Desinformação, notícias falsas e radicalização nas redes sociais: o jornalismo ainda consegue explicar uma guerra?
Os algoritmos das redes sociais, que selecionam por nós o que visualizamos em primeiro lugar nos nossos murais de conteúdos, privilegiam o que é violento, o que é extremo, o que é chocante e o jornalismo tem de concorrer com estes estímulos e oferecer antes explicações que muitas vezes são longas, analíticas, “desinteressantes” por comparação. Uma conversa com José Pedro Frazão, jornalista, e Rita Figueiras, investigadora na área da comunicação no podcast O Mundo a Seus Pés, moderado por Ana França
Cada telemóvel filma um ângulo da explosão, cada pessoa tem um canal no Youtube, todos podemos criar conteúdos e os jornalistas utilizam, muitas vezes, esses conteúdos, até porque nem sempre é possível ir ao terreno. Gaza é um território fechado, o jornalismo independente escasseia, e a verificação de informação tornou-se parte diária do trabalho do jornalista. Cada telemóvel filma um ângulo da explosão, cada pessoa tem um canal no Youtube, todos podemos criar conteúdos e os jornalistas utilizam, muitas vezes, esses conteúdos, até porque nem sempre é possível ir ao terreno. Gaza é um território fechado, o jornalismo independente escasseia, e a verificação de informação tornou-se parte diária do trabalho do jornalista. Os algoritmos das redes sociais, que selecionam por nós o que visualizamos em primeiro lugar nos nossos murais de conteúdos, privilegiam o que é violento, o que é extremo, o que é chocante e o jornalismo tem de concorrer com estes estímulos e oferecer antes explicações que muitas vezes são longas, analíticas, “desinteressantes” por comparação. Uma conversa com José Pedro Frazão, jornalista, e Rita Figueiras, investigadora na área da comunicação no podcast O Mundo a Seus Pés, moderado por Ana França
Quando as mentiras se tornam verdades para milhões de pessoas, tornam-se também capazes de gerar ódios, violência que sai do mundo virtual e se materializa em campos de batalha muito reais. Já na guerra da Ucrânia, para falar apenas de guerras que tiveram início nos anos 20 deste século, a propaganda que se espalha muito mais do que a verdade que a poderia neutralizar foi um dos principais campos de análise de académicos e jornalistas. Agora que uma nova guerra se abre no Médio Oriente, voltamos a ter de distinguir o que é real e o que é fabricado, e cada vez parece haver menos tempo para esse exercício. Acresce que o trabalho do jornalista vai muito além do de confirmar ou desmentir tudo o que se publica nas redes sociais.
Nesta guerra já vimos vídeos de crianças fechadas em jaulas, alegada prova da barbárie do Hamas, já vimos imagens de uma igreja destruída em Gaza, apresentada como a terceira mais antiga do mundo, já ouvimos mensagens de voz de alegados membros dos serviços secretos de Israel a avisar a família que estaria para breve uma invasão de Israel coordenada pelos habitantes árabes do país - cerca de 20% da população de Israel. São conteúdos com um enorme potencial de choque, um isco perfeito para o algoritmo das redes sociais, que privilegia mensagens disruptivas, radicais, e as coloca em primeiro lugar entre os conteúdos que consumimos quando abrimos as redes.
Neste episódio do podcast de internacional O Mundo a Seus Pés vamos falar de notícias falsas, viralidade, jornalismo em tempo de desmultiplicação de fontes e a influência das redes sociais na formação das nossas ideias sobre o que se passa no mundo. Convidámos José Pedro Frazão, repórter e editor da Rádio Renascença, que cobriu diversos conflitos, uns com mais internet que outros e também Rita Figueiras, que é professora de Comunicação na Universidade Católica, investigadora do Centro para Comunicação e Cultura da mesma universidade e ainda investigadora principal do projeto Media Surveillance and Experiences of Authoritarianism, que junta análise de comunicação com a influência dessa comunicação na criação de movimentos autoritários. A sonoplastia do episódio é de João Martins.
O Mundo a Seus Pés é um podcast semanal apresentado, em rotatividade, por Pedro Cordeiro, Ana França, Manuela Goucha Soares e Hélder Gomes.