“Juventude moçambicana quer mudança”, mas Frelimo e Renamo ainda reclamam paternidade de independência e democracia
Em ano de presidenciais, os dois maiores partidos de Moçambique insistem num discurso sem ressonância numa geração que “já nasceu após a independência e cresceu no pós-guerra”. Oiça aqui o podcast O Mundo a Seus Pés, gravado em dia de congresso do maior partido da oposição
Ossufo Momade foi reconduzido na presidência da Renamo, o maior partido da oposição de Moçambique. Após ter assumido interinamente a liderança, na sequência da morte de Afonso Dhlakama em 2018, e de, no ano seguinte, ter sido eleito em congresso, Momade voltou na quinta-feira a merecer a confiança da maioria dos congressistas.
Com 383 votos, Momade ficou à frente de Elias Dhlakama, irmão do líder histórico, com 147 votos, e de Ivone Soares, sobrinha de Afonso Dhlakama, ex-líder parlamentar e a ‘favorita’ de vários analistas, com 78 votos, num total de nove candidaturas aceites.
Ivone Soares é ex-líder parlamentar, sobrinha de Dhlakama e candidata à liderança da Renamo
Com as presidenciais marcadas para 9 de outubro, resta saber se, como é tradição, Momade será também o candidato da Renamo a essas eleições. A Frelimo, partido no poder, já anunciou Daniel Chapo como o seu candidato na corrida à sucessão de Filipe Nyusi.
À hora a que este episódio foi gravado, os cerca de 700 congressistas ainda estavam reunidos no segundo e último dia do VII Congresso da Renamo, que decorreu em Alto Molócuè, na província da Zambézia, não se conhecendo ainda os resultados da votação.
Maria Paula Meneses, investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, destaca “a questão geracional” como “a grande crise” que os dois maiores partidos atravessam. Num país onde 60% da população tem menos de 35 anos, esta geração “já nasceu após a independência e cresceu no pós-guerra”, pelo que “entra com outras ambições políticas”.
Luís Nhachote, coordenador executivo do centro de jornalismo investigativo, em Maputo, diz que a Frelimo e a Renamo estão “mais focalizadas em encontrar aquele voto rural, que determina quem ganha as eleições, do que no eleitorado urbano”. Ora, enquadra, isto ajuda a explicar a falta de densidade programática da maioria dos candidatos: o eleitor urbano tende a interessar-se mais pelas propostas, mas não é ele quem decide eleições.
Patrulha militar na cidade de Palma, em Cabo Delgado