O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares considera que as respostas convencionais à covid-19 se revelaram insuficientes na região de Lisboa, defendeu que houve sempre partilha de informação e entende como "transitório" o cargo de coordenador regional.
Nesta entrevista à agência Lusa, Duarte Cordeiro, que é o coordenador designado pelo Governo para o combate à pandemia na região de Lisboa e Vale do Tejo, afirma também que o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, o contactou para lhe transmitir que não pretendeu visá-lo quando criticou a forma como se estava a combater a covid-19 nesta área metropolitana.
"O contributo que [Fernando Medina] deu no seu comentário é válido e legítimo. Ele é também presidente da Área Metropolitana de Lisboa. Tenho um bom relacionamento com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa", declara.
Interrogado se o Governo respondeu com rapidez aos novos casos de infeção registados na Área Metropolitana de Lisboa, Duarte Cordeiro observa que houve "dez sessões no Infarmed", com a presença de todos os partidos com representação parlamentar e com o Presidente da República, e que o Governo "foi sempre partilhando a avaliação que era feita num dado momento".
"Os momentos de decisão do Governo iam acompanhando essas avaliações. Se me perguntam se a área da saúde verificou que as respostas não eram suficientes, isso constatou-se e, por isso, foi criado um gabinete para a supressão da crise em Lisboa e Vale do Tejo", responde.
Duarte Cordeiro salienta depois que o trabalho da saúde pública "é mais difícil no atual contexto do que na fase de confinamento, porque o número de contactos que cada pessoa tem é muito superior ao que tinha antes".
"As respostas que existiam, as respostas convencionais, não foram suficientes. Durante o mês de junho procurámos estruturar as novas respostas, foram criadas novas soluções e agora estamos a tentar dar força a essas soluções para que apareçam os resultados.
A falta de um acordo parlamentar à esquerda “diminuiu o quadro de compromisso”
O secretário de Estado considera ainda que a ausência de um acordo escrito entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV, ao contrário do que aconteceu na anterior legislatura, diminuiu o grau de compromisso.
Questionado se a ausência de um acordo escrito entre as forças de esquerda dificultou o seu papel como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, sobretudo num quadro em que o PS não tem maioria absoluta, Duarte Cordeiro reconheceu que "a não existência de um acordo parlamentar diminuiu o quadro de compromisso que existe entre os vários partidos".
"O posicionamento do PS e a visão que tem é a mesma, independentemente da existência desse acordo. A não existência desse acordo diminuiu o grau de compromisso", apontou.
Interrogado se atribui essa responsabilidade ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que não exigiu um acordo escrito entre os partidos de esquerda para dar posse ao segundo executivo liderado por António Costa, tal como antes fizera Cavaco Silva, Duarte Cordeiro recusou-se a entrar nesse debate.
"Não vou fazer agora nenhuma análise histórica relativamente à existência ou não desse acordo. Estou simplesmente a constatar um facto de que a não existência desse acordo obviamente reduz o nível de compromisso. Isso não impediu de forma alguma que nós aprovássemos o Orçamento do Estado de 2020. E espero que também não impeça que nós possamos aprovar o Orçamento do Estado de 2021", ressalvou o membro do Governo.
O PSD é mesmo oposição. “E é essa a natureza das coisas”
Duarte Cordeiro afirma também que, pela sua parte, não se ilude e que o PSD é mesmo oposição ao Governo, e argumenta que Rui Rio nunca se demarcou das respostas anti-crise do passado.
"Sentimos da parte dos vários partidos políticos no parlamento uma enorme compreensão e também um espírito de colaboração. Em muitos aspetos, a crise que nós estamos a viver está longe de terminada do ponto de vista da saúde pública e vamos ter, naturalmente, como estamos a ter, uma crise económica e social também igualmente das mais profundas que o país alguma vez viveu, defende.
No entanto, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares rejeita que haja uma aproximação de fundo do PSD ao Governo por, alegadamente, o seu presidente ser mais próximo do centro-esquerda. "Não me compete fazer esse tipo de avaliação. O contexto condiciona muito a ação das lideranças políticas. E o contexto que nós estamos a viver é bastante excecional", alega.
Interrogado se regista o facto de a atual liderança do PSD ter abandonado o discurso anti-José Sócrates e sobre a bancarrota de 2011, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares responde: "Eu não me iludo".
"O PSD é oposição ao Governo. E é essa a natureza das coisas. Acho que houve um espírito de colaboração e há um espírito de colaboração durante a fase em que nós vivemos num período do estado de emergência", salienta.