É o ano dos massacres de Tiananmen, em Pequim, do acordo para um cessar-fogo em Angola, do anúncio do fim da Guerra Fria por Bush e Gorbachev. Mas é a noite de 9 de novembro de 1989, quando se dá a queda do Muro de Berlim, que revivemos neste episódio moderado pela Cristina Figueiredo, através das memórias de Zita Seabra (que foi expulsa do PCP e deixou a ideologia comunista precisamente nesse ano), de António Pedro Ferreira e de José Cardoso, hoje os jornalistas mais antigos do Expresso e que acompanharam esse extraordinário acontecimento para o jornal. Oiça aqui o Liberdade para Pensar, podcast que passa em revista os últimos 50 anos de notícias em Portugal e no mundo
1989 é um ano recheado de acontecimentos e contradições históricas, como sempre no devir da humanidade. George Bush (pai) toma posse como Presidente dos Estados Unidos da América. A União Soviética abandona o Afeganistão e o sindicato Solidariedade, de Lech Walesa, inicia negociações com o Governo polaco para a sua legalização. Salman Rushdie é declarado persona non grata pelo regime iraniano, na sequência da publicação do livro Versículos Satânicos, que os ayatollahs consideram ofender o Islão. Nas meias-finais da Taça de Inglaterra, no estádio de Hillsborough, 96 adeptos do Liverpool morrem esmagados pela multidão, depois da queda de uma barreira de proteção numa zona sobrelotada do estádio. Na praça Tiananmen, em Pequim, os tanques do exército chinês matam brutalmente centenas de jovens que se manifestavam pela democracia. Em Angola, José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi acordam um cessar-fogo do conflito que dura desde 1975. E o ano chega ao fim, em dezembro, com Bush e Gorbachev a anunciarem o fim da Guerra Fria. Novos amanhãs pareciam cantar, menos de um mês após a queda do Muro de Berlim.
José Fernandes
Neste episódio do podcast "Que Voz é Esta?", o psiquiatra Ricardo Caetano explicou as causas e sintomas da doença bipolar
No plano nacional, não falta turbulência política, apesar da maioria absoluta do Governo de Cavaco Silva ou, se calhar, por isso mesmo. A ministra da Saúde Leonor Beleza está em conflito aberto com os médicos. O ministro das Finanças Miguel Cadilhe lida com o escândalo de ter tido isenção da sisa na compra de um apartamento nas luxuosas torres das Amoreiras. Polícias manifestam-se no Terreiro do Paço pela criação de um sindicato e a manifestação acaba com um número indeterminado de feridos depois de um carro de água, conduzido por outros elementos da polícia em funções, disparar sobre os manifestantes, no que ficou para a história como “secos contra molhados”.
É também o ano da morte do pintor surrealista Salvador Dalí, do imperador japonês Hirohito, do ayatollah Khomeini, e do ditador romeno Ceausescu, condenado à morte por fuzilamento. Prova de que morte não é com eles (como ainda se comprova, 34 anos volvidos), a banda britânica Rolling Stones volta a estrada para promover o álbum “Steel Wheels” e o “fenómeno de excepcional longevidade”, como lhe chama o Expresso, merece honras de primeira página no semanário.