Humor à Primeira Vista

Bolinha Nunes, de “Cubo” e “Roda Bota Fora”: “Sou fascinado pelo desenvolvimento de ideias, a produção é a parte chata”

Bolinha Nunes é produtor e criador dos espetáculos “Cubo” e “Roda Bota Fora”. Nesta conversa com Gustavo Carvalho, fala sobre o desconforto de fazer “stand-up” e do seu processo de criação. Oiça o podcast Humor à Primeira Vista

Até ser produtor dos espetáculos “Roda Bota Fora” e “Os Primos”, Gonçalo Nunes, conhecido por Bolinha, fez um pouco de tudo, incluindo “stand-up comedy” e até uma atuação inesperada no “Got Talent Portugal”. Quem trabalhou com ele diz que não é um produtor clássico e que tem prazer por desenvolver as ideias e os conceitos com os próprios humoristas. Através da produtora Freakshow criou recentemente “Cubo”, um projeto com os humoristas António Azevedo Coutinho, Ricardo Maria e Vítor Sá, que mistura stand-up comedy e outras dinâmicas que vão desafiar os comediantes a cada espetáculo. O projeto tem uma minissérie e um podcast (Cubinho) disponíveis no YouTube e vai estrear ao vivo dia 11 de abril, no Teatro Villaret, em Lisboa.

Uma pessoa que trabalhou contigo disse-me que tens prazer a desenvolver as ideias e os conceitos com os próprios humoristas. A execução não te dá tanto gozo?
Sim, a produção é uma chatice. Faço porque tenho de fazer. O desenvolvimento é o que me fascina mais. Em tudo. Desde pensar em quais são as luzes que combinam melhor. A parte da produção em si é chatíssima. A comunicação... isso é horrível de fazer. Ainda há pouco tempo falei com o Diogo Abreu [humorista de “Roda Bota Fora"] sobre isso. Prefiro que me chamem na fase mais precoce do projeto, para o desenvolvermos todos juntos. Vou estar mais motivado. Fazer só a produção do que quer que seja... faço porque sei e porque dá-me jeito muitas vezes fazer, mas não me fascina, não me envolvo tanto com o projeto e com as pessoas.

Participaste nas séries “Ego“ e “Cubo“ como ator e fizeste parte do podcast “Epá, por mim não“. Tens alguma dificuldade em perceber em que projetos deves aparecer e aqueles em que deves só produzir?
A maior parte das vezes acabo por fazer produção para conseguir fazer projetos. O “Cubo“ é quase isso. É uma ideia que tem para aí um ano e meio. Foi no primeiro confinamento que tive a ideia. A primeira vez que falei disto ao António [Azevedo Coutinho] ele disse-me que era nojento, no sentido em que estava confuso. Foi uma insónia que eu tive, apontei três ou quatro coisas, adormeci, acordei de manhã e achei que tinha tido uma ideia fixe. Fui revendo os apontamentos e houve um dia em que olhei para aquilo e comecei a desenvolver muito mais. Demorei para aí um mês e meio até voltar a mostrar ao António. A ele e ao Pedro Durão [humorista de “Roda Bota Fora"], são dois bons barómetros.

Porquê?
Porque são demasiado críticos. Para eles, para dentro, para fora. Ajudam-me muito a perceber quando é que a ideia é mais ou menos boa ou é horrível. Passado um tempo apresentei outra vez a ideia e ele achou que assim resultava.

Consegues explicar-nos o que é o Cubo?
Consigo. Há um tema para cada espetáculo. Cada um dos humoristas faz dez a quinze minutos de “stand-up comedy“. No final juntam-se para três dinâmicas. Há três microfones, cada um com uma cor. Em todos os espetáculos trocam de microfone entre eles. No primeiro microfone a dinâmica chama-se “Pão de Zeus“. Têm pulseiras de choque, há um deles que tem de dizer uma piada. Se correr bem os outros dois levam um choque, caso contrário o que disse a piada é que leva o choque. Na segunda dinâmica, o “Realizador“, o humorista tem de preparar uma cena. Escolhe uma pessoa do público e um dos outros humoristas para contracenarem. Na última dinâmica, a "Marmita", tem de trazer um espetáculo de casa preparado sobre o tema. Nós fomos fazer um espetáculo a Montemor para experimentar o conceito. O tema era Montemor curiosamente - fomos muito criativos. O Ricardo Maria ficou responsável por essa dinâmica e fez um “rebranding“ a Montemor, levou uns gráficos e criou um novo hino para Montemor. Fez uma bossa nova de Montemor.

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Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: gcarvalho@impresa.pt

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