Política

Suzana Garcia. "Deve haver mais fiscalização ao RSI. Se isto é ser populista, então sou populista"

Suzana Garcia. "Deve haver mais fiscalização ao RSI. Se isto é ser populista, então sou populista"

Não a incomoda o facto de o PSD admitir que não a consideraria para candidata a deputada porque a "missão" que tem é mudar a Amadora. Defende a castração química de pedófilos em moldes que diz serem diferentes dos defendidos pelo Chega, mas admite que não leu o projeto de lei daquele partido. E gostava de ver o tema ser debatido na Assembleia. Rejeita ser racista mas admite ser populista se populista for dizer que o RSI deve ser mais fiscalizado para não haver abusos. Quer ganhar a câmara e não rejeita dialogar com quem quer que seja no dia seguinte: incluindo o Chega. Aliás, não percebe que haja cercas sanitárias à direita quando não houve à esquerda com a geringonça. A primeira entrevista à candidata do PSD à câmara da Amadora, na íntegra

Suzana Garcia. "Deve haver mais fiscalização ao RSI. Se isto é ser populista, então sou populista"

Rita Dinis

Jornalista

Suzana Garcia. "Deve haver mais fiscalização ao RSI. Se isto é ser populista, então sou populista"

Ana Baião

Fotojornalista

Esta quarta-feira, ouvimos o secretário-geral do PSD anunciar o seu nome como candidata à câmara da Amadora em conf imprensa, mas também o ouvimos dizer que se fosse candidata a deputada poderia não passar no crivo de análise do PSD. Gostou de ouvir isto?
É-me absolutamente diferente. Eu tenho um objetivo que é a Amadora, foi para isso que fui convidada e foi isso que aceitei. O demais não me concerne.

Não se enquadrava como deputada numa bancada como a do PSD?
Nunca equacionei isso, nao perspetivo sequer no meu horizonte. O meu objetivo é a Amadora. Esse provavelmente seria um problema do PSD caso alguém viesse a propor o meu nome. Como não é uma realidade concreta…

Não se sente desconfortável, então, por usar a sigla de um partido que a acha apta para um cargo de candidata a uma câmara mas não a apoiaria se fosse para deputada?
Quem é que disse que não apoiaria? O senhor deputado [José Silvano] não disse que não me apoiaria, disse que seria difícil passar pelo crivo, e isso não é o mesmo do que não passar. Não me incomoda de todo, passei no crivo mais importante que era este: entrar na Amadora como candidata.

"Rui Rio está a ser alvo de uma super-estrutura do comentariado político nacional, avençada pelos partidos da esquerda"

Diz que é simpatizante do PSD e que sempre votou no PSD, mas também já disse que PS e PSD são duas faces da mesma moeda. Quais são as diferenças?
E são. Mas duas faces da mesma moeda não são a mesma coisa, há uma cara e uma coroa. São duas faces da mesma moeda porque são estes dois partidos que garantem os valores nos quais se revê o povo português. São a única solução que se pode figurar na minha cabeça como solução política para os problemas de Portugal e aspirações do povo português. Tudo o mais, para mim, são meros exercícios que só têm relevância quando estes dois partidos centrais de alguma forma falecem. Foram essas pequenas falências que permitiram abrir caminho nos últimos 10 anos aos extremos - Bloco de Esquerda, Chega e outros que aí venham. Eu não creio que o povo se reveja nas extremas. O povo português é sensato e moderado, mas o voto dessas extremas é de descontentamento. Porque é que surgiu o BE em Portugal? Surgiu porque houve uma falência do discurso para o eleitorado do PS e do PCP.

Inclui o PCP no espectro dos moderados? Estava a falar nos extremos dando o exemplo do BE e do Chega.
O PCP tem uma forte componente de luta contra diversos anti-valores da nossa sociedade democrática. Mas foi também uma infeliz falência do PCP que permitiu a existência do BE. Mas eu não creio que o povo portugues se reveja nestas alternativas extremadas. Revê-se apenas enquanto voto de protesto. Mas temos de fazer essa distinção: um cidadão português que se revê de facto naqueles valores, ou um cidadão que acha que ao votar naqueles contra-valores eles poderão ser uma pedrada no charco quando há falências no eixo da governação. Eu sempre votei PSD porque na minha cabeça nunca houve alternativa na direita.

E o CDS incluiu-se nesse arco de governação?
O CDS tem sido um importante contributo, tal como o PCP, nesta dualidade de governação entre o PS e o PSD.

Já há conversas com o CDS no sentido de haver uma coligação pré-eleitoral na Amadora?
Só ontem é que fui indigitada formalmente como candidata pelo PSD, só a partir de hoje é que irei iniciar essas conversas. Mas não rejeito de todo uma coligação se isso servir os interesses do povo da Amadora.

E uma coligação pós-eleitoral com o Chega?
Não está no meu horizonte político neste momento, mas se fosse importante para o povo da Amadora eu até fazia coligação com o PS. Era preciso é que eles percebessem os nossos valores e estivessem disponíveis para aceitar a rutura que nós preconizamos com aquilo que têm idealizado para a Amadora - e que é manifestamente insuficiente. Estamos a olhar para um concelho que é governado pela esquerda há 42 anos. Um mandato às vezes não é suficiente (embora haja presidentes de câmara que num mandato fizeram muito, como Isaltino Morais que já ali ao lado fez um trabalho extraordinário).

Isaltino Morais é para si um autarca modelo?
Com certeza. E posso-lhe falar também de Cascais. Esta hegemonia de esquerda é que é asfixiante, e o poder instalado não pode achar que já fez o suficiente e que o povo da Amadora está satisfeito. Temos 24 anos de governação socialista e não há diferença de há 20 anos para cá. A Amadora tem direito de perguntar porque é que Cascais está como está. E porque é que Oeiras está como está. Nem falo de Oeiras porque é o concelho modelo do país inteiro. Mas porque é que Oeiras chegou tão longe e a Amadora não, quando partiram do mesmo ponto? A Amadora tem direito a um projeto de felicidade que era aquilo que Francisco Sá Carneiro tanto defendia.

O que acha de Rui Rio enquanto líder do partido?
Acho que ele passa por um momento trágico na democracia portuguesa em que somos alvo de uma super-estrutura do comentariado político nacional, avençada pelos partidos da esquerda, que não estão abertos a uma discussão honesta do ponto de vista intelectual, mas sim a um derrube deste líder só porque é o líder do maior partido da oposição. E vale tudo para isso. Aliás, os ataques que me são feitos são com esse objetivo. Porque sabem que o meu objetivo é ir conquistar votos à esquerda mas também ir resgatar votos perdidos que estão no Chega. Eu compreendo que isso cause transtorno a uma certa esquerda que não sabe o que é a Amadora, que vive em apartamentos no Chiado e não sabe o que é a Cova da Moura. Não sabe quem é que fazia a melhor cachupa, a melhor sandes de omelete na Cova da Moura. Sabe que na Cova da Moura não passam autocarros? É vergonhoso. Eu tinha uma empregada e tinha de a ir pôr lá, por isso é que conheço a Cova da Moura.

E o que propõe para mudar essa realidade dos bairros sociais?
Tenho muitas propostas. Todos os concelhos limítrofes da Amadora já erradicaram as barracas - e eu tenciono resolver o problema das barracas mas não com realojamentos desumanos. Porque há laços sociais e familiares que são importantes de preservar. O meu objetivo não é maquilhar. A integração dessas pessoas vai ser feita com respeito pelo tecido social que já existia nos locais de onde elas vinham.

Chega. "Estão a ser criadas cercas artificiais à direita mas não à esquerda. Estão com medo?"

Mas falávamos de uma eventual coligação pós-eleitoral com o Chega. Imaginando que ganhava a câmara da Amadora, mas não com maioria, não rejeitaria à partida uma coligação pós-eleitoral com o Chega para governar na câmara?
Eu faço isso com qualquer partido que me permita dar ao povo da Amadora o que ele merece. Eu nao sou política, nao tenho aspirações políticas. Acho que é importante trazermos para a política quase um Cincinato, para não haver este divórcio entre o povo e quem o governa. Estou-me pouco importando para os formalismos políticos. Ser presidente da câmara é uma missão, não é uma profissão.

Mas haverá linhas vermelhas através das quais poderá ou não coligar-se, ou dialogar, com este partido ou aquele.
Quais são as linhas vermelhas que o PS tem tido até agora quando se mancomuna com uma extrema-esquerda como o BE, ou quando precisa do apoio do PCP?

Pergunto-lhe a si. Que linhas vermelhas há para si?
Para mim muitas foram ultrapassadas nesta geringonça. O meu objetivo na Amadora é arranjar soluções para que aquilo deixe de ser um território depressivo e passe a ser um projeto de futuro. Eu não tenciono fazer da Amadora um Mónaco, mas tenciono fazer da Amadora uma Singapura, porque é possível. Não tem de ser uma inevitabilidade continuar a ser a Venezuela no meio de Cascais, Oeiras ou Lisboa. Nestas duas semanas eu estive a ver os problemas que havia na Amadora e a estudar soluções, é só isso que me interessa. Quando apresentei este projeto pensei que iria ser confrontada sobre os problemas da Amadora, nunca imaginei que iria estar a ser confrontada com comentários sobre o meu tom de voz, a minha roupa, as minhas mamas. Ou se sou racista ou a favor da castração química. Acha que isso tem relevância na Assembleia Municipal?

É o seu pensamento político.
E o que é que isso interessa?

O seu pensamento político não interessa?
Não é isso. O que é que interessa aos munícipes a questão da castração química? O que interessa aos munícipes é a lei da saúde mental, interessa-lhes que, quando têm um problema psiquiátrico, possam ir para o Amadora-Sintra e não para um centro de saúde. A Amadora tem, em termos de rácio de profissionais de saúde, comparativamente com AML, valores muito baixos. Isso é que interessa.

Então o que lhe interessa é a Amadora, não interessa o partido pelo qual concorre?
Se não me interessasse o partido pelo qual estou a concorrer à Amadora eu teria aceitado todos os convites que me foram feitos até agora -- que não só do Chega. Eu sei que me querem colar ao Chega. Mas todos os partidos da direita me convidaram para diversos projetos políticos até hoje. Só digo do Chega porque o próprio assumiu que me convidou, não tenho culpa que os outros não o assumam. Todos me convidaram e só aceitei o PSD porque é o único no qual eu revejo o meu ideário político.

Mas acha que não tem de haver uma cerca sanitária ao Chega? Por exemplo, se o PSD precisasse do Chega para governar no país, como aconteceu nos Açores, poderia fazê-lo?
Essa cerca só funciona para a direita? Essas cercas que querem colocar só funcionam para a direita? Isso deixa-me perplexa. Essas barragens que estão a ser artificialmente colocadas ao PSD não as colocaram à esquerda. Estão com medo? Na Amadora sei que sim.

Compara o Bloco de Esquerda e o PCP ao Chega?
Não ponha o Bloco de Esquerda no mesmo sítio que o PCP. Eu tenho um respeito pelo PCP que não tenho pelo BE. Não se compara o património contributivo do PCP para a pátria portuguesa com o Bloco de Esquerda.

Com que líder do PSD se identifica mais?
Todos os líderes que passaram pelo PSD são responsáveis por aquilo que é hoje, não digo que uns são melhores do que outros. Cada um deu o seu contributo.

Nenhum a inspira mais?
O que me inspira é obviamente o líder, o primeiro de todos: Francisco Sá Carneiro. Quando eu cheguei a Portugal eu bebi daqui, a minha família materna é quase toda do PSD. As premissas de Sá Carneiro para Portugal são mais urgentes do que nunca.

Falou com Rui Rio neste processo de escolha enquanto candidata?
Se eu falei ou não é entre mim e ele. Se ele quiser falar sobre esse assunto eu falarei, mas neste momento estou muito tranquila e satisfeita com este processo todo. Eu vou para isto mesmo como uma missão. Quero poder morrer daqui a 30 anos e olhar para trás e ver que fiz a diferença com a visibilidade mediática que tive.

Uma promessa: mudar-se de Cascais para a Amadora

Vou só voltar atrás porque diz que a incomoda ser colada a André Ventura e diz que rejeitou sempre os seus convites. O que é que a incomoda ao certo?
O meu problema não é o André Ventura, é o que está por trás do André Ventura.

Conhece-o bem?
Conheço-o. Não o conheço bem, quem o conhece bem são os pais dele e a esposa dele. Mas conheço. E o meu problema nao é com ele, é com o que está por detrás dele e que eu sei que é difícil de controlar. Mas é também com outras questões. O problema da segurança é-me muito caro. As forças e serviços de segurança são uma vertente muito importante no equilíbrio da sociedade e isso revela-se nos meus projetos para a Amadora. A Amadora é o concelho menos seguro. E num concelho onde as forças de segurança são sujeitas às maiores atrocidades, eu vou construir no sítio menos seguro a esquadra mais importante que algum dia viu. Há agentes que garantem a ordem e a paz pública da Amadora que vivem em condições desumanas. E depois desse investimento há a Educação.

São essas as suas prioridades para a cidade, é isso?
A segurança, a educação, o investimento na reestruturação do parque habitacional e a criação de um cluster farmacêutico (estilo Tagus Park, aproveitando as indústrias farmacêuticas que já são importantes no concelho). Mais: a criação de uma Universidade de Saúde que ficará nas traseiras do hospital. É preciso trazer investimento, e criar um centro de desenvolvimento. Quem está à frente da Amadora tem de contactar estas empresas que estão disponíveis (e eu sei que estão porque já falei com elas) e trazer para a Amadora a esperança das pessoas de trabalharem ali e não ser apenas um dormitório.

Onde é que mora, já agora?
Ainda bem que me coloca essa questão: vou passar a morar na Amadora, e disse isso logo à pessoa que me fez o convite. Se ganhar a câmara vou viver lá. Vou caminhar nas mesmas ruas do que eles, vou estar onde eles estiverem, o que eles forem eu serei.

Mas onde mora agora?
Moro em Cascais.

"Existem racistas em todas as raças"

A Amadora é também um concelhos com grande percentagem de população de origem africana. Uma das acusações que lhe fazem é de ser racista. Alguma vez foi abordada com acusações de racismo?
Não, nunca. Já fui acusada nas televisões por esses avençados que têm uma agenda que não é uma agenda de verdade. A Amadora é provavelmente o concelho com maior miscigenação e eu sou produto dessa mesma miscigenação. Eu não tenho culpa que o acaso genético me tenha feito mais branca do que o meu irmão. Se calhar se eu tivesse a cor do meu irmão já ninguém punha essas questões, e isso revela muito dessa left wing, desse movimento de esquerda radical.

É porque nasceu em Moçambique que diz que não é racista?
Não é porque nasci em Moçambique, é porque a minha avó é negra e a minha mãe mulata, e porque as preocupações dessa extrema-esquerda afetam a minha família. Esses senhores que se dizem paladinos da guerra contra o racismo deram o quê ao povo da Amadora? O que é que contribuíram? O que é que deram à minha família materna? Eu não aceito essa acusação e as pessoas que a fazem sabem que eu não sou racista. Digo-lhe mais: não ha ninguém que represente mais o que é a Amadora em termos de miscigenação do que eu, eu encerro aquilo que encerra a Amadora e que tanto gosto. A Amadora é quase como se fosse os EUA, eu quero fazer da Amadora um melting pot. Pensam que escolhi a Amadora porquê? Dêem-me a mim esses que vocês recusam, esses que vocês enxovalham. Eu irei mostrar o que vou fazer em 4 anos.

Está a falar de quê? Quem é que recusa quem?
Sabe que as pessoas muitas vezes não podem dizer que vivem na Amadora por causa da estigmatização? Sabe que quem vive na Cova da Moura não pode pôr no currículo que vive na Cova da Moura? É isso que eu quero mudar, e vou mudar.

Disse sobre Mamadou Ba que era um “traidor da pátria” e que “podia ir para o país dele onde teria mais utilidade”. Ele é um cidadão português. Diz que isto não é racismo. Não é um discurso de incitamento ao ódio?
Não é um discurso de incitamento ao ódio se for contextualizado. Quando o chamo de parasita é um epíteto como outro qualquer. Se preferirem posso dizer o seguinte: o Mamadou Ba chegou a Portugal e nós demos-lhe todas as condições que tem hoje. Eu não exigiria que fosse grato (porque isso é um valor moral, uns têm outro não), mas exigiria que não fosse hostil à minha pátria.

A sua pátria é a mesma do que a dele.
Pois é. Mas eu exigiria que ele não fosse hostil perante o que lhe demos. Ele não disse o que quer que fosse de positivo de Portugal. E pessoas perniciosas como ele criam enormes clivagem na sociedade e afastam pessoas para discursos de radicalização que nos levam para coisas tão absurdas como dizer que Eça de Queiroz era racista porque descreveu a Eduarda como branca de olhos azuis. Esse discurso é o mesmo que leva a dizer que temos de derrubar o padrão dos descobrimentos. É um discurso vexatório, desonesto.

E quando diz que “quando um branco é morto por pretos não falamos de racismo” também não é racista? O racismo não é um preconceito perante minorias?
O racismo é um problema moral e esse problema moral não é unívoco, é plurívoco. Existem racistas em todas as raças. O racismo não é só dos brancos para os pretos, é dos brancos para os amarelos, os pretos, os vermelhos. Eu sou madrinha de uma menina de 18 anos que é chinesa e confrontei-me com isso há pouco tempo. Onde estava esse senhor que diz que é da luta contra o racismo quando, durante esta epidemia, a minha afilhada apareceu a chorar porque tinha sido alvo de diversos comentários racistas? Nas televisões e rádios fizeram piadas sobre chineses, lojas de chineses foram apedrejadas. E o que é que esse senhor fez? As vítimas são só negras? Há racismo de pretos para brancos, para amarelos, para vermelhos. É um mal geral. E o que esse senhor faz não é lutar contra o racismo, é encontrar uma justificação para a sua existência.

Como é que se luta contra o racismo?
Com educação e formação, que é o que quero dar à Amadora. Não se consegue mudar estruturas que já estão feitas. O grande problema é também as pessoas não conhecerem o mundo. Temos de começar a investir em instrumentos para, desde a mais tenra idade, as pessoas conseguirem, com facilidade, distinguir discursos manipulatórios e discriminatórios. Matar um preto é igual a matar um branco: a dor da perda de uma mãe branca é a mesma da dor de uma mãe preta. Eu não vou dar mais importância a uma pessoa que tenha sido assassinada por ser preta ou por ser branca, porque eu não dou importância a cores. Dou importância a pessoas. E vou dar igualdade de oportunidades.

"Castração química devia ser discutida no Parlamento"

Disse que defendia a castração química de pedófilos reincidentes, mas que a castração física não a repugnava, se fosse essa a vontade do povo. Quer dizer que devia haver um referendo sobre isto?
Há uma coisa que as pessoas têm de aprender em Portugal que é a respeitar a nação. Eu já falo sobre este assunto desde a faculdade. A minha posição sobre a castração química é algo que eu já defendia muito antes do André Ventura falar nisso. Eu limitei-me a dizer que uma das pessoas que mais estudou a castração química defendia a possibilidade da implementação da castração física, elencando as razões pelas quais era ou não a favor. Eu sou a favor da castração química, se fosse a favor da castração física teria dito, não tenho pudores. O que eu disse foi: se o povo decidisse eu teria de o respeitar.

Através de um referendo?
Não sei, não sou eu que mando, não sou legisladora. Não sou candidata a legisladora. E sou uma democrata. E não sou como aqueles que só são democratas quando a visão do povo vai ao encontro do que anseiam. Quando não vai, o povo é tontinho, não devemos ouvir o povo. Eu sou uma democrata. Por exemplo, sou a favor, com as devidas restrições, da eutanasia. Mas se o povo tivesse dito que não, eu respeitava. Mas sobre a castração química, não vejo, no cenário atual, como seria possível fazer um referendo. E sou contra a prisão perpétua e a pena de morte, ao contrário do que dizem: sempre fui contra. E é isso que me faz identificar com o PSD: sou uma humanista, acredito no Estado social de direito. E acredito, enquanto cristã, que nós todos somos resgatáveis até ao último suspiro.

Ainda em relação à castração química, o projeto de lei do Chega foi chumbado no Parlamento por ser considerado inconstitucional, considerava-o constitucional?
Quem decide o que é ou não constitucional é o Tribunal Constitucional e temos de ter respeito pelas instituições.

Analisou o projeto?
Não. Acha que eu vou analisar um projeto do Chega? Não faço ideia do que o projeto defende, suspeito que seja diferente daquele que é o meu ponto de vista, mas é uma suspeição.

Suspeita, não sabe. Admite então que até possa estar em linha com o que defende?
O que ouvi é que aquilo era uma imposição a todas as pessoas que cometessem crimes contra a autodeterminação e liberdade sexual dos menores - que não é o meu ponto de vista. O erro não define o homem. Eu defendo que isto só deve ser aplicável numa situação de reincidência, até porque esta é uma questão de saúde mental. Um pedófilo não é um criminoso, é uma pessoa doente.

Esta possibilidade, no seu entender, devia ser discutida na AR?
Acho que sim, este assunto vai ter de ser discutido na AR, como aliás foi discutido na Assembleia da República da Dinamarca - ou acha que a Dinamarca recebe lições de civismo de Portugal? Ou no Canadá, ou na Nova Zelândia. São desonestos? O Reino Unido, quando aplica a castração química, é selvagem e bárbaro? A castração química é uma terapia hormonal. Acha que é justo pôr um pedófilo na cadeia 10 anos sem lhe dar instrumentos de regeneração? O pedofilo é doente, está a lutar contra um desejo primário, e tenho de lhe dar instrumentos para ele conseguir fazer essa batalha. Castigar pelo crime, sim, mas também dar instrumentos para não voltarem a cometer esse crime. O direito penal não foi feito para os criminosos, foi feito para salvaguardar as vítimas.

Diz que sempre se sentiu melhor no meio de homens do que de mulheres, que só “falam de receitas e das vidas dos outros”. Isto é ser feminista?
Isso é um epíteto seu. Basta abrir as páginas do Facebook e vê quem é que me ataca mais.

Quem?
Veja. As que mais me atacam são essas mulheres. Eu venho duma sociedade em que estava rodeada de cientistas homens, que tinham conversas mais interessantes do que as conversas triviais que naquela altura eram tidas, ao lado, pelas mulheres. Eu sou uma mulher feminista, nao sou é oportunista.

As mulheres que a atacam são oportunistas?
São, não é normal atacarem-me pelas minhas mamas.

Isso não é uma generalização, uma forma de sexismo?
O que elas fazem contra mim é sexismo. Eu não vi nenhuma voz dessa esquerda erguer-se perante isto. Não são as mamas em si, ou o batom vermelho, é o comentário misógino que está por detrás. Dói mais esse ataque vindo de uma mulher do que de um homem. São mais elas que me fazem esse ataque. Mas também sei que se fazem esse ataque em relação à minha figura é porque não têm comentário a fazer em relação às minhas ideias. O que sinto por elas é misericórdia cristã, ainda não evoluíram o suficiente. O que estão a fazer ao atacar-me a mim é atacar a elas também.

Falou no movimento do batom vermelho, que surgiu na campanha das presidenciais. Votou em Marcelo Rebelo de Sousa ou André Ventura?
Votei no Marcelo Rebelo de Sousa porque na minha cabeça não havia outra opção à direita. Mas veja o ponto a que chegámos que tenho de justificar em quem votei, e do que já disse ao longo da entrevista nem percebo que ainda me faça essa pergunta.

RSI. "Há pessoas que têm de optar entre a sopa e o comprimido enquanto outras têm telemóvel de última gama e ficam a dormir até ao meio dia. Se defender isto é ser populista, então sou populista"

Também acha que somos demasiado tolerantes com algumas minorias?
Não, essas perguntas de clivagens não me interessam. Por cada tolerância a mais que se dá a uma minoria, há intolerância cometida por serem minoria. Na Amadora todos vão ter os mesmos direitos e deveres. Eu dou habitação social mas a pessoa paga a renda. Porque a renda ja é calculada pelos rendimentos. Se nao pagar, feitas as notificações devidas e passados o prazos: rua. Não vou dar nem mais um direito por ser minoria, nem vou dar nem mais um direito por ser maioria. Direitos iguais para todos.

O que pensa do Rendimento Social de Inserção? É útil ou há abusos?
São coisas diferentes o que me está a perguntar. Se é útil, é. É uma forma de colmatar as lacunas que existem no tecido social e que funciona como moleta de auxílio às pessoas. Se há muitos abusos, claro que há. E de quem é a culpa? É de quem devia estar a fiscalizar a forma como rendimento é atribuído. Os portugueses atacam sempre o elo mais fraco. Posso atacar quem está a receber injustamente um rendimento, e fá-lo-ei. Mas critico com mais força quem o devia estar a fiscalizar e não fiscalizou. Se alguém está a usar isto ilicitamente está a retirar dinheiro que podia estar a ser usado em quem precisa mais (como os idosos). Podem dizer que é ser populista…

Considera-se populista?
O populismo foi um movimento que surgiu para trazer as pessoas para a política. Se ser populista é estar do lado do povo e tentar trazê-los a discutir os assuntos importantes, então sou uma populista. Se for no sentido que me querem caricaturar, então não. Eu não sou a caricatura que as pessoas querem que eu seja. Mas deixe-me esclarecer ainda em relação ao RSI: quando permito a ausência de fiscalização na atribuição deste rendimento social estou a desmoralizar os que estão a trabalhar, que se sentem acossados porque estou a cobrar-lhes impostos e esses impostos estão a ser desviados para pessoas que estão com um Mercedes à porta e a dormir até ao meio dia. É preciso mais fiscalização para estas situações. Isto nao é populismo. Há pessoas que têm de optar entre a sopa e o comprimido enquanto outras têm telemóvel de última gama e ficam a dormir até ao meio dia. Se defender isto é ser populista, então sou populista.

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