No primeiro caso, os dois partidos mais votados nas autárquicas (PS, com 32,45%, e PSD, 31,71%) ficaram empatados em número de mandatos (três), tendo o Chega conquistado um e 11,24% da votação. Ou seja, o Entroncamento é um daqueles casos em que o partido de Ventura poderá fazer a diferença. E fê-lo na votação do orçamento, que decorreu no final de novembro. O vereador do Chega, Luís Forinho, juntou-se aos socialistas na aprovação do orçamento da autarquia liderada pelo PS, enquanto os três vereadores do PSD se abstiveram. Aliás, Forinho é acusado pelos sociais-democratas de ter feito uma aliança com os socialistas. Em declarações ao Expresso, o vereador do Chega rejeita a acusação: “Isso é o que eles dizem. Não tenho aliança nenhuma. Não gosto do PS, combato ferozmente o PS, não estou nem um pouco de acordo com a ideologia do PS mas, neste momento, é o PS que está a gerir a câmara.” E lamenta o que apelida de “azedumes do PSD”.
Questionado sobre se a direção nacional do Chega lhe deu “instruções” relativamente àquele que deveria ser o seu sentido de voto, Forinho diz que não, “de forma alguma”. No entanto, reconhece que “antes de tomar qualquer decisão importante ou praticamente todas as decisões” se reúne com a presidente da concelhia, que, por sua vez, está “permanentemente em contacto” com a presidente da distrital. Se há coisa que respeita, garante, é a “hierarquia”, até porque foi “militar muitos anos”. E foi com base no “aconselhamento” e “acompanhamento” que diz receber de ambas que tomou “a decisão irrevogável” de aprovar o orçamento para o próximo ano. Uma decisão que o deixou “perfeitamente tranquilo” e até “honrado”. “Nunca me perdoaria se bloqueasse o investimento que vai ser feito na cidade”, acrescenta.
Se não aprovasse os projetos do PS que considera terem “mesmo interesse para a população”, estaria a ser “hipócrita” e poria o seu lugar à disposição. “Não estaria lá a fazer nada. Se é só para dizer não ao PS, estou ali a fazer uma figura de fantoche, o que se o André [Ventura] me conhecesse, entenderia que não é de forma nenhuma a minha posição”, insiste. Com a abstenção do PSD, a aprovação do orçamento ficou mesmo nas suas mãos, e Forinho não está arrependido. Mas também houve dois pontos de que não abdicou, garante: “a segurança e a saúde dos nossos desportistas (não tínhamos um único desfibrilador)” e “as câmaras de videovigilância nas zonas de maior perigo”. “E se eu não aprovasse este orçamento, a esquadra ficava outra vez parada por falta de financiamento”, diz ainda.
A sua postura leva-o a ser “baleado” pela esquerda e pela direita, desabafa. Mas acrescenta que não poderia “bloquear um projeto desta envergadura só pelo gosto e pelo prazer de algumas pessoas que vivem da política”. Ele assume-se como “um aprendiz nesta vida”, pelo que não entra em “jogos”, nem mesmo em “embates políticos”, porque “nenhuma força sai a ganhar, muito menos a população”. O que pretende verdadeiramente é que o Entroncamento deixe de ser conhecido pelos seus “fenómenos” e passe a ser “uma cidade de futuro” e se, para isso, tiver de aprovar projetos do PS e do PSD, irá fazê-lo. “Vou aprovar todos os projetos até ter ordem em contrário do meu partido. No dia em que o meu partido me proibir de o fazer, não estou a fazer nada na câmara e demito-me das minhas funções”, promete. Em rigor, não seria o primeiro a fazê-lo. O vereador eleito pelo Chega no Entroncamento foi Diamantino Graça, que renunciou pouco depois das autárquicas porque, segundo disse à agência Lusa, “aconteceu algo grave”. Sem especificar, acrescentou que não consegue “lidar com a mentira, as ameaças e a coação”. Para o seu lugar saltou Forinho, o número dois da lista.
“Não queremos fazer oposição só porque sim”
Em Sintra, o orçamento municipal ainda não foi aprovado mas está bem encaminhado. Na terça-feira, Nuno Afonso, vereador eleito pelo Chega e vogal da direção do partido, votou favoravelmente “submeter à deliberação da Assembleia Municipal os documentos previsionais para o ano de 2022”. E está agora a preparar com os três deputados municipais eleitos a discussão na Assembleia, que ocorrerá ainda este mês. A autarquia sintrense também é liderada pelo PS e a governação é apoiada pelo único vereador comunista eleito, pelo que os socialistas não precisam do voto do Chega. Mas Nuno Afonso garante ao Expresso que não irá “obstaculizar coisas que estão bem feitas”.
Nas autárquicas, o PS conseguiu 35,29% da votação e cinco mandatos, e a grande coligação de direita, que incluiu PSD, CDS e PPM, entre outros, 27,52% e quatro mandatos. Tanto o Chega como a CDU conquistaram um mandato, com 9,08% e 9,02% dos votos, respetivamente. Não sendo um partido decisivo na governação de Sintra, o Chega poderá ser chamado a desatar alguns nós e a votação orçamental pode muito bem ser um deles. “Não queremos fazer oposição só porque sim ou para sermos do contra. Queremos fazer uma oposição séria, construtiva e pela positiva. Algumas das nossas bandeiras estão a ser incluídas nas grandes opções do plano e se a câmara implementar, como se compromete, medidas que são fundamentais para nós, nesse caso vamos apoiar”, diz o vereador sintrense.
E que medidas são essas? A instalação de câmaras de videovigilância, a atração para o concelho de polos universitários (primeiro a Universidade Católica, agora o ISCTE), a substituição da iluminação por LEDs, “sobretudo na zona histórica”, por causa “da zona do Parque Natural e da nidificação das aves”, a maior aposta em grandes parques urbanos em vez de ciclovias, elenca. “Falta a questão do combate à corrupção e das medidas anticorrupção que vamos propondo.”
Não tendo ainda fechado o seu voto no orçamento, o vereador do Chega diz-se “muito satisfeito” por ver a câmara a acolher as suas propostas. E não, também não houve qualquer contacto da direção nacional do partido, da qual também faz parte como vogal, para definir em que sentido deverá votar. “Sabemos perfeitamente quais são as diretrizes do partido e não faremos acordos com ninguém”, sublinha Nuno Afonso. Quanto ao resto, vai decidindo se apoia ou não “medidas avulsas”, à semelhança do que faz o presidente do partido na Assembleia da República: “Às vezes, há propostas do Bloco de Esquerda que fazem sentido e ele vota a favor. É assim que vamos fazer oposição em Sintra.”