A mensagem deste novo estado de emergência é "difícil" passar, admite António Costa. Fácil era dizer que é necessário confinar todo o país ou dizer que não há restrições. Assim, perante a complexidade da mensagem, diz que está a fazer tudo, e põe a mão por baixo do Serviço Nacional de Saúde: "O SNS não falhou em nada", disse numa entrevista à TVI esta segunda-feira à noite. Atualmente, está a "metade da capacidade de camas alocadas à covid" e "se conseguirmos controlar a situação" será possível "viver sem dramas de rutura". Para já, os números dizem-lhe que a situação se está a agravar, mas que "ainda não estamos em rutura".
A linha vermelha do SNS está traçada no número limite de 704 camas de cuidados intensivos. São estas que podem ser alocadas a casos Covid, e atualmente estão 433 ocupadas. O máximo poderá ser 944, mas "já perturbando a outra atividade", ou seja, perturbando outros doentes não-covid que tenham necessidade de estar nos cuidados intensivos. Caminhando em gelo fino, Costa olha para o agravar da situação - disse aliás ter ficado "surpreendido" por esta vaga ter chegado mais cedo - e defende que teve de agir agora para tentar controlar os danos futuros. "Acha que é de ânimo leve?", questionou, sobre a necessidade de impor o recolher obrigatório.
Perante a capacidade do SNS, porque não recorrer aos privados? Costa recusa que não o esteja a fazer, lembra os acordos com privados nos testes e no tratamento de outros doentes, e pede que não se espere que seja esse acordo com os privados que vá ajudar a melhorar a situação. "Não vale a pena termos a ilusão", disse, recusando ao mesmo tempo que "não há preconceito ideológico nenhum", mas os privados têm apenas "121 de camas de cuidados intensivos"
"A única forma de controlar esta pandemia é o máximo de isolamento e de protecção individual", disse.
Apoio extra para os restaurantes
O setor da restauração vai ser o mais afetado com as novas restrições que começam esta segunda-feira e, por causa disso, além dos 1150 milhões de euros de apoios a fundo perdido para micro e pequenas empresas, o Governo vai lançar um "apoio específico" para os restaurantes por causa das perdas dos próximos fins de semana, em que vão ter restrições impostas pelo Governo.
O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro em entrevista à TVI. De acordo com António Costa, o "e-fatura permite saber qual a receita de cada restaurante" e vai ser feita uma média (do ano, do mês ou de fins de semana) para poder ser desenhado o apoio. "Ainda não está fixado o critério", disse Costa que referiu que os ministérios da Economia e Finanças estão a trabalhar na medida."Temos estimado os custos fixos que essas empresas" que têm apoios e terão "apoios específicos para mitigar os efeitos deste fim de semana", disse.
A "ligeireza de valores" de Rio ao chegar a acordo com o Chega
A formação da "geringonça" tem sido usada por sociais-democratas para legitimar a opção do partido de um acordo com o Chega para que o partido de André Ventura viabilize a formação de um governo de direita na Região Autónoma dos Açores. António Costa recusa comparações e diz que se houvesse uma maioria de direita (sem Chega) que não teria qualquer problema. "Não fiquei zangadíssimo" por isso, mas sim com o facto de esse acordo incluir o Chega. "Aquilo que eu chamei a atenção, e que é da maior gravidade, é que o PSD deu um passo, que a direita democrática tem recusado dar, que é fazer acordo com um partido da extrema-direita xenófoba", disse.
O assunto irrita António Costa não "pelos termos do acordo, mas pela natureza do Chega. Pela normalização...", disse. Quando questionado se o Chega não é igual aos partidos que o apoiaram, PCP e BE, António Costa recusou a comparação dado que se está a falar de um partido "da extrema-direita xenófoba" que não defende os direitos humanos mais básicos. "Está a fazer um acordo com o Chega sem que o Chega tenha mudado nada", disse. Costa admite que em algum momento os partidos votam no mesmo sentido que o Chega, mas que "negociar" com o Chega é outra história. "Não acuso o BE de ter votado com o Chega [na votação do Orçamento do Estado]. O BE não negociou com o Chega o voto contra o Orçamento", disse, por exemplo.
Esta decisão de Rui Rio é aquilo a que chamou de um "salto qualitativo". "Não é por acaso que na Europa há uma distinção muito clara e um cordão sanitário para com os partidos extrema-direita xenófobos. Quem transige demonstra ligeireza em relação a valores essenciais", disse, lembrando partidos da família do PSD como a CDU de Angela Merkel ou o PP em Espanha. Do lado do PS há uma certeza: "Nunca negociarei nada com o Chega".
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