Palavra de Autor

Palavra de Autor #21 João Pacheco, filho de Fernando Assis Pacheco: “A Guerra nunca saiu dele”

“A Musa Irregular, edição aumentada” (Tinta-da-China) reúne grande parte da poesia de Fernando Assis Pacheco, escritor, poeta, jornalista, crítico literário, e conta com a colaboração do seu sexto filho e único rapaz, João Pacheco. Aquele que descobriu a poesia do pai já depois dele morrer, em 1995, quando tinha apenas 14 anos. Neste Palavra de Autor, João Pacheco conversa com Cristina Margato evocando a memória do poeta, mas também do pai escritor, do jornalista entusiasmado, do homem melancólico, dado a uma certa “morrinha”. Fernando Assis Pacheco viveu atormentado pela guerra colonial, à qual foi parar em 1962, e da qual nunca mais se livrou, muito menos na poesia. João Pacheco lê poemas e lembra canções que o pai escreveu, como a famosa “Nini”, para Paulo de Carvalho, ou “Como Hei-de Amar Serenamente” para Adriano Correia de Oliveira. Em tempo de comemoração de mais um 25 de Abril, começamos por recordar as palavras que o poeta escreveu às primeiras horas da Revolução

Fernando Assis Pacheco ficará para a história como um dos primeiros a inscrever a experiência infernal da Guerra Colonial num texto literário português. A obra, publicada em 1972, com um nome vietnamita que pretendia desviar as atenções da censura, “Câu Kiên: um resumo”, reunia uma grande parte dos poemas que foi escrevendo enquanto jovem enviado pela ditadura portuguesa a Angola, pouco depois do conflito começar.

Os poemas sobre a guerra são, no entanto, anteriores, e no primeiro livro que publica, em Coimbra, em 1963, “Cuidar dos Vivos”, (parte de uma frase roubada ao Marquês de Pombal: “cuidar dos vivos, enterrar os mortos”), há já dois exemplos.

“A Musa Irregular” (1991), reunião da sua poesia realizada pelo próprio em 1991, foi alvo de uma edição aumentada, que inclui vários inéditos e poemas menos conhecidos.

A organização do livro, editado pela Tinta-da-China, é de Abel Barros Baptista e de Pedro Mexia, mas foi João Pacheco que vasculhou os papéis do pai, seguiu as pistas, contactou amigos a quem Assis Pacheco pudesse ter enviado poemas.

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Um dos poemas, aquele que abre este podcast, foi escrito nas primeiras horas do 25 de Abril, e enviado por telefone ao “Jornal do Fundão”, que o publicou a 5 de Maio de 1974.

João Pacheco, que também é jornalista como o pai, e filho de donos de um jornal, pelo lado da mãe (“Diário de Lisboa”) descobriu a existência desse poema através da leitura de uma crónica que o pai escreveu para a rádio, na qual referia o poema, sem, porém, o ler. Seguiu-lhe o rasto e foi resgatá-lo às páginas do “Jornal do Fundão”, onde foi publicado em Maio de 1974. É por aí que começamos, nem que seja porque comemoramos mais um 25 de Abril.

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