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Marcelo e a acusação do BES: "É uma boa notícia". Recorde o que o PR disse há cinco anos

Marcelo e a acusação do BES: "É uma boa notícia". Recorde o que o PR disse há cinco anos
MIGUEL A. LOPES/LUSA

O discurso do Presidente recandidato sobre os mega processos que entalam figuras centrais do regime está traçado. "Não há ninguém acima da lei" e "mais vale tarde do que nunca". Seja a Operação Marquês, Tancos ou o caso BES, em que o seu amigo Ricardo Salgado é acusado de 65 crimes. O discurso de Marcelo sobre Salgado começou a ser pensado quando se candidatou há cinco anos. Na altura, disse ao Expresso: "Sempre achei que a melhor maneira de ter amigos com funções empresariais é não depender deles". Chegará para calar Ventura?

Marcelo e a acusação do BES: "É uma boa notícia". Recorde o que o PR disse há cinco anos

Ângela Silva

Jornalista

Confrontado com a decisão do caso BES em que o ex-presidente do banco é acusado de 65 crimes, entre eles o de associação criminosa, o Presidente da República - que falou aos jornalistas no palácio de Belém no fim de um encontro com jovens - considerou estar-se perante "uma boa notícia".

Marcelo escolheu falar de um pacote de processos mediáticos que têm avançado nos últimos seis meses - o processo Marquês, o caso de Tancos, o caso BES e "outros", incluindo os que envolvem juízes - para concluir que são tudo "boas notícias". "Mostram que ninguém está acima da Constituição e da lei e tudo isto (as acusações já deduzidas) permite aos portugueses acreditarem mais na Justiça e na democracia".

É tarde e demora tempo demais? Como é que se explica que tenham passado seis anos desde que rebentou o caso BES até ser deduzida a acusação? O Presidente lembra que todos os anos, na abertura do Ano Judicial, tem chamado a atenção para a necessidade de tornar a Justiça mais célere. E partilha a perplexidade "dos portugueses que estão cansados" de ouvir falar de mega processos "e passados muitos anos, passado muito tempo" não se chega a conclusão nenhuma.

"É sempre desejável que seja mais cedo" - reconhece o PR - mas, acrescenta, "mais vale tarde do que nunca". Assim, "os portugueses podem acreditar na Justiça".

A base do discurso com que Marcelo enfrentará o embate com os potenciais adversários na sua esperada recandidatura a Belém será este. Defender o normal andamento da investigação judicial, "doa a quem doer", como tem dito e redito a propósito do roubo de material militar de Tancos e como estará disposto a dizer sobre o BES, apesar da sua estreita amizade com Ricardo Salgado.

"Continuei a privar com ele"

Quando se candidatou há cinco anos, Marcelo Rebelo de Sousa já se tinha prevenido para a eventualidade de o confrontarem com o facto de ser amigo próximo do presidente do BES, com quem costumava, aliás, passar férias de verão numa casa do banqueiro no Brasil.

Na altura, numa entrevista ao Expresso, quando confrontado com a pergunta "Não teme que a sua amizade com Salgado prejudique a campanha?" o então candidato respondeu assim: "Não prejudica minimamente. Eu sempre achei que a melhor maneira de ter amigos que exercem funções empresariais e têm algum peso económico é não depender deles. É a única forma de falar com eles em pé de igualdade ou até de superioridade".

"Em relação a Grupo BES, nunca aceitei funções de consultoria ou dependência funcional. E se sempre que entendo que devo exprimir em termos críticos a minha opinião exprimo-a, em relação a Ricardo Salgado, quando entendi criticá-lo critiquei-o", afirmou na mesma entrevista. Onde fez questão de recordar um discurso que levou ao Congresso do PSD em Tavira (quando Durão Barroso chegou à liderança do partido) para "falar sobre as ligações entre os poderes económico e político".

"Pediram-me nomes e eu disse exatamente que situação era essa. Ele (Ricardo Salgado) estava na China com uma delegação governamental e houve grande polémica, numa altura em que toda a gente o bajulava e os media o colocavam como o mais poderoso do país", continuou o então candidato presidencial que levava resposta pronta para a pergunta óbvia.

Mas Marcelo disse mais: "Depois, na venda da Vivo e da Optimus, que sempre achei desastrosa, fiz essa crítica, contra muitos dos que agora dizem que foi péssima mas na altura achavam-na ótima".

O remate teve o cuidado de não deixar cair a amizade com o homem que agora, cinco anos depois, está acusado de associação criminosa: "Mas eu também não sou daqueles que quando vêem um amigo em desgraça e quando antes o bajulavam, passam a ignorá-lo. Aí é que se vê a categoria moral das pessoas".

Na entrevista ao Expresso, Marcelo contava que a última vez que tinha falado com Ricardo Salgado era recente - "Há algumas semanas" - e concluía: "Agora não tenho tido muito tempo. Mas continuei a privar com ele, naturalmente".

O desmentido de Rita Cabral

Na sua próxima campanha eleitoral, Marcelo sabe que o combate pode subir de tom, pelo simples facto de, desta vez, ter que contar com adversários como André Ventura ou Ana Gomes, que não deixarão de explorar ao limite as eventuais ligações entre o Presidente e o velho amigo. Além de ser público que Rita Amaral Cabral, namorada de Marcelo Rebelo de Sousa, trabalhou no GES (Grupo Espírito Santo) como administradora não executiva entre 2012 e 2014.

Em 2019, o semanário Sol escreveu que, no âmbito de uma contestação apresentada por José Manuel Espírito Santo ao arresto de bens, várias testemunhas ouvidas no Tribunal Central de Instrução Criminal apontaram o dedo à Comissão sobre Transacções do Grupo Espírito Santo, que Rita Amaral Cabral integraria.

Mas a advogada negou ter apreciado ou tido poderes para validar a venda do papel comercial do universo Espírito Santo. Numa declaração ao Jornal de Notícias, Rita Amaral Cabral afirmou: “É absolutamente falso que alguma vez tenha feito parte de uma comissão com poder ou competência para apreciar ou validar qualquer venda de títulos ou obrigações de qualquer empresa do Grupo Espírito Santo (GES)”.

Preparado para ver o caso BES saltar para a campanha de janeiro próximo, Marcelo Rebelo de Sousa deu esta semana um passo em frente. A acusação do velho amigo "é uma boa notícia". Chegará para calar André Ventura?

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