Rui Rio não o diz claramente mas é como se dissesse. Num vídeo na PSD/TV com partes de uma entrevista que deu ao Porto Canal, Rio fala da sua proposta de acabar com os debates quinzenais com o primeiro-ministro na Assembleia da República e assume que já pensa no que lhe poderá acontecer se um dia chegar a chefe do Governo.
"A nossa proposta, que dizem louca, de quem não percebe nada disto, não tem a preocupação de dificultar a vida ao primeiro-ministro (PM). Porque o primeiro-ministro hoje é um, e amanhã é outro", afirma Rio na gravação, onde explica qual é o seu entendimento sobre esta matéria. E onde faz uma segunda referência ao facto de se poder ver ele próprio no lugar de António Costa.
"O que devemos fazer na vida pública é o que entendemos que é melhor para o pais. E o que eu entendo que é melhor para o país é que, seja eu seja o dr. António Costa - afirma a dado passo - aqueles debates tenham uma particular dignidade e que possam servir para informar as pessoas, sem serem um circo que desprestigia a AR como muitas vezes acontece".
Rio ainda diz que não está "a fazer cálculos" - "Se tiver que chegar lá, chego, se não tiver, não chego, mas chego tranquilo", afirma. Mas estão lá as duas referências à eventualidade de se ver no lugar que Costa ocupa como protagonista dos debates quinzenais que ele (e Costa) quer extinguir.
Mais do que olhar ao seu "interesse pessoal" como líder da oposição, Rui Rio parece estar mais preocupado em avaliar o impacto ou o interesse dos debates quinzenais a partir do lugar de chefe do Governo. "Se eu olhasse ao meu interesse como líder da oposição, o que eu propunha era que os debates passassem de quinzenais a semanais e punha lá o PM todas as semanas, de maneira que tenha menos tempo para trabalhar e seja sujeito àquelas perguntas todas", afirma na entrevista.
Mas Rio diz mais: "Uma semana fazia eu, outra punha os deputados lá de trás a gritar para o PM e o espetáculo contava pouco porque eu resguardava-me e ele não se pode resguardar porque está ali a responder e tem que responder". Ou seja, mesmo no papel de líder da oposição, Rui Rio admite preferir resguardar-se num formato que o incomoda.
"Acha que, semana sim, semana não, naquela gritaria é algum escrutínio?, pergunta. Na sua opinião, "o que os deputados, muitas vezes, não é sempre, estão ali a fazer é a procurar o titulo para o telejornal", quando "o que nós devemos fazer na vida pública é fazer o que entendemos que é melhor para o Parlamento e para o país".
Rio fala de duas vias, "a larga, por onde vai toda a gente, e a estreita por onde eu vou sozinho". E defende que falta "coragem" no mundo político. "Toda a gente tem a mesma opinião mas como somos acusados de ser politicamente corretos, ninguém tem coragem. Esta é que é questão", defende, lembrando que quando defendeu uma alteração no Conselho Superior de Magistratura para equilibrar o poder dos juízes com pessoas de fora da corporação judicial, foi atacado precisamente "pelos do politicamente correto".
"Se explicarmos isto às pessoas é evidente que a esmagadora maioria vai concorda com a minha proposta: quem é que o vai julgar amanhã, é a sua família? Não pode ser!", afirma na entrevista, onde diz que "a esperança é a última a morrer".
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