Paul Kagame acaba de ser reeleito para um quarto mandato presidencial. O homem que apresentou “uma visão de desenvolvimento do novo Ruanda”, acompanhada por um espartilho democrático e elevados índices de pobreza e desemprego, coloca o país num outro dilema três décadas depois do genocídio: quem poderá suceder-lhe? Oiça aqui o podcast O Mundo a Seus Pés
As mais recentes eleições presidenciais e legislativas no Ruanda realizaram-se a 15 de julho, dia em que se cumpriram 30 anos sobre o fim do genocídio no país. Em cerca de 100 dias, entre abril e julho de 1994, foram mortos mais de 800 mil civis: tutsis na maioria, mas também hutus moderados.
Paul Kagame, que, sem surpresa, foi reeleito, com 99% dos votos, para um quarto mandato, emergiu como o “arquiteto do processo de reconciliação nacional”. Através de “uma liderança personalizada e carismática” e impondo “uma história oficial”, tem assumido os destinos do país com base num “trade-off entre estabilização, desenvolvimento e crescimento e uma democracia consensual, que, na prática, viola os princípios básicos da democracia”.
Quem o diz é Teresa Nogueira Pinto, professora de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Lusófona, convidada deste episódio, que também se debruça sobre a presença militar ruandesa, muito criticada, na República Democrática do Congo, e a cooperação, muito saudada pelo Presidente moçambicano, no combate aos extremistas em Cabo Delgado.
Quanto ao “dilema” da sucessão de Kagame, para já, apenas uma certeza: “ninguém se atreve a chegar-se à frente”.
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