“Não quero abdicar de ser advogado pela comédia de momento, porque gosto e é seguro. Será que esta vida de Hannah Montana vai tramar-me?”
Na interseção entre os mundos da advocacia e da comédia está Guilherme Ludovice. O advogado e humorista foi guionista das séries “Arte de Tentar” e “Barman” e tenta tornar-se um ser humano perfeito em “Palácio da Ajuda”, o recém lançado conteúdo com os amigos humoristas Luana do Bem e Tiago Almeida. No Humor À Primeira Vista, com Gustavo Carvalho, compara o seu estilo de vida, entre o direito e o humor, ao de Clark Kent, o Super-Homem, ou até a Hannah Montana, já que consegue o melhor de dois mundos
Gostando da profissão como advogado, achas que há um momento em que, existindo a possibilidade de viver da comédia, vais colocá-la à frente da advocacia? Estou a tentar trilhar um caminho um bocado próprio, na medida em que gosto da minha profissão. Não me apetece muito abdicar de algo de que gosto e me dá segurança pela comédia, neste momento. No meu modelo de sociedade ideal - ouvintes deste podcast de comédia - é ter profissões que permitam às pessoas sentir-se realizadas. A minha forma de sentir-me realizado é ser advogado e comediante, nem tendo de abdicar de uma coisa ou outra. Será que esta vida de Hannah Montana vai tramar-me no fim? Fiquem para ver.
És a Hannah Montana da comédia portuguesa? Sou a Hannah Montana da comédia portuguesa.
Podemos esperar um fase Miley Cyrus, em que és mais rebelde? Exato, gosto da palavra rebelde. Sentia-me até um bocado Super-Homem, mais do que Hannah Montana, porque saía direto da sociedade de advogados onde trabalhava para ir fazer stand-up. Estava vestido de batizado, de camisa e calças bege, e punha-me na última casa de banho antes da saída, trocava de roupa, metia as coisas numa mochila e ia já com o meu outfit profissional de contador de anedotas.
Chegaste a ir atuar de fato e gravata? Uma vez em que esqueci da mochila. Para o tipo de palcos que eu faço é um bocado distrativo eu estar de fato. Se tivesse a fazer um Coliseu, agora num bar é pedir para falar-se sobre isso.
Uma pessoa que goste de humor é muitas vezes atirada para fazer stand-up e se calhar teriam mais jeito a escrever séries, preparar conteúdos. Para mim, a coisa mais gira da parte de ser comediante é ter ideias. Não há nada que bate o entusiasmo muito próprio de chegares a uma conclusão de que acreditas que a ideia pode fazer outras pessoas rir. A partir daí acho que é manter o máximo de canais abertos, para saber para onde se escoar. Sou uma espécie de operário que está numa linha de montagem, vão surgindo coisas não sei muito bem de onde e vou lá buscar quando for ocasião disso. Mas não há nada de que gosto mais do que criar. O formato que faz mais sentido vem depois.
Quem é que normalmente é bom a vetar as tuas ideias? De toda a gente com quem já trabalhei, a Luana do Bem tem um condão especial. Ela diz-me: "Muito engraçado, mas sinceramente nunca na vida." E acho que preciso desse colo e da machadada no fim. Fizemos uma muito boa dupla para escrever o "Arte de Tentar" e agora estou muito contente no "Palácio da Ajuda" a trabalhar com ela.