“Não é minimamente aceitável.” Rio ataca Marcelo por receber Rangel antes dos próprios partidos
TIAGO MIRANDA
Se Marcelo recebeu Rangel para falarem sobre o calendário das legislativas, então "não é minimamente aceitável". Rui Rio volta a atacar PR e pressiona: pode ouvir partidos todos num só dia e dar logo início ao período de 60 dias até às eleições
Se, na terça-feira, à saída do debate do Orçamento do Estado, Rui Rio foi apanhado de surpresa quando foi questionado pelos jornalistas sobre o facto de Paulo Rangel ter sido recebido em Belém, esta quarta-feira, à chegada ao plenário, já tinha coisas para dizer: não é "minimamente aceitável" o Presidente receber um candidato à liderança de um partido antes de ouvir os próprios partidos, sobretudo quando o que terá estado em causa na conversa foi o calendário das legislativas antecipadas.
"Se o Presidente da República até ouve primeiro um candidato de um partido antes de ouvir os líderes dos partidos, se assim for, peço desculpa, tenho o máximo respeito pelo Presidente da República e por Marcelo Rebelo de Sousa, mas tenho de discordar frontalmente de uma coisa destas. Não é minimamente aceitável que o chefe de Estado receba e possa combinar uma coisa dessas com o líder da oposição interna de um partido", disse aos jornalistas antes de entrar no hemiciclo para o segundo e último dia de debate do Orçamento do Estado - dia em que o Orçamento deverá chumbar e desencadear com isso o processo de dissolução da Assembleia da República.
Rui Rio diz que até já olhou para a Constituição da República e, confirmando-se o chumbo do orçamento e confirmando-se o cenário de dissolução da Assembleia da República, então as eleições legislativas têm de ser convocadas num prazo máximo de 60 dias. "Se a AR fosse dissolvida a 1 de novembro, significa que as eleições tinham de ser até 1 de janeiro", disse, defendendo que as legislativas devem ser o mais depressa possível, respeitando apenas condicionantes relacionadas com o período do Natal e passagem do ano.
Ou seja, o PR não deve atender a condicionantes do tipo reorganização interna dos partidos. Isso, no seu entender, é "nada de especial", um pormenor, "qualquer coisa inventada", que o Presidente não deve ter em conta. "Se a condicionante for as eleições nao poderem calhar no Natal, reconheço isso. Outra coisa é empurrar, empurrar, empurrar, não por nada de especial mas sim por qualquer coisa inventada ou para interferir ou condicionar o futuro do país a uma situação de um partido", disse.
Para Rui Rio, o facto de o PSD ter eleições internas marcadas para 4 de dezembro não deve ser tido em conta no calendário eleitoral nacional sobretudo porque "o PSD tem um presidente, que sou eu, que explicou ao Conselho Nacional que isto poderia acontecer com um alto grau de probabilidade". "Não quiseram ouvir, quiseram impor o que taticamente lhes parecia dar mais jeito...", azar.
Quer isto dizer que, deixando a crise política de ser apenas uma hipótese e passando a ser um facto consumado, Rui Rio vai voltar a pedir ao partido o adiamento das diretas? Não disse. Só a partir de amanhã, depois de chumbado (ou não) o Orçamento falará sobre isso.
"Fui ao Conselho Nacional explicar por a + b que o partido não devia ter marcado diretas porque podia haver uma crise, para os meus adversários internos não havia crise nenhuma. São todos grandes analistas politicos, mas depois é o que se vê. Mesmo que o OE não reprovasse a razão estava do meu lado, este ano é a sério, não é nenhum teatro da parte do BE e do PCP. Expliquei isso. Agora passamos para outra etapa, que começa amanhã: o que fazer com um Orçamento reprovado. Cada coisa a seu tempo", disse apenas.
Para já, apenas a crítica a Marcelo por ter recebido Rangel antes de ouvir os líderes dos partidos. Quanto à audiência em Belém, só não a pediu porque ela terá lugar nos trâmites normais. "O PR vai chamar os partidos todos, e penso que o fará rapidamente e num dia só. Bate certo com o que o PR disse: não havendo OE as eleições deviam ser o mais depressa possível. E eu estou de acordo". A pressão está no máximo.