Serviço militar obrigatório, ilegalização da ideologia marxista e apoios à natalidade e ao interior. As propostas dos militantes do Chega
Jorge Rodrigues de Jesus defendeu a ilegalização dos partidos de ideologia marxista
PEDRO NUNES
Entre as 44 moções apresentadas na II Convenção do Chega, a maioria das propostas surgem em linha com as principais bandeiras do partido, mas algumas delas vão mesmo mais longe, defendendo uma linha mais dura para a força política
Ao longo de uma maratona foram apresentadas 44 moções estratégicas no primeiro dia da II Convenção do Chega, em Évora. A maioria das propostas surgem em linha com as principais bandeiras do partido, mas algumas delas vão mesmo mais longe, defendendo uma linha mais dura para a força política.
Foi o caso da moção de Jorge Rodrigues de Jesus, que propõe a ilegalização de todos os partidos de ideologia marxista e critica a linha política da União Europeia. "O Chega é contra esta UE marxista. E, se não mudar, Portugal tem de sair. Não aceitamos uma aliança da Europa com vários ditadores terceiro-mundistas do Islão, é inaceitável. Não aceitamos uma imigração descontrolada como forma de reembolso de uma falsa dívida histórica", acusou, sob fortes aplausos dos congressistas .
A moção estratégia 'Global para Portugal da autoria do militante Rui Roque, de Faro, defende, por sua vez, o serviço militar obrigatório para homens e mulheres por um período mínimo de seis meses ."Este combate por Portugal, pelos portugueses, pela decência, não é, não será, fácil. Será difícil, muito duro e implicará sacrifícios", declarou.
Lamentando a "tirania socialista" e uma "agenda inimiga das tradições" e da "família tradicional", o ex-militante do Partido Nacional Renovador (PNR), considerou que o sistema político atual não serve os portugueses. "Esta III República é hoje assumidamente inimiga do Povo português e tem uma agenda própria que é internacionalista, globalista e progressista. Serve para servir e proteger os seus agentes e não para servir e proteger o Povo português", acusou.
Defesa dos guardas prisionais
Já o militante Carlos Dias, da distrital do Porto, alertou para a degradação das condições de trabalho das autoridades, nomeadamente dos guardas prisionais, que disse estarem muitas vezes "mais sujeitos à mão pesada da disciplina" do que os presidiários.
"É claramente visível a desvalorização que o governo coloca em todas as forcas de segurança, apesar do reconhecimento público do esforço e dedicação dos profissionais, que muito contribuem para receitas e reforço dos cofres do Estado, mas também para a estatística e ranking da segurança interna de Portugal", sublinhou o militante portuense na sua moção sobre Segurança.
João Tilly, que foi cabeça de lista do partido em Viseu, apresentou por seu turno uma moção de estratégia sob o título "Salvar e reativar o Interior", afirmando que "não se pode deixar parar o coração do país".
“Portugal não é só Lisboa e Porto”
"Continuar a deixar morrer o interior de Portugal é como mumificar um corpo retirando-lhe todo o seu interior vital e ficando apenas o esqueleto. Ao contrário do que se diz, Portugal não é só Lisboa, Porto e as grandes cidades. E nem sequer as grandes urbes contém a maioria da população. Contêm a maior concentração da população mas não a sua maioria, o que é uma confusão estabelecida no imaginário da classe política. Mas erradamente", observa no documento.
O militante de Viseu propõe ainda que seja incluídas no programa do Chega propostas para combater a desertificação do interior, como contribuições Zero para a segurança social (TSU) durante dois anos para empresas e trabalhadores seguida de redução de 50% nos três anos seguintes e a reativação da linha da Beira Alta, a par da da Beira Baixa.
A jovem militante Rita Maria Matias foi uma das mais aplaudidas no primeiro dia de trabalhos
Pedro Nunes
Críticas ao aborto e à eutanásia
A moção 'Inv(f)erno Demográfico', da autoria de Rita Maria Matias, militante e filha do presidente do partido Pró-Vida, Manuel Matias – que vai formalizar neste Congresso a fusão com o Chega – foi uma das mais aplaudidas durante o primeiro dia de trabalhos. A jovem militante, de 21 anos – vogal na lista da direção nacional que vai esta manhã a votos – defendeu o valor à vida e condenou o aborto e a eutanásia, assim como a forma como a família é, na sua opinião, muitas vezes olhada através de "lentes perversas"
"A terceira República mostrou-se ineficaz. Não estamos presos, estamos conformados. O inverno demográfico é o principal problema estrutural do país", disse perentória, sob os aplausos da plateia.
Criticando as ideologias do "igualitarismo e do utilitarismo marxista", Rita Maria Matias, ex-simpatizante do CDS, defendeu que nesta altura apenas o Chega se encontra em condições de poder mudar o rumo do país. "Só a IVa República, assente nos valores da família, da vida e da dignidade da pessoa humana, poderá dar lugar à primavera demográfica que Portugal necessita. Se assim não for, Portugal morrerá", concluiu.
Já a moção Mulheres Chega defendeu uma visão conservadora nos princípios, na moral e nos valores sem "medo de rótulos" ou "linchamento público" . As subscritoras manifestam-se antifeministas, contra o aborto e defensoras da família tradicional . "As feministas tem como objetivo impulsionar a agenda homossexual-lésbica-bissexual-transexual e não os interesses das mulheres comuns e correntes. A meta é poder atingir uma sociedade sem classes de sexo", acusou Ana Rita, uma das autoras.
O militante Sérgio Carvalho, do Porto, propôs por sua vez que qualquer dirigente político do Chega seja impedido de exercer qualquer função em direções e/ou SAD do Futebol Profissional, assim como um período de nojo de seis meses, para exercer qualquer função no partido após ter desempenhado qualquer função na área.
"O que é facto é que para manter a nobreza da causa pública, da politica e de como queremos ser diferenciadores, não podemos deixar que a menor suspeição faça sombra à atividade politica do Chega", sustentou.
Pelo meio houve ainda a apresentação de moções a defender a necessidade de Portugal aumentar a produção agrícola e a atividade piscatória, de forma a "recuperar a soberania alimentar", e apostar mais no "desenvolvimento do Algarve", através da construção de um novo hospital e do investimento noutros sectores além do turismo.