre a razão pela qual surgiram dois novos partidos à direita, arriscando uma resposta: foi o PSD que deixou de representar setores fundamentais da sociedade portuguesa e foi isso que levou ao crescimento do Chega e da IL. As críticas, contudo, ficaram no ar. Curto e rápido, o Conselho Nacional terminou com o tiro de partida finalmente lançado: que comece mais uma corrida.

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