Avisos reforçados por parte do Governo. Depois de António Costa ter, em entrevista ao Expresso, ameaçado Bloco e PCP com uma crise política caso não fosse possível chegar a acordo já neste Orçamento do Estado, Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, voltou a repetir o apelo: "Não podemos somar uma crise política a uma crise económica e social", disse.
Nas jornadas parlamentares do PS, que esta terça-feira já contaram com a intervenção de António Costa, Duarte Cordeiro lembrou que o próximo Orçamento do Estado terá "um papel fundamental na resposta à crise" e, como tal, "exige da esquerda um compromisso político" que torne possível encontrar soluções.
"Os portugueses esperam [esse compromisso] e isso exige que cada partido se aproxime. Se antes foi preciso, agora ainda é mais necessário. Do nosso lado, estamos disponíveis", garantiu o governante.
Numa curta intervenção, o secretário de Estado dos Assuntos parlamentares prometeu um esforço empenhado na defesa do emprego e dos rendimentos, no combate à precariedade, no reforço do Serviço Nacional de Saúde, no aumento e criação de prestações sociais, na proteção dos mais velhos, no reforço do abono de família e da rede de creches e na promoção e desenvolvimento da ferrovia.
Neste quadro, e perante a disponibilidade manifestada pelo Governo socialista, insistiu Duarte Cordeiro, a esquerda deve evitar "desentendimentos que seriam pouco compreendidos" num período tão crítico da vida nacional.
Ana Catarina Mendes promete guerra a Chega e a Ordens Profissionais que sejam "sindicatos disfarçados"
A líder parlamentar do PS prometeu combate político aos "populismos" oriundos de correntes de extrema-direita e avisou que as ordens profissionais não podem ser "sindicatos disfarçados" ou armas de arremesso contra os governos.
"Não silenciemos o populismo ou o extremismo, ou as atrocidades que se vão ouvindo por aí por alguns partidos, designadamente contra as mulheres. O PS não se pode calar, não deve calar-se", defendeu.
A intervenção de Ana Catarina Mendes foi também marcada pelos avisos que deixou às ordens profissionais. "O Grupo Parlamentar do PS não quer uma luta ou uma batalha contra as ordens profissionais, mas entende que uma ordem profissional tem de regular a sua profissão. Não pode ser um sindicato disfarçado, nem tão pouco pode ser uma arma de arremesso política contra qualquer governo, seja ele qual for", disse.
A presidente do Grupo Parlamentar do PS defendeu em seguida que o papel das ordens profissionais é o de regular o acesso à profissão.
"Mas qual a razão para algumas ordens profissionais insistirem em colocar barreiras no acesso à profissão? Qual a razão para insistirem em não reconhecer um profissional que se licenciou no estrangeiro? Não estamos contra as ordens. Estamos contra o excesso de barreiras que existem para o acesso livre às profissões em Portugal", justificou.
Estas críticas servem como luva a duas ordens profissionais concretas: a dos Enfermeiros e a dos Médicos. A primeira, liderada por Ana Rita Cavaco, tem sido acusada de ultrapassar os limites legais e de ser próxima da oposição de direita - foi assim a propósito da greve dos enfermeiros e, mais recentemente, quando apareceu no Congresso do Chega para dar "um beijo ao amigo" André Ventura.
A segunda, a Ordem dos Médicos, liderada por Miguel Guimarães, esteve no centro de uma guerra política entre António Costa e profissionais clínicos que só ficou sanada (ou perto disso) depois de uma reunião entre os dois. A Ordem dos Médicos opôs-se à abertura de uma Faculdade privada de Medicina e é historicamente contra o aumento do número de vagas.
Ana Catarina Mendes advertiu depois que os tempos atuais "não estão para brincadeiras ou para aventureirismos" e, neste contexto, deixou uma pergunta aos parceiros de esquerda do PS no parlamento.
"O Grupo Parlamentar do PS tem de perguntar qual é o posicionamento [destas forças políticas] num momento em que optamos que por mudanças que vão alterar a vida das pessoas, num momento em que queremos continuar a valorizar os salários dos trabalhadores, com mais medidas de justiça social e mais proteção social e em que queremos dar mais um impulso ao investimento público", questionou a líder da bancada socialista.
"Este é o momento em que todos somos convocados para uma emergência de uma crise que não provocámos pela nossa ação governativa, mas que foi provocada por um inimigo invisível. Importa saber de que lado estarão os parceiros à esquerda. Esperemos que estejam com o caminho que trilhámos nos últimos cinco anos", reforçou.
José Luís Carneiro defende “responsabilidade individual” na escolha do candidato às Presidenciais
O secretário-geral adjunto do PS, outro dos intervenientes neste dia de jornadas parlamentares, assumiu que o PS vai pronunciar-se sobre as eleições presidenciais para 2021 em Comissão Nacional, no dia 24 de outubro, lembrando que esta é uma questão de "responsabilidade individual".
"Trata-se de um ato de cidadania, especialmente comprometido com a República e de responsabilidade individual. A Comissão Nacional do PS, como fez em outros momentos da nossa história, irá discutir, avaliar e decidir em liberdade e em consciência", disse, numa intervenção sem qualquer referência ao facto de a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes ter anunciado a sua intenção de se candidatar a Presidente da República.