O BPI recusou, recentemente, um pedido de empréstimo do CDS, que serviria para o partido ter maior liquidez para preparar as próximas autárquicas. Os centristas contavam com um crédito similar ao que tem sido concedido noutros anos com eleições, mas, desta feita, face ao primeiro pedido, o banco declinou a proposta.
Embora o processo negocial não esteja concluído, na direção de Francisco Rodrigues dos Santos estranha-se a primeira 'nega' porque se garante que nos últimos tempos foram dados sinais de disponibilidade financeira para abater parte da dívida (que ascende a cerca de 700 mil euros) à instituição liderada por Fernando Ulrich.
No núcleo duro do líder centrista recorda-se que há quatro anos, ainda durante o consulado de Assunção Cristas, não houve qualquer resistência da parte do BPI a aceder ao pedido. O empréstimo (que acaba por ser coberto com a subvenção estatal) costuma, aliás, ser estruturado em função os resultados das eleições anteriores (neste caso, as autárquicas). Desta vez, teme-se que não seja assim. No CDS, há mesmo quem julgue que, além do risco financeiro, o partido esteja a ser penalizado por uma maquinação política.
Há até quem sugira, sob anonimato, que António Lobo Xavier, vice-presidente do banco, que já defendeu que Rodrigues dos Santos convoque um Congresso extraordinário para discutir a liderança, esteja por trás da conspiração. A teoria é simples: depois da crise política instalada com o desafio de Adolfo Mesquita Nunes e com as sucessivas demissões, surge o garrote financeiro.
A "má vontade" do BPI, ouve-se entre a direção, não será obra do acaso. E também se nota que ainda esta semana Lobo Xavier surgiu no programa "Circulatura do Quadrado", na TVI, a pedir mudanças. Perante um "definhamento indiscutível" do CDS, os militantes "têm direito" a discutir a liderança do partido num "fórum mais alargado" - a reunião magna, leia-se -, sem ficarem limitados à discussão em Conselho Nacional.
O diagnóstico do conselheiro de Estado não foi simpático. Embora a "ideia generalizada" de que o partido pode desaparecer seja "exagerada", explicou, a situação é "bastante mais complicada" do que a crise que o partido atravessou quando era batizado como o "partido do táxi" (nos anos 1980, quando tinha apenas quatro deputados). Por isso, compreende-se "a insatisfação, o desespero, a necessidade de um protagonismo forte e de ideias claras", reforçou Lobo Xavier, que há um ano apoiou a candidatura de Rodrigues dos Santos, mas, em julho, ameaçou abandonar o partido, caso o CDS não apoiasse Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais.
Contactado pelo Expresso, Lobo Xavier é taxativo. "Não falo sobre clientes do banco. Se for esse o caso do CDS, desconheço. E não estou para que a minha vida profissional seja envolvida em trapalhadas do CDS, com as quais não tenho qualquer ligação nem conhecimento", responde. "Se o problema alguma vez me tivesse sido apresentado, invocaria obviamente conflito de interesses", completa.
Do lado do BPI, nada é dito em relação a clientes, pelo que não há qualquer confirmação por parte do banco detido pelos espanhóis do CaixaBank. Lobo Xavier, recorde-se, é o número dois do Conselho de Administração, logo abaixo de Fernando Ulrich (do qual é vice-presidente). As funções que ocupa não são executivas, não integra sequer a Comissão Executiva, o órgão que assegura a gestão quotidiana do banco. De resto, a própria a Comissão Executiva só é chamada a deliberar sobre operações que envolvam montantes mais elevados ou com maior risco associado.
Já este sábado a direção do CDS emitiu um comunicado através do qual procurou desmentir a informação veiculada pelo Expresso. "O processo para garantir financiamento autárquico está a decorrer, junto desta instituição e de outras, seguindo os trâmites e prazos normais. Trata-se de uma notícia falsa", referia a nota assinada pela porta-voz, Cecília Anacoreta Correia.
Com Diogo Cavaleiro e Isabel Vicente