Política

"Tremenda injustiça" de Sócrates: Costa não é um "traidor", diz Ana Catarina Mendes

Ana Catarina Mendes dramatiza, mas apela à serenidade nas votações desta quinta-feira
Ana Catarina Mendes dramatiza, mas apela à serenidade nas votações desta quinta-feira
Alberto Frias

A líder parlamentar do PS defendeu a liderança dos ataques violentos de Sócrates, mas sem escalar na resposta. Recomendou "recato", disse ser "grave" a fragilidade da acusação e reconheceu que uma condenação vai gerar desconfianças "legítimas" dos cidadãos em relação aos políticos

"Tremenda injustiça" de Sócrates: Costa não é um "traidor", diz Ana Catarina Mendes

Vítor Matos

Jornalista

"Canalhice", "repugnância" ou "cobardia moral". Foi assim que José Sócrates reagiu às críticas de Fernando Medina, arrumado como "essa personagem" às ordens do líder do partido que lhe "mandou dizer isso", e cujo nome também não pronunciou na entrevista desta quarta-feira à TVI. Hora e meia depois, Ana Catarina Mendes, líder parlamentar e ex-secretária-geral adjunta, comentou as declarações do antigo primeiro-ministro sem escalar na troca de acusações - mas recomendou "recato" -, no programa "Circulatura do Quadrado", no mesmo canal de televisão.

Perante a violência das palavras de Sócrates, Ana Catarina Mendes pouco mais além foi disto: "É uma tremenda injustiça o ataque feito à direção do PS e a António Costa, considerado um traidor". E acrescentaria, sem equivaler o seu tom ao de Sócrates, que "o PS nunca apagou a história do seu partido, e sabe que José Sócrates deu a primeira a única maioria absoluta ao PS".

A seguir, justificou o mantra do "à justiça o que é da justiça...", que Sócrates qualificou como "silêncio", por António Costa entender que, apesar de o processo correr há sete anos, é preciso deixar a "justiça fazer o trabalho que tem de fazer". Ao contrário de Fernando Medina - que esta terça-feira fez um dos ataques públicos mais violentos a Sócrates por parte de um socialista -, a líder parlamentar não fez qualquer juízo de valor sobre os factos da acusação ou o comportamento ético do ex-secretário-geral. "Acho que os temos em que o José Sócrates se dirigiu a pessoas que enunciou e outras que não enunciou são injustas e Sócrates sabe que são injustas".

Ana Catarina Mendes disse que percebia a necessidade de neste momento dar uma entrevista, mas alegou haver "momentos em que é preciso recato e o recato aconselhava a que não tivéssemos aqui também uma nova sessão de justificação, a explicar coisas". Mensagem para dentro do partido?

Até porque, segundo a líder parlamentar, "o processo está longíssimo de estar acabado", e insistiu: "Honestamente, acho que o ataque ao PS não é correto. Fui secretária-geral adjunta, recebi a carta de desfiliação de José Sócrates, e em momentos da vida do partido tentei contactar José Sócrates...". Mas não explicou porque não conseguiu efetivar esse contacto.

Quanto ao processo, considera "grave" se a "acusação caiu" por ser "frágil", o que classificou como "uma fragilidade, não para o Ministério Público todo", mas para "quem dirigiu a investigação e deduziu a acusação", ou seja a equipa de Rosário Teixeira (mas também Joana Marques Vidal?). Para Ana Catarina Mendes - que ficou marcada pelo processo Casa Pia, por ser casada com Paulo Pedroso - trata-se de um motivo de "desconfiança" para os cidadãos e uma "evidente fragilidade para a democracia".

No caso de a acusação se confirmar, como estamos a falar de um ex-primeiro-ministro, isso faz com que "os cidadãos tenham a legítima necessidade de olhar para os partidos também com desconfiança", reconheceu, na declaração em que foi mais longe quanto a uma potencial condenação de José Sócrates. "E aí acho que os partidos têm de fazer o seu trabalho: quem tem responsabilidades públicas tem um dever acrescido perante a sociedade".

Embora reconheça que este caso, tal como a resposta da justiça, "é combustível para o populismo", sublinhou que a estratégia nacional de combate à corrupção, que o Governo acaba de lançar, tenta fazer acertos no sistema. É "classificada como insuficiente para alguns, porque acham que é preciso deitar abaixo o sistema", mas não é essa a perspetiva do PS. Também disse ser contra o fim do Tribunal de Instrução Criminal e admitiu que é preciso "olhar para o TIC e perceber que são precisos mais meios e mais juízes". E deixou um recado a João Leão: "Não se percebe muito bem quanto dinheiro foi colocado no Orçamento do Estado para que funcione" a Entidade da Transparência, uma crítica que o Tribunal Constitucional tem feito.

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