Sinel de Cordes: “O que aprendi na terapia foi a não apontar logo o dedo, depois também não podes exigir tolerância quando fores tu a errar”
No último mês de janeiro, Rui Sinel de Cordes foi notícia um pouco por todo o lado. Durante o espetáculo “Morro Amanhã”, de homenagem ao falecido humorista Ricardo Vilão, que fez em conjunto com Salvador Martinha e Luís Franco-Bastos, o humorista envolveu-se numa troca de palavras com uma pessoa do público e deixou alguns insultos. Sinel de Cordes não demorou a pedir desculpa e a intitular a situação como “uma noite de falhanços”. Saiba mais sobre a história no novo episódio do podcast Ontem Já Era Tarde
Apesar de admitir o erro, gerou-se um grande movimento de contestação nas redes sociais e o espetáculo seguinte, marcado para o Porto, acabaria por ser cancelado: “Esse cancelamento foi algo que me ultrapassou e nada podia fazer, mas na sequência deste episódio tive duas realidades. Uma delas super tolerante, porque tenho salas cheias no meu espetáculo [King Cordes], outras pessoas mais desconfiadas, que não gostaram, mas que vão ver o espetáculo para ver se eu falo no assunto, e falo, e outras que acharam imperdoável e não quiseram ir ver-me. E está tudo bem”. Sinel de Cordes, porém, prefere focar-se no lado da tolerância: “As pessoas podiam devolver os bilhetes já comprados para o meu espetáculo a solo e não o fizeram. E nem recebi hate mail porque já estava tudo a dizer mal cá fora [risos]”.
Mais importante para o humorista foram os amigos que o contactaram para dar apoio: “Tive uma experiência em que parece que tinha morrido, mas não. Todos os meus amigos me ligaram a dizer o quanto gostavam de mim. Depois recebi milhares de mensagens de pessoas que têm ido a todas estas salas onde faço o espetáculo e que sentiram que aquela foi a pior fase da minha vida profissional e que inclui depois a pessoal porque sou muito ligado ao meu trabalho.”
Foi nesse momento, revela, que as pessoas contaram-lhe histórias que ele nem sabia e que o ajudaram a vir para cima: “Tive pessoas que me diziam: ‘Uma vez, estava na merda, disseste-me uma cena..’ , coisas assim, para me darem moral. E isso ajudou-me imenso a sair daquele buraco.”
Depois de passar por esta situação, também com o caminho de desenvolvimento pessoal que procura ter, parte dele através da terapia, que considera fundamental nesse processo, Sinel de Cordes admite que, durante muitos anos, não era a pessoa mais tolerante às falhas alheias, mas tem vindo a mudar essa parte.
“Se tiveres essa intolerância em relação aos outros, olha a fragilidade em que te colocas. É só olhar para o relógio. Vais lixar-te em algum momento. E depois muitos são hipócritas e colocam-se numa numa posição em que assinalam as falhas dos outros e nunca as deles. Bom é estar noutra. Dizer, ‘Meu amigo, falhaste? Relaxa, todos falhamos.’ E assim ganhas uma vida. Quando fizeres merda, já vão ser mais compreensivos contigo. Se te queres evidenciar, esta é uma forma muito melhor do que mandar os outros para baixo porque falharam.”
O futebol é o ponto de partida nestas conversas sem fronteiras ou destino agendado. Todas as semanas, sempre à quinta-feira, Luís Aguilar entra em campo com um convidado diferente. O jogo começa agora porque Ontem Já Era Tarde.