Os números impressionam. Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde, divulgado no ano passado, 28% dos adolescentes portugueses sentem-se infelizes e 9% dizem-se “tão tristes que não aguentam mais”. É verdade que a adolescência sempre foi uma fase da vida associada a algum mal-estar psicológico, mas vários indicadores, como o aumento do consumo de psicofármacos ou o crescimento das tentativas de suicídio, mostram que o sofrimento parece estar a agravar-se.
“Vejo a minha geração mais triste do que as gerações anteriores”, admite Beatriz Oliveira, de 17 anos, apontando que muitos jovens estão hoje “agarrados a jogos ou a redes sociais, mais fechados sobre aquilo que sentem” e com dificuldade em criar relações.
No quinto episódio do podcast “Que Voz é Esta?”, dedicado à saúde mental dos adolescentes, o pedopsiquiatra Augusto Carreira, antigo diretor do serviço de psiquiatria da infância e da adolescência do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, explicou alguns dos fatores que podem estar a provocar um agravamento do mal-estar psicológico dos mais jovens, como as profundas alterações sociais e familiares que têm vindo a acontecer nos últimos anos, de forma acelerada.
“O modelo de socialização dos jovens hoje em dia é diferente. É um modelo em que as pessoas, parecendo que estão acompanhadas, estão na verdade numa grande solidão”, explica, considerando que “este isolamento motivado pelas tecnologias” é um dos fatores que ajudam a explicar o agravamento dos sinais de sofrimento entre os adolescentes.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: JBastos@expresso.impresa.pt