Liberdade para Pensar

2003: Portugal em choque com o caso Casa Pia

Neste episódio de Liberdade Para Pensar vamos até 2003, ano marcado em Portugal pelo processo Casa Pia, que envolve figuras públicas e dirigentes políticos num escândalo de abusos sexuais sobre menores que deixou marcas indeléveis na sociedade portuguesa. Para recordar dias que todos preferíamos esquecer, Cristina Figueiredo conversa com José Souto Moura, hoje juiz e magistrado jubilado, na época Procurador Geral da República, e com Luís Garriapa, atual editor de Sociedade na SIC, há 20 anos um dos jornalistas que mais de perto seguiu o caso Casa Pia

2003: Portugal em choque com o caso Casa Pia

Cristina Figueiredo

Editora de Política da SIC

2003: Portugal em choque com o caso Casa Pia

João Martins

Sonoplastia

NUNO BOTELHO

Em novembro de 2002 o Expresso noticiara a detenção de Carlos Silvino, Bibi, motorista da Casa Pia, no âmbito de uma investigação judicial que suspeitava da existência de uma rede de pedofilia a partir daquela instituição de acolhimento de menores. Na segunda semana de janeiro de 2003 o país fica estarrecido com as detenções do médico Ferreira Diniz, do advogado Hugo Marçal e do apresentador de televisão Carlos Cruz.

A 24 de maio é preso Paulo Pedroso, então deputado e porta-voz do PS. O procurador Rui Teixeira vai em pessoa ao Parlamento e a detenção é acompanhada em direto.

Paulo Pedroso esteve preso preventivamente durante cerca de 5 meses. Nunca foi julgado e em 2018 o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) condenou o Estado português a pagar-lhe uma indemnização por prisão ilegal, considerando que “não havia suspeitas plausíveis” dos factos por que era acusado.

Mais de sete anos depois do início da investigação, Carlos Cruz e outros 5 arguidos foram condenados a penas de prisão efetiva. Mas também no caso de Carlos Cruz o TEDH veio dar-lhe razão quando ele alegava ter sido impedido de apresentar novas provas para a sua defesa

Mário Henriques

Mas nem só de Casa Pia se fez o ano de 2003. A 19 de março o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciava uma intervenção militar no país de Saddam Hussein, que acusava de apoiar a Al Qaeda - o 11 de setembro tinha acontecido há pouco mais de um ano - e de armazenar armas de destruição maciça - que nunca foram vistas. Três dias antes, Bush estivera na Base das Lajes, na ilha Terceira, nos Açores, juntamente com Tony Blair, primeiro-ministro britânico, e José Maria Aznar, presidente do Governo espanhol, numa cimeira para preparar a intervenção cujo anfitrião foi o chefe do Governo português, Durão Barroso. O papel de Portugal na cimeira haveria de ser muito criticado, sobretudo pela esquerda que, por cá como por todo o mundo, se manifestava contra (nova) guerra no Iraque.

2003 é também um ano histórico para o Expresso que, 30 anos depois da fundação, deixa a redação de sempre, no número 37 da rua Duque de Palmela, em Lisboa, para se fixar em Paço de Arcos, onde hoje ainda se encontra, num edifício que desde 2019 é também a sede da SIC.

2003 é ainda o ano em que morre, aos 59 anos, João Amaral, o rosto dos renovadores comunistas. O ano em que a presidente da Câmara de Felgueiras, Fátima Felgueiras, oportunamente embarca para o Brasil momentos antes de o tribunal ordenar a sua prisão preventiva por envolvimento no caso Saco Azul. O ano em que Isaltino Morais deixa o Governo depois de confrontado pelo jornal Independente com suspeitas de enriquecimento ilícito. E em que outro ministro, Paulo Portas, volta a ser visado na investigação sobre a Universidade Moderna. Agosto fica marcado pela vaga de calor e de incêndios com as habituais acusações às autoridades, de falta de planeamento e coordenação. Em setembro, Cristiano Ronaldo, um miúdo de 18 anos, protagoniza a transferência do ano ao saltar do Sporting para o Manchester United.


Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CFigueiredo@sic.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate