Política

Costa envia apoios sociais ao Tribunal Constitucional. Apoios vão ser pagos até haver decisão

Costa envia apoios sociais ao Tribunal Constitucional. Apoios vão ser pagos até haver decisão
CARLOS COSTA/Getty Images

Marcelo deixou o reforço dos apoios sociais nas mãos do Governo e António Costa decidiu mesmo enviar para o Tribunal Constitucional - para fiscalização sucessiva da constitucionalidade. “É a democracia e o Estado de direito a funcionarem”, diz Costa, apontando o dedo aos partidos (e poupando formalmente Marcelo). Costa garante que os apoios vão ser pagos enquanto o Governo aguarda decisão dos juízes

Costa envia apoios sociais ao Tribunal Constitucional. Apoios vão ser pagos até haver decisão

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Costa envia apoios sociais ao Tribunal Constitucional. Apoios vão ser pagos até haver decisão

Rita Dinis

Jornalista

António Costa vai mesmo enviar para o Tribunal Constitucional - para fiscalização sucessiva - os diplomas sobre o alargamento dos apoios sociais aos trabalhadores independentes e sócios-gerentes, às famílias prejudicadas pelo encerramento das aulas presenciais e aos profissionais de saúde, que tinham sido aprovados no Parlamento por toda a oposição - só o PS votou contra. "Lei é lei e a Constituição é a lei suprema, seja o Governo maioritário ou minoritário, esteja em ano eleitoral ou não", explicou António Costa numa declaração ao país esta quarta-feira de tarde, pegando nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa para sublinhar que "é a democracia a funcionar".

O Governo invoca a "lei-travão" que impede a Assembleia de aprovar aumentos de despesa para lá do orçamentado, mesmo que o Presidente da República tenha tido um entendimento diferente. Costa rejeita agora qualquer desentendimento com o Presidente nesta matéria e aponta aos partidos. "É perigoso que se forme aqui um precedente que abra a porta para o receio expresso pelo senhor Presidente da República e que a prática parlamentar passe a ser a constante desfiguração do OE", disse.

O primeiro-ministro apareceu munido de citações do Presidente da República - aquando da promulgação dos diplomas - para se escudar no facto de Marcelo ter feito um "esforço" para contornar a questão mas reiterando que subsistem questões por resolver. E a questão principal tem que ver com o papel dos partidos, que aprovaram leis quando não era o tempo deles.

"É certo que o PR procurou limitar os danos constitucionais destas leis ao propor uma interpretação que esvazia o seu efeito prático e até reforça os poderes do Governo ao entender que, e cito, 'os diplomas podem ser aplicados na medida que respeitem os limites resultantes do OE vigente'. Ainda assim, e apesar do esforço do Presidente, subsistem questões por resolver", afirmou.

O tempo dos partidos é o tempo da aprovação e negociação do OE, não o tempo da sua execução: "A Constituição é muito clara na repartição de poderes. O Parlamento é soberano na aprovação do Orçamento e o Governo é totalmente responsável pela sua execução. Por isso, uma vez aprovado o Orçamento, a Assembleia não pode nem aumentar a despesa nem diminuir a receita previstas nesse Orçamento".

O primeiro-ministro recorreu até aos tempos da "crise anterior" de Pedro Passos Coelho para dizer que nessa altura como agora o importante é cumprir "escrupulosamente" a Constituição, numa referência aos tempos da troika em que o Parlamento recorreu ao TC para impedir cortes salariais e de pensões. "A Constituição é a mesma."

Questionado sobre o porquê de recorrer agora ao TC quando, no Orçamento Suplementar, a mesma questão já se tinha colocado e o Governo tenha deixado passar, Costa explicou que nessa altura a situação já se colocava mas "entendeu que o momento era muito extraordinário, pelo que nos devíamos acomodar". "Agora estamos num segundo momento e não podemos deixar que um precedente se torne um hábito", disse, insistindo que agora sim é momento de sinalizar que não é possível a AR não respeitar o orçamento que a própria AR aprova.

Apoios vão ser pagos

Por outro lado, o primeiro-ministro sublinha que a lei vai entrar em vigor na mesma, apesar das dúvidas de constitucionalidade, e as pessoas vão receber os apoios devidos. "O Governo não pode deixar de cumprir uma lei da AR mesmo que a entenda inconstitucional, a inconstitucionalidade só o TC pode declarar." O pedido de fiscalização sucessiva foi feito com caráter de urgência.

Resta saber se vai a tempo de travar a despesa. É que estes apoios sociais só vão ser concedidos durante o confinamento ,devido à pandemia, pelo que a decisão do Tribunal - que leva em média entre 18 meses a dois anos a avaliar pedidos de fiscalização sucessiva, não tendo prazo para tal - dificilmente será tomada em tempo útil.

Ou seja, mesmo que o TC decida pela inconstitucionalidade, nessa altura já o período de abrangência dos apoios terá passado. Significa isto que, uma vez promulgados pelo Presidente da República, a Segurança Social tem de realizar os pagamentos de acordo com as regras agora previstas, uma vez que o processo no TC não tem efeitos suspensivos e a decisão pode até demorar a ser conhecida.

Questionado sobre o facto de poder haver lugar a devolução de dinheiro se os diplomas forem declarados inconstitucionais, Costa deixou claro que cabe ao TC decretar se há lugar a retroativos ou não, achando "provável" que os juízes não apliquem a lei para trás. Ou seja, não deverá ser pedido às pessoas para devolverem o dinheiro recebido dos apoios.

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