Política

Ventura pode ser punido por pedir deportação de Joacine? “É melhor que se digam coisas de que discordamos do que ter limites ao que se diz”

Ventura pode ser punido por pedir deportação de Joacine? “É melhor que se digam coisas de que discordamos do que ter limites ao que se diz”
MÁRIO CRUZ/Lusa

Ventura pediu que Joacine fosse “devolvida ao seu país de origem”. A deputada não comenta, o Livre repudia e o Bloco de Esquerda já pediu a condenação das declarações. Ao Expresso, José Manuel Pureza e Fernando Negrão, ambos vice-presidentes da Assembleia da República, explicam por que razão dificilmente o caso terá consequências

Ventura pode ser punido por pedir deportação de Joacine? “É melhor que se digam coisas de que discordamos do que ter limites ao que se diz”

Marta Gonçalves

Coordenadora de Multimédia

Primeiro foi o Livre que se fez ouvir em defesa da sua deputada única: “as divergências políticas não podem dar lugar nunca a manifestações discriminatórias”. Pouco depois, o Bloco de Esquerda apelou a que todos os partidos e deputados se manifestem contra “este ato que exige de todos uma frontal condenação”. O ato em causa é pedido de “devolução” de Joacine Katar-Moreira “ao seu país”, feito numa publicação no Facebook por André Ventura. As declarações caíram mal - e durante a tarde desta terça-feira o nome da deputada do Livre foi um dos temas mais comentados no Twitter - mas podem trazer alguma consequência para o líder do Chega?

“É melhor que se digam coisas com que discordamos do que ter limites ao que se pode dizer”, diz ao Expresso Fernando Negrão, vice-presidente da Assembleia da República (AR) e também deputado social-democrata, que recusa dar a sua opinião sobre as declarações de Ventura. O mesmo fez José Manuel Pureza, que considera tratar-se “de uma declaração claramente de natureza política para espicaçar o debate político”. “É uma afirmação política que exige uma resposta, uma contra-argumentação e debate público”, acrescenta o também vice-presidente da AR.

No código de conduta dos deputados à Assembleia da República, que “estabelece os princípios e critérios orientadores que devem presidir ao exercício do mandato”, nada há nada que limite o que os deputados podem ou não dizer. “A liberdade de expressão não está prevista no código. E ainda bem que não está, aliás não está propositadamente definida”, sublinha Negrão.

José Manuel Pureza acredita que “dificilmente” o caso trará qualquer tipo de consequência. No entanto, também recusando comentar especificamente as declarações de Ventura, defende que “deve sempre prevalecer a liberdade de expressão”. “Claro que há limites se estivermos a falar de uma declaração que tem implícita fundamentos racistas ou discriminatórios.”

O apelo de condenação de Pedro Filipe Soares, deputado do Bloco de Esquerda, no Twitter não é um anúncio de que o partido vai apresentar um voto de condenação, é uma mensagem política que pede a que os membros do Parlamento exprimem o desagrado pela publicação em causa, explica ainda Pureza.

Ainda assim, e se eventualmente for apresentado um voto de condenação e os deputados o validarem, a Assembleia da República apenas exprime o seu repúdio pelo caso. Novamente, uma mensagem política de desagrado e não qualquer tipo de sanção.

Esta terça-feira, André Ventura usou as redes sociais para pedir a deportação de Joacine Katar Moreira. Numa publicação na sua página pública de Facebook, pediu que a deputada fosse “devolvida ao seu país de origem”, considerando que isso traria “tranquilidade” para Portugal e para o próprio Livre.

O comentário de André Ventura surge com a partilha de um texto do “Jornal de Notícias” sobre a proposta de alteração do Orçamento do Estado apresentada pelo Livre que pede que o património das ex-colónias expostos em museus seja devolvido às comunidades de origem. Ou seja, o património das ex-colónias portuguesas que esteja atualmente na posse de museus e arquivos nacionais deve ser identificado, reclamado e restituído às comunidades de origem.

A única deputada eleita pelo Livre nasceu há 37 anos na Guiné-Bissau, de onde saiu aos oito. Desde então vive em Portugal e tem nacionalidade portuguesa. Contactada pelo Expresso, recusou comentar o assunto.

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