Política

Associação 25 de Abril cede espaço para conferência de Nogueira Pinto

Associação 25 de Abril cede espaço para conferência de Nogueira Pinto

Ao contrário de estudantes da Universidade Nova de Lisboa, que viam "argumentos colonialistas, racistas e xenófobos" no movimento que promovia a iniciativa, os Capitães de Abril querem dar voz ao politólogo

Associação 25 de Abril cede espaço para conferência de Nogueira Pinto

Paulo Paixão

Jornalista

A Associação 25 de Abril saiu na tarde desta terça-feira em defesa de Jaime Nogueira Pinto, oferecendo o seu espaço para que o politólogo possa lá realizar uma conferência sobre o tema “Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate”, que esteve prevista para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, mas foi cancelada.

Em comunicado, a Associação 25 de Abril, que é presidida por Vasco Lourenço, um dos mais conhecidos Capitães de Abril, informa que decidiu "manifestar ao Prof. Nogueira Pinto o repúdio [pelo] silenciamento da sua opinião". Ao mesmo tempo, a A25A disponibiliza "as suas instalações para a realização da conferência, se [Jaime Nogueira Pinto] assim o entender".

A decisão de suspender a realização da conferência foi tomada pela direção da FCSH, na sequência de um pedido da respetiva associação de estudantes e do clima entretanto gerado na universidade. O diretor da faculdade, Francisco Caramelo, alegou questões de "segurança", que em seu entender não estaria assegurada.

Segundo se crê, o alvo das ameaças não seria Jaime Nogueira Pinto, mas elementos do movimento Nova Portugalidade (que são simultaneamente estudantes da FCSH), que organizaram o evento.

O cancelamento da conferência foi feito após uma solicitação da direção da Associação de Estudantes (AE). Na base do pedido da AE está uma moção aprovada num plenário realizado a 2 de março (com 24 votos a favor, quatro contra e três abstenções). No texto dizia-se que o "evento está associado a argumentos colonialistas, racistas e xenófobos".

Num comunicado divulgado esta terça-feira pela direção da AE, a estrutura tenta meter água na fervura, explicando que o pedido para que fosse cancelada a reserva da sala onde iria decorrer a conferência foi feito não por iniciativa própria, mas para dar seguimento à conclusão do plenário.

"Queremos deixar bem claro que esta questão não se prende com um silenciamento de divergências políticas nem com um ataque a qualquer orador convidado, mas sim com um cumprimento estatutário à qual a AEFCSH está vinculada", diz a direção da AE.

Nostalgia do PREC?

Aos críticos da decisão tomada pela direção da FCSH juntou-se esta terça-feira José Ribeiro e Castro. O antigo líder centrista apelou ao boicote a conferências que sejam realizadas na faculdade enquanto não for dada uma explicação sobre o cancelamento da iniciativa que esteve marcada com Jaime Nogueira Pinto.

"Já participei em debates na FCSH. Não tornarei a participar enquanto não for tomada uma posição e apelo às pessoas que tenham apreço pela liberdade a fazer o mesmo, enquanto não for dada uma explicação sobre o que se passou, um pedido de desculpas e uma garantia de que não se voltará a verificar uma situação como esta", disse José Ribeiro e Castro, citado pela Lusa.

Para o ex-deputado do CDS, esta questão "mancha o prestígio de uma universidade de referência portuguesa". Para Ribeiro e Castro, o cancelamento da conferência faz "lembrar o PREC [Processo Revolucionário em Curso] e 1975, mas nessa altura havia Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre e agora leio que há vozes no PS que apoiam este desmando autoritário".

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