O Futuro do Futuro

“A organização económica vai sofrer um abalo devido à Inteligência Artificial. Vai haver revolta e necessidade de um novo contrato social”

“As máquinas podem e devem ser as nossas escravas”, defende Luís Moniz Pereira, pioneiro da informática e uma das referências nacionais na ética da Inteligência Artificial. No podcast Futuro do Futuro, o professor emérito da Universidade Nova de Lisboa garante que o espectro do desemprego já perfila no horizonte próximo e que serão os empregos que mais dependem de rotinas que vão sofrer mais com esta viragem. Oiça aqui a entrevista

“A organização económica vai sofrer um abalo devido à Inteligência Artificial. Vai haver revolta e necessidade de um novo contrato social”

Salomé Rita

Sonoplasta

“A organização económica vai sofrer um abalo devido à Inteligência Artificial. Vai haver revolta e necessidade de um novo contrato social”

Nuno Fox

Fotojornalista

NUNO FOX

Hoje são os humanos que têm a palavra final, mas haverá um dia em que “a conversa entre pessoas vai tornar-se numa conversa entre programas de computador” prevê Luís Moniz Pereira, pioneiro da informática e uma das referências nacionais na ética da Inteligência Artificial. Não faltará quem vislumbre um acrescento de conveniência na Inteligência Artificial Generativa que cria réplicas das pessoas, mas em entrevista para o podcast Futuro do Futuro, o professor emérito da Universidade Nova de Lisboa não se coíbe de denunciar uma potencial “hipocrisia” à escala planetária: “Ao cabo de dois meses havia 100 milhões de pessoas a usar o ChatGPT gratuitamente... quando na verdade estavam apenas a treinar gratuitamente o ChatGPT para o melhorar”.

A ideia de que as inovações tecnológicas beneficiam essencialmente quem já tem o poder não é de agora. Mas nada garante que o sentimento de injustiça não se agudize, à medida que as tecnologias que hoje suportam produtos como o ChatGPT, da OpenAI, ou o Bard, da Google, se disseminarem pelo mundo.

“A organização social, económica e financeira vai sofrer um grande abalo devido à Inteligência Artificial. Vai haver revolta e necessidade de fazer um novo contrato social”, avisa Luís Moniz Pereira.

Mais uma vez a disrupção tecnológica antecipou-se às leis, mas Luís Moniz Pereira, 75 anos de idade e distinguido no passado com uma medalha de mérito científico, está convicto de que ainda há tempo de alterar o curso da história e usar Inteligência Artificial e robôs para produzirem riqueza, enquanto a humanidade ganha tempo livre para fazer o que mais gosta.

“As máquinas podem e devem ser as nossas escravas”, diz.

Em março de 2023, o Professor emérito da Universidade Nova de Lisboa juntou-se ao abaixo-assinado do Instituto para o Futuro da Vida, sediado nos EUA, que pedia uma suspensão no lançamento de novos produtos da Inteligência Artificial Generativa durante seis meses, a fim de acautelar, ou pelo menos, mitigar os efeitos nefastos que esta nova vaga tecnológica pode ter para os humanos.

O espectro do desemprego já perfila no horizonte próximo, garante o eticista das tecnologias. E serão os empregos que mais dependem de rotinas que vão sofrer mais com esta viragem.

NUNO FOX

Luís Moniz Pereira dá um exemplo: “O ChatGPT auxilia e substitui os advogados ao redigirem pareceres que submetem aos tribunais”.

Para parte dos advogados será uma mais-valia, mas para outra parte é a carreira que passa a estar em causa. O próprio sistema de justiça também pode ficar em causa: “É mais fácil pedir ao ChatGPT para redigir um pedido de recurso num tribunal que poderia demorar horas a fazer por um advogado. Portanto, os tribunais vão passar a ser inundados de recursos, como se não estivessem já inundados”, refere.

Os próprios dirigentes políticos poderão não estar a par do que aí vem. Na UE, a mais recente iniciativa legislativa na área acabou por ser travada depois de se verificar que não conteplava os sistemas de inteligência artificial generativa.

“Houve uma falta de cuidado ao pôr um produto de inteligência artificial tão poderoso sem pedir autorização a ninguém”, denuncia Luís Moniz Pereira.

Toda a realidade tem perspetivas – e esse é o motivo que levou Moniz Pereira a escolher a obra Up and Down, do artista gráfico MC Escher, em resposta ao desafio que este podcast coloca aos entrevistados.

"Up And Down", Litografia de MC Escher, que foi escolhida por Luís Moniz Pereira para ilustrar as diferentes abordagens que a análise da realidade pode ter
DR

Depois de duas temporadas com os jornalistas João Miguel Salvador e Nelson Marques, agora é a vez de Hugo Séneca conversar com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos. Oiça aqui outros episódios:

Tiago Pereira Santos

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com

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