Política

Francisca Van Dunem pensou na demissão mas concluiu que tem condições para continuar

Francisca Van Dunem pensou na demissão mas concluiu que tem condições para continuar
MIGUEL A. LOPES/LUSA

Ministra da Justiça esteve no Parlamento para esclarecer as circunstâncias em que o Governo enviou para o Conselho da União Europeia uma carta com dados falsos sobre o procurador José Guerra. A ministra reconhece que o documento tem erros e que isso "é mau". E foi "uma falha" sua não ter revisto a carta antes desta ser enviada para a UE. Por tudo isto chegou a pensar na demissão. Mas decidiu ficar

Francisca Van Dunem pensou na demissão mas concluiu que tem condições para continuar

Rui Gustavo

Jornalista

Na sequência de um processo em que admite que falhou "ao não rever a carta" que tinha dados falsos sobre o procurador José Guerra, a ministra da Justiça admitiu hoje no Parlamento que "pensou" na demissão mas concluiu que tem condições para continuar. Esta posição foi reforçada depois de uma conversa com o primeiro-ministro António Costa, que já fez várias declarações públicas em defesa de Francisca Van Dunem. .

A ministra foi ao Parlamento para prestar esclarecimentos sobre o caso José Guerra que lhe tem provocado vários dissabores desde que decidiu não respeitar a indicação de um grupo de peritos da UE que escolheu Ana Carla Almeida para o lugar de procurador europeu.

A deputada Mónica Quintela, do PSD, abriu logo fogo sobre Van Dunem: a carta sobre o caso do procurador José Guerra foi "falseada" teve "influência" na nomeação do magistrado como procurador europeu, que é um "comissário político" do Governo. E é até irmão de Carlos Guerra, o responsável que viabilizou o projeto Freeport.

Francisca Van Dunem, que é magistrada, voltou a defender a posição do Governo português, porque respeita "a posição do Conselho Superior do Ministério Público", mas reconheceu que houve falhas no processo, que levaram a que uma nota "com erros" fosse enviada para Bruxelas e que isso "é mau". Mas tem a certeza que os erros não foram cometidos com "intenção" ou "dolo".

A ministra explicou que deu instruções numa reunião com dirigentes da Direção Geral da Política de Justiça para que a carta fosse escrita com urgência e, "entretanto", conseguiu saber que a missiva foi enviada ao mesmo tempo para o seu gabinete e para o "secretariado" do Conselho da União Europeia.

Mónica Quintela, que é advogada, insistiu num ponto: "Quem é que escreveu a carta? A ministra leu-a?" A ministra acabou por admitir que não e que isso foi "uma falha".

O deputado bloquista José Manuel Pureza lembrou que um documento desta importância não podia ser apenas enviado ao gabinete da ministra para "informação e arquivo" e que se foi enviado ao gabinete da ministra "que tratamento lhe foi dado?" Nenhum, como admitiu Van Dunem.

António Filipe, do PCP, lembrou que o PSD alterou a lei para nomear António Cluny para a Eurojust e que confia mais na decisão do Conselho Superior do Ministério Público do que no parecer do órgão consultivo do Conselho da União Europeia. E que erros como os da carta não "podem" ser cometidos.

Telmo Correia, do PP, notou que os "eros inadmissíveis" têm sempre o mesmo sentido: engrandecer José Guerra em detrimento de Ana Carla Almeida. "A senhora ministra não tem maneira de sair bem disto". E perguntou: "Apresentou a sua demissão?" Van Dunem admitiu: "Pensei nisso". Mas concluiu que tem condições para continuar no lugar.

Inês Sousa Real, do PAN, lamentou que a "meritocracia" que tinha levado o órgão consultivo da UE a eleger "uma mulher" não tenha sido respeitada pelo Governo que preferiu "um homem". Joacine Katar Moreira lamentou o mesmo facto.

André Ventura insistiu na paternidade da carta: "Quem foi o autor da carta?" E, tendo em conta que Ana Carla Almeida é a titular da investigação das golas inflamáveis, perguntou se "Eduardo Cabrita demonstrou algum 'desconforto' pela nomeação da magistrada para procuradora europeia. A ministra garante que não. "Nem sabia que o concurso estava a decorrer".

Van Dunem defendeu as competências de José Guerra que, "com exceção de Mónica Quintela", ninguém questionou. "É a solução mais correta" para o lugar, insistiu a ministra, que puxou pelos galões do procurador: "Chefiou durante quatro anos a 9ª secção do DIAP".

Francisca Van Dunem fez um ato de contrição: "A nota terá sido elaborada por um diretor e vista pelo diretor-geral da DGPJ e vinha para efeitos de arquivo. E eu tomei isso como bom". Ninguém do gabinete a viu porque "havia pressão de urgência da Reper e por isso não terá sido enviada para revisão. Reconheço que houve uma falha da minha parte".

Esta versão não bate certo com a versão de Miguel Romão segundo o qual o documento terá sido elaborado por um funcionário da DGPJ.

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