Política

António Costa: “A pior coisa que podíamos fazer era passar os próximos dez anos a hesitar”

António Costa: “A pior coisa que podíamos fazer era passar os próximos dez anos a hesitar”
TIAGO MIRANDA

Na apresentação do plano de recuperação económica ao grupo parlamentar, o líder socialista desdobrou-se em avisos: se o país repetir o processo kafkiano que dominou a discussão do novo aeroporto de Lisboa agora a propósito da bazuca europeia, "nos próximos dez teremos gasto muito dinheiro em muitos estudos e não teremos feito nada de efetivamente concreto que altere a realidade do país."

António Costa considera que o país não pode desperdiçar este programa de recuperação económica e os fundos comunitários nele previstos sob pena de perder uma oportunidade determinante para relançar e reformar o país.

"Temos de ter absoluta confiança naquilo que vamos fazer. A pior coisa que nos podia acontecer era iniciarmos este ciclo na situação tão critica em que estamos e darmo-nos ao luxo de passar os próximos dez anos a hesitar e a ter dúvidas", argumentou o primeiro-ministro

O primeiro-ministro participa esta terça-feira nas jornadas parlamentares do PS, em Lisboa. Na intervenção inicial, António Costa foi claro: "Este é um programa extraordinário e um recurso desejavelmente não repetível. Temos de escolher projetos que possam ter um efeito imediato", afirmou o líder socialista, referindo-se, concretamente, à curta janela temporal com que têm de ser executado este quadro comunitário.

"Se quisermos fazer nos próximos dez anos aquilo que fizemos nos últimos 50 anos a propósito do aeroporto de Lisboa, teremos gasto muito dinheiro em muitos estudos e não teremos feito nada de efetivamente concreto que altere a realidade do país. Não podemos perder tempo", repetiu.

O Governo socialista elegeu "três blocos essenciais" de intervenção: "As vulnerabilidades sociais que se tornaram bem patentes nesta pandemia; a necessidade de aumentarmos o nosso potencial produtivo; e a competitividade e resiliência do nosso território", enumerou Costa.

No primeiro bloco, António Costa entende que o programa de relançamento económico deve responder aos problemas do Serviço Nacional de Saúde (nomeadamente com o reforço de toda a rede de cuidados integrados até 2026), aos desafios da Habitação (com respostas nas grandes Áreas Metropolitanas), e nos apoios aos mais velhos, em particular com a requalificação dos lares.

No segundo bloco, o da produtividade, o líder socialista elegeu como prioridades o investimento nas qualificações e o apoio às empresas para a inovação, com especial foco na capacidade do país de produzir mais produtos de valor acrescentar.

Para resolver o problema da falta de coesão territorial, o Executivo socialista propõe-se a pôr em prática um grande plano de investimento no interior e nas unidades industriais do Norte do país.

Essas prioridades devem andar de mãos dadas com a transição digital e climática, assim como uma empenhada renovação da Administração Pública, frisou Costa, antes de deixar uma crítica implícita à discussão entre os dois blocos mais à esquerda e mais à direita.

"Não caiamos nesse debate absurdo de saber se este plano deve investir no Estado ou nas empresas. Este plano tem de investir nas pessoas, nas empresas e para servir melhor as empresas e as pessoas precisa de um Estado mais robusto e mais eficiente", atirou.

A terminar, António Costa reconheceu a enorme responsabilidade que pesa sobre os ombros do Governo. "Temos uma enorme responsabilidade para com as futuras gerações. Daqui a seis [devemos dizer]: nós cumprimos e hoje o país é um país diferente daquilo que era em 2020."

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