Política

As 21 perguntas de Santana a Marcelo: “o que faria” se fosse oposição? Apoiava o atual Presidente?

Santana Lopes defende uma grande coligação à direita "não excluindo ninguém que aceite a liberdade" como valor e pergunta a Marcelo: perante o estado atual, o que faria?

As 21 perguntas de Santana a Marcelo: “o que faria” se fosse oposição? Apoiava o atual Presidente?

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Outrora no mesmo lado da barricada, agora mais separados politicamente do que nunca. O ponto de partida é sempre o mesmo: "O que faria Marcelo?". A pergunta do ex-líder do PSD e atual líder do Aliança sem funções executivas, que dá mote a mais 20 outras questões, não é inocente e é, aliás, uma interpelação que justifica uma acção: perante a atitude do Presidente da República e a sua aproximação ao PS de António Costa, a oposição à direita deverá juntar-se e encontrar outros caminhos nas presidenciais do próximo ano.

Num texto de opinião no Jornal de Negócios, Santana Lopes começa por recordar que o Aliança reservou para mais tarde uma pronúncia sobre as eleições presidenciais porque precisava perceber se Marcelo Rebelo de Sousa cumpriria três propósitos, sendo que o último, o que avalia o "grau de isenção do Chefe de Estado face ao Governo e aos partidos da oposição", era o mais importante. Agora, depois da "declaração de Palmela", como chama ao apoio implícito de Costa a Marcelo numa visita à Autoeuropa, Santana pergunta: "Se o atual PR fosse líder do PSD ou de outro partido, como agiria perante a declaração de António Costa na Autoeuropa?"

Por entre "factos", insinuações e indirectas mais do que directas, Santana vai lembrando a Marcelo que cada passo que dê ao encontro de António Costa é um passo que dá a desviar-se do caminho à direita. "Será certa ou errada a ideia, que vários comentadores têm difundido, de que já há bloco central com a entente PR-Governo?", questiona.

Depois de o CDS ter posto pontos de interrogação num possível apoio a Marcelo, Santana lança 21 perguntas com um único objectivo: questionar Marcelo se daria apoio a um Presidente com as suas características se fosse neste momento da oposição do espaço do centro-direita e da direita. Para o fazer Santana recorda a aventura dos quatro "Contra o Bloco Central" que reunia além de si, Conceição Monteiro, José Miguel Júdice e Marcelo Rebelo de Sousa. "Sei o que pensa a Conceição, tenho ouvido com muita atenção o José Miguel Júdice, e vou observando o Presidente também candidato. Como Presidente, já sabemos o que Marcelo faz e como faz. Mas se fosse líder do PSD ou de outro partido à direita do PS, ou seja, do espaço político de onde vem e onde sempre militou, o que faria Marcelo?"

O que faria Marcelo perante um cenário que o próprio criou de alienação do seu espaço político, vai insinuando Santana. O ex-primeiro-ministro olha para o pós-declaração na Autoeuropa e vê que depois disso, Marcelo "passou a privar mais e a elogiar o líder da oposição", Rui Rio. E pergunta, tendo em conta as críticas de Marcelo ao papel quase inexistente da oposição, se "tão grande proximidade política, já com apoio à recandidatura, dos dirigentes socialistas e do Presidente, tornará mais fácil ou mais difícil esse trabalho da oposição?"

Para Santana, António Costa conseguiu um espaço alargado de consenso que ficou demonstrado na aprovação do Orçamento Suplementar. "Entente PR-Governo e espaço alargado e variado de tolerância política na relação Governo-AR", disse, recordando que o PSD se absteve na votação do documento. "Ninguém ignora a situação que se vive e a razão de ser do documento em apreço. Mas, mesmo assim, será normal? Seria assim se fossem outros no Governo?"

E eis que chega ao ponto. Para Santana, a cerca de oito meses das eleições presidenciais, importa questionar sobre apoios à direita a uma recandidatura de Marcelo. "Deve, pode, quem seja oposição ao Governo, apoiar a recandidatura deste Presidente da República? Foi o próprio que, na resposta ao apoio de Palmela, declarado por António Costa, disse que aquilo que tinha ouvido do PM era fruto de um trabalho de equipa que nos próximos anos ia ser impossível (ou muito difícil) quebrar. O que significa isto politicamente? Alguém tem dúvidas? Se a oposição não fizer oposição a essa equipa, o Presidente acha que faz bem ou que faz mal? Que existe ou que não existe oposição? Considerará concebível que a oposição se junte à tal equipa?".

Perante o atual estado da relação política entre Marcelo e Costa, Santana reitera que é preciso uma união no centro-direira e direita. Diz que "ninguém quis" quando em 2018 e 2019 falou de uma grande união à direita. Agora, é tempo de revisitar essa ideia. "Já não tenham dúvidas: já admitem que é mesmo necessário esse 'rassemblement'? Como? Com quem? Quando? Depende da vontade, da arte, do engenho, de cada um. Não excluindo ninguém que aceite a Liberdade como valor inalienável", deixa no ar. Inclui o Chega? Fica a pergunta.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lvalente@expresso.impresa.pt

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