Luís Franco-Bastos: “O meu conforto a falar de temas íntimos e complicados em palco é quase assustador”
De regresso ao podcast “Humor À Primeira Vista”, Luís Franco-Bastos apresenta-se, desta vez, como “Diogo”. Para abordar assuntos familiares e pessoais é que escolheu o seu até agora incógnito segundo nome, como título do seu novo espetáculo de “stand-up comedy”, o quinto da carreira. Em conversa com Gustavo Carvalho, revela porque só agora começou a falar sobre a sua vida pessoal em palco, descreve o processo e a maturação da escrita de piadas sobre a morte dos pais e explica o que o seu podcast, “Hotel”, lhe deu a conhecer sobre a sua comédia
Na primeira vez que te entrevistei, dizias que as pessoas ainda não estavam preparadas para que falasses de temas mais pessoais, como a morte dos teus pais. Porque é que achas que agora estão? Eu comecei logo a usar isso como material de “stand-up”, logo desde que aconteceu quase. E a minha perspetiva era de que as pessoas de facto não estão preparadas para ouvir falar sobre isso. Apesar de eu próprio me sentir preparado e falar sobre o assunto, as pessoas ficam desconfortáveis. Claro que as pessoas têm direito a ter essa sensibilidade e cada um tem a sua, mas para mim não fazia muito sentido. Eu pensava: “Bem, mas se foi comigo e eu consigo rir disso, então porque é que as pessoas estão meio chocadas? Não estou a falar sobre a morte de pessoas da família delas. Se eu valido isso, falando da minha; se eu consigo, bora lá, alinhem lá comigo”. E depois com o passar do tempo fui percebendo que isso se devia ao mesmo motivo pelo qual outras piada não funcionam, que era: não estava suficientemente bem construído.
Nunca te sentiste desconfortável a abordar estes assuntos nas primeiras vezes? Não, nunca, a partir do momento em que começo a falar disso em palco é porque estou confortável para o fazer. E o meu conforto a falar de temas íntimos e complicados em palco é quase assustador. Para algumas pessoas pode ser quase assustador, a abertura com que falo de coisas desse estilo. Esse tema, por exemplo, agora nem tanto, mas há pessoas para quem na altura era chocante eu, passado menos de um ano, estar a fazer material sobre isso [a morte dos pais]. Mas o cérebro de humorista é um bocado…acho que todos te vão dizer o mesmo (...) Para mim é muito mais fácil falar sobre a minha vida privada em stand-up do que fazer um post em que falo sobre isso. Eu não coloco a minha vida pessoal nas redes.
Sentes mais o espetáculo por te estares a abrir mais? Percebo a questão, mas não é bem o caso. Porque, por exemplo, apesar de eu agora estar a fazer este espetáculo assim, isso não quer dizer que eu ache que a comédia que não é sobre a própria pessoa ou que não é tão profunda, vá, não tem validade. Eu pessoalmente gosto disso e gosto de um artista que fala das suas coisas pessoais, íntimas, mais complicadas e as transforma em riso. Para mim é inspirador e tento fazer o mesmo. Mas nos meus solos anteriores não fazia tanto isso e eu olho para eles e apesar de neste momento, é uma coisa normal, o artista não se revê muito naquilo que fez do passado (...) mas eu olho para os meus solos anteriores e felizmente não deixo de os achar competentes. Acho que são competentes, era a fase em que eu estava na altura, e portanto acho que não deixam de ser espetáculos válidos de comédia, assim como outros espetáculos onde não se arranha muito a intimidade da pessoa. São válidos também, são outros tipos de humor, são outras abordagens, e portanto fico contente de ter chegado a esta fase e de um dos meus espetáculos ser este, mas não quer dizer que agora os espetáculos tenham de ser assim para serem válidos.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes