A frase tem mais de provocação do que desafio genuíno. Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, Joaquim Miranda Sarmento, porta-voz do PSD para as Finanças e presidente do Conselho Económico Estratégico (CEN) do partido, sugere que Mário Centeno não deve deixar o Governo porque é neste momento, em plena crise mundial, que o ministro tem de provar o que vale. “Nesta fase crítica, seguramente precisamos que o dr. Centeno continue como ministro das Finanças, até para mostrar de facto a robustez que tanto apregoa nas contas públicas e na economia portuguesa”, diz.
Antecipando que a economia portuguesa “vai-se ressentir e crescer menos, sobretudo em sectores que têm sido muito dinâmicos como o turismo, os serviços e também nas exportações”, Miranda Sarmento garante que o PSD estará sempre disponível para apoiar o Governo naquilo que for o “interesse do país”, nomeadamente em “tudo o que seja feito pelo Governo e pelo sector financeiro de apoio de tesouraria, que permitam às empresas acomodar este choque externo será naturalmente bem-vindo”. Mas avisa: “Isso não é necessariamente - eu sei que o PS muitas vezes confunde isso - o interesse do PS. É o interesse do país”.
Em contrapartida, e esta é uma novidade face ao discurso de Rui Rio, o conselheiro do líder social-democrata parece fechar a porta à eventual ida de Mário Centeno para o Banco de Portugal. Confrontado com as declarações de Rui Rio, que já assumiu não ver qualquer tipo de incompatibilidade, Miranda Sarmento corrige e sugere que o líder social-democrata apenas falava em termos teóricos.
“O que disse o dr. Rui Rio foi que o académico e economista Mário Centeno tem as qualidades e perfil para a ocupar o lugar do governador, como têm dezenas de economistas portugueses. O dr. Rui Rio não disse que apoiava. Disse que estava disponível para conversar com o primeiro-ministro sobre a solução para o Banco de Portugal, porque, recordemos, além do governador está em aberto um lugar de vice-governador e outro de administrador”, sublinha Miranda Sarmento, antes deixar nova bicada: “O PSD entende que o ideal para o Banco de Portugal seria a nomeação de independentes com currículo académico, mas não quer, sobretudo, uma colonização do BdP por parte do PS”.
Traduzindo: Rui Rio não fecha a porta a Mário Centeno no Banco de Portugal, mas exige a António Costa que negoceie com o PSD os restantes dois lugares.
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