Política

Abel Matos Santos oculta publicações em que chamava “agiota de judeus” a Aristides e elogiava Salazar

Abel Matos Santos deu apoio a Francisco Rodrigues dos Santos e foi depois chamado à sua direção
Abel Matos Santos deu apoio a Francisco Rodrigues dos Santos e foi depois chamado à sua direção
Rui Duarte Silva

Publicações já não estão visíveis. Dirigente do CDS pediu desculpa mas diz-se vítima de um ataque “pessoal e político”. António Pires de Lima pede demissão

A notícia das publicações em que Abel Matos Santos, dirigente do CDS, chamava “agiota de judeus” a Aristides Sousa Mendes e elogiava Salazar e a PIDE provocou ondas de choque. Desde logo, no Facebook do próprio Abel, em que já não se encontram disponíveis os posts em causa (antes, estavam visíveis para qualquer utilizador da rede social).

A declaração que mais polémica causou data de 2012 e tem a ver com o cônsul português, que emitiu milhares de vistos para judeus durante a Segunda Guerra Mundial contra a vontade de Salazar. A acompanhar uma notícia do "Público" sobre uma frase do embaixador israelita, Abel indigna-se: “Porque será que defendem Sousa Mendes, que foi um agiota dos judeus?”.

Apesar de haver outros posts controversos, como aquele em que dá vivas a Salazar (“um dos maiores e melhores portugueses de sempre”) e elogia a PIDE, foi o ataque ao diplomata português que causou maior desconforto, no partido e fora dele. Esta quinta-feira, a Comunidade Israelita de Lisboa emitiu um comunicado em que defendia que o CDS “não pode estar conivente” com as declarações do seu dirigente, que viu com “estupefação e surpresa” pelo teor “ofensivo à memória de um dos maiores diplomatas de Portugal”.

Com as fileiras centristas em alerta - muitos militantes partilharam as suas preocupações ou demarcaram-se das posições assumidas por Abel Matos Santos -, o dirigente, ex-porta-voz da corrente interna do CDS Tendência Esperança em Movimento, acabou por fazer um pedido de desculpas formal na sua página de Facebook onde, no entanto, diz estar a ser vítima de “ataques políticos e pessoais” tendo por base frases “descontextualizadas e distorcidas no seu significado”.

Por entre a indignação de muitos membros do partido - dois candidatos às eleições europeias, Raquel Vaz Pinto e Vasco Weinberg, fizeram publicações em que se demarcam das palavras de Matos Santos; Telmo Correia escreveu um post sobre a libertação de Auschwitz em que rejeitava a “desvalorização dos heróis humanistas”; Michael Seufert viu nas palavras de Matos Santos uma “vergonha” - o ex-ministro António Pires de Lima tomou a iniciativa de desafiar Francisco Rodrigues dos Santos a retirar a confiança política a Abel, obrigando-o a deixar a Comissão Executiva do partido.

Até agora, essa atitude não foi tomada pela direção do partido. Ao Expresso, questionado sobre as publicações de Matos Santos, o vice Filipe Lobo d'Ávila reagiu na quarta-feira garantindo que a direção “desconhece” estas posições mas que o pensamento de Matos Santos, tendo exercido cargos locais e feito parte da Comissão Política anterior, é “conhecido” do partido.

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