João Lourenço pede ajuda a Portugal para eleições autárquicas em Angola
O Presidente angolano também deseja mais facilidade de circulação dos nacionais dos dois países, mas enunciou no jantar oficial uma posição contrária à portuguesa na Venezuela
O Presidente angolano também deseja mais facilidade de circulação dos nacionais dos dois países, mas enunciou no jantar oficial uma posição contrária à portuguesa na Venezuela
Jornalista
João Lourenço pediu ajuda a Portugal para a organização das eleições autárquicas que o país vai realizar pela primeira vez, em 2020, para um total de 164 autarquias (e o mesmo número de eleições diferentes). O desejo foi formulado no discurso de abertura do jantar oficial com Marcelo Rebelo de Sousa. No entanto, o Presidente angolano não especificou em que consistia esse apoio.
"No quadro do aprofundamento da democracia representativa e participativa, a República de Angola vai realizar, pela primeira vez, eleições autárquicas. Tratando-se de uma experiência nova na cultura política do nosso país, gostaríamos de contar com o apoio dos países amigos, no caso de Portugal, por possuir uma longa tradição e experiência nesse domínio”, afirmou João Lourenço.
O Presidente de Angola também deseja "uma nova dinâmica nas relações bilaterais e que se estabeleça maior facilidade de circulação entre os cidadãos de ambos os países”, mas voltou a não entrar em pormenores.
Apesar de ter sido um dia em que não pareceu haver dissonâncias entre os dois países, João Lourenço acabou por enunciar uma posição diplomática que não corresponde exatamente à actual linha da Política Externa portuguesa. Depois de falar da paz na Península Coreana ou do reconhecimento da Palestina como Estado, o Presidente angolano referiu a situação da Venezuela, em termos ambíguos, sem explicitar o apoio do Governo de Angola ao regime de Nicolás Maduro - enquanto Portugal reconhece Juan Guaidó como Presidente encarregado de convocar eleições livres e justas no país.
“Com muita atenção temos acompanhado a evolução da situação na Venezuela, onde pensamos não ser tarde ainda dar-se uma oportunidade ao diálogo aberto entre as forças políticas internas para que possam resolver na base da lei e da vontade do povo o diferendo político criado. Isso, em prol do bem estar e da prosperidade do povo venezuelano e da paz e segurança na região”, referiu João Lourenço.
Na conferência de imprensa que deu na segunda-feira para antecipar a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, frisou essa posição de forma mais clara: "Obviamente que o Estado angolano não tem razões para deixar de reconhecer o Governo da Venezuela. É um governo legítimo e eleito e é com ele que temos relações diplomáticas. No que diz respeito à crise na Venezuela, Angola pugna pelo diálogo e parece que é esta posição é a que vai prevalecer. Com as últimas informações, com os últimos sinais, tudo indica que não há outra saída se não o diálogo", sublinhou.
Quanto a Marcelo, o Presidente angolano enfatizou as boas relações pessoais entre ambos para facilitar o desenvolvimento de resultados na relação entre os dois Estados, aos mais variados níveis: “Devemos tirar um maior proveito possível da informalidade que vos é característica, do vosso passado e vocação africanista e da empatia que entre nós existe para darmos um novo e decisivo impulso às relações diplomáticas e de cooperação económica entre os nosso países, angola e Portugal".
E rematou com um toque de (uma certa) poesia: "Enquanto estiver em solo pátrio, sinta-se como a estrela mais brilhante no firmamento angolano”. Marcelo fará certamente por isso.
Na abertura do mesmo jantar, Rebelo de Sousa já tinha discursado e elogiado o primeiro ano e meio de mandato do homólogo, que na sua opinião “protagonizou um projeto de paz, democracia, regeneração financeira, combate à corrupção e afirmação regional e mundial”. E garantiu apoio futuro: “Nós, portugueses, seguimos essa aposta de modernização, transparência, de abertura, de inovação, de acrescida ambição no futuro”. Amanhã, quinta-feira, o “Ti Celito” segue para Lubango e Benguela, onde se realiza um fórum empresarial.
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