O que a Global Media nos avisa sobre o futuro do jornalismo? Filipe Santa-Bárbara, Luís Simões e Pedro Coelho respondem a Daniel Oliveira
Para falar sobre o que se passa na Global Media e, a partir daí, no jornalismo, Daniel Oliveira recebe três jornalistas no podcast Perguntar Não Ofende. Filipe Santa-Bárbara, jornalista da TSF e porta-voz da sua comissão de trabalhadores, Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas e jornalista d’A Bola, e Pedro Coelho, presidente da Comissão Organizadora do 5º Congresso dos Jornalistas e jornalista da SIC
Os trabalhadores da Global Media estão com salários em atraso e o risco de encerramento da TSF, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e vários outros títulos históricos é muito real. Não é uma questão de património histórico que outros títulos venham a substituir. Seria a mais rápida redução de pluralismo num setor em crise profunda e sem o qual, na era da desinformação produzida de forma industrial, nos podemos começar a despedir da democracia.
A situação na Global Media era má há muito tempo. Sofre, como toda a imprensa nacional e boa parte da imprensa em todo o mundo, com uma crise de modelo de negócio trazida pelas redes sociais, que sugaram grande parte da receita publicitária sem produzir muitos conteúdos e pagando muito poucos impostos. Sofre com uma nova cultura de consumo que não aceita pagar para ler notícias ou consumir conteúdos culturais. E sofre com o preconceito de quem vê o apoio cego do Estado a um bem essencial para a sobrevivência da democracia como mais perigoso para a independência do jornalismo do que o mecenato ideológico privado. Como disse o CEO da Impresa recentemente, “os media estão sitiados de pessoas que lá estão pelas razões erradas, ou para se promoverem a si próprias, aos seus negócios ou narrativas falsas”.
Há cortes de pessoal até à insustentabilidade de um jornalismo com mínimos de exigência e qualidade em todos os grupos de comunicação social. Mas na Global Media as coisas degradaram-se até ao absurdo. Depois da entrada de empresários sem qualquer relação ou conhecimento do setor, o toque de finados veio com a entrada de um fundo com sede nas Bahamas que ninguém sabe a quem realmente pertence, que interesses promove e que parecia depender da venda da participação da Global Media na Lusa ao Estado para pagar os salários nos próximos meses.
Nuno Fox
Ana Rita Goes é professora do Departamento de Estratégias em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa
É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha. Subscreva (no Spotify, Apple e Google) e oiça mais episódios: