Política

Mesquita Nunes critica acordo com Chega nos Açores: um "erro" que "compromete a sobrevivência" do CDS

Adolfo Mesquita Nunes, fotografado no seu escritório, em Lisboa
Adolfo Mesquita Nunes, fotografado no seu escritório, em Lisboa

Antigo vice-presidente dos democratas-cristãos lamenta solução para a região autónoma e não vê vantagens na inclusão de André Ventura numa alternativa para o país. E deixa recado a Francisco Rodrigues dos Santos: o regresso de PSD e CDS ao poder depende de "uma boa liderança"

Estavam prometidas para o próximo Conselho Nacional (ainda por agendar), mas o acordo com o Chega nos Açores precipitou as críticas de Adolfo Mesquita Nunes à atual direção do CDS. O antigo secretário de Estado do Turismo considera que a direita cometerá um "erro" se ficar nas mãos de André Ventura para se assumir como uma alternativa de Governo e, num artigo de opinião publicado no 'Observador', alerta até que o abraço à direita radical ameaça o futuro dos democratas-cristãos.

"É um erro deixar essa alternativa ao socialismo nas mãos do Chega, um partido que não tem ideias claras sobre quase nenhum dos desafios que, enquanto país, sociedade e economia, temos de enfrentar, e que, como se isso não bastasse, está, e cito o presidente do meu partido, 'cada vez mais distante do valores do centro-direita democrático e popular'", defende esta sexta-feira o ex-vice-presidente do CDS, para quem o entendimento alcançado nos Açores - assinado por Artur Lima à revelia do líder do partido, como o Expresso noticia esta sexta-feira - "não deve repetir-se".

Mesquita Nunes, subscritor da carta aberta "A clareza que defendemos", através da qual 54 personalidades de centro-direita se insurgiram contra alianças com partidos ou movimentos populistas e autoritários, lamenta que PSD e CDS se tenham sujeitado a negociar com Ventura. Sem acordo, explica, o Chega seria forçado a escolher se viabilizava um novo executivo regional do PS ou a 'geringonça' de direita, como outros críticos da atual liderança já frisaram.

Os remoques para os seus não ficam por aí. "Eu sei que há gente à direita que aplaudiu o acordo com o Chega. Uma parte, nem toda gostando do CDS, não vê problema em Ventura nem na forma como ele condescende com o ódio, alimenta a crispação, dissemina mentiras, destrata e desqualifica o CDS e os seus atuais dirigentes. É normal que, não vendo aí problema, não tenha concordado com um manifesto que subscrevi", atira Adolfo, que também não poupa Francisco Rodrigues dos Santos.

Quando o manifesto foi publicado, o presidente do CDS foi contudente. "O que eu vejo na opinião publicada é que há muita gente à direita que prefere os salões do Bairro Alto e do Príncipe Real em vez de querer corresponder a uma vocação de mudança de uma direita real que existe no nosso país", observou o líder. Adolfo contesta essa visão e acusa Rodrigues dos Santos de ter feito "um daqueles comentários próprios de quem não percebe que a ameaça ao CDS não está nos críticos de um acordo com o Chega (primeiro negado, agora sussurrado – uma mentira que parece não ter comovido ninguém mas que dá bem conta do embaraço)", mas, ao invés, "nos falsos amigos que nunca votaram CDS e insistem que o CDS tem tudo a ganhar em deixar Ventura entrar no arco da governabilidade".

No artigo, o principal rosto da ala liberal do CDS aproveita ainda para lançar mais uma farpa ao presidente do partido e a Rui Rio ao frisar que o regresso da direita ao poder exige "um bom programa", "uma boa liderança", um projeto inspirador" e "uma cultura de união e de serviço" e "uma resposta de esperança a quem está a ficar para trás e vê o mundo avançar demasiado depressa". Se tudo isso for alcançado, conclui, "o Chega só tem de ser colocado no dilema de deixar passar a esquerda ou a direita".

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