Os Protagonistas

Ana Catarina Mendes: “Acho que as pessoas conhecem a minha coragem, não tenho medo da Justiça”

Foi tudo com António Costa: líder parlamentar, número 2 no partido e ministra. E esteve lá num dos momentos marcantes da história recente da democracia portuguesa: a primeira reação do Partido Socialista a André Ventura. Era diretora da campanha autárquica do partido em 2017 e foi ela que, do Rato, reagiu pela primeira vez a uma então desconhecida figura, que marcaria os anos seguintes da nossa vida coletiva ‒ até aos dias de hoje

Ana Catarina Mendes: “Acho que as pessoas conhecem a minha coragem, não tenho medo da Justiça”

Sebastião Bugalho

Eurodeputado eleito pela AD

Ana Catarina Mendes: “Acho que as pessoas conhecem a minha coragem, não tenho medo da Justiça”

João Martins

Sonoplastia

Numa conversa de retrospetiva política e biográfica, Ana Catarina Mendes revela que a primeira resposta do PS ao fenómeno populista na direita não foi unânime nem evidente. Pelo contrário, a socialista conta que resistiu a reagir ao ataque de André Ventura à comunidade cigana em Loures porque não queria conceder-lhe uma dimensão nacional.

E deixa uma advertência: “Ventura mudou o seu discurso. O alvo já não é a comunidade cigana. É a comunidade LGBTQI+, as mulheres, os migrantes”. E junta-lhe uma promessa solene: “Combaterei sempre a injustiça que é a discriminação do outro, que é a atentar contra a sua dignidade”.

Nuno Fox

Como inspiração, aponta três mulheres como exemplo de referência: Madeleine Albright, Simone Weil e Hannah Arendt, todas sobreviventes ao tempo do Holocausto. “As três defenderam uma base comum de democracia, de combate ao ódio”, refere. Para Ana Catarina, o apelo à memória é mesmo o único caminho para não repetir os erros do passado ‒ e tanto a sua experiência como mãe como a de ministra com a pasta da Juventude fortaleceram essa convicção. Neta de um comunista, operário da Marinha Grande, conheceu contestatários do Estado Novo à mesa e ouviu a mãe contar-lhe das canções de Zeca Afonso nas matas de São Pedro de Moel.

Não tenciona criticar a Justiça, ou assim o diz, mas apresenta uma interpelação a todos os democratas. “O que deve ser a Justiça? Um Estado democrático não é compatível com humilhações na praça pública, com insinuações que não são provadas”, reflete, com os casos mais recentes como pano de fundo. “Indigna-me que alguém por ser suspeito não esteja detido as 48 horas legais, mas 21 dias para ser ouvido”, admite, referindo-se ao processo ligado ao governo regional da Madeira.

Nuno Fox

Deixa críticas aos políticos e jornalistas que “perdem mais tempo a dar eco à gritaria [no parlamento] do que a soluções de políticas públicas que transformam a vida das pessoas”, mas mantém a esperança. “Cinquenta anos depois, a sociedade portuguesa é estruturalmente democrata, estruturalmente europeísta”, acredita. E as suas memórias da política, apesar de tudo, “são felizes”. “Às vezes sou criticada por camaradas de partido meus por ser excessivamente emotiva, mas não sei fazer política de outra maneira”, sorri.

Como mulher no mundo da política, reconhece que há muito por fazer: “Quando fui para o secretariado nacional da JS, havia uma presidente de distrital mulher: era eu. 25 anos depois, continuamos com apenas uma mulher presidente de distrital no Partido Socialista”.

A caminho das eleições, a SIC Notícias apresenta 'Os Protagonistas'. Da direita à esquerda, dos senadores aos estreantes, Sebastião Bugalho entrevista uma série de personalidades da política nacional até ao dia em que todos seremos, mais uma vez, chamados a votar. Até lá, programas serão apresentados, debates serão travados e um país percorrido. Pelo caminho, teremos realmente entendido quem são os nossos protagonistas? Se os políticos não são todos iguais, o que têm em comum entre eles? Que poder têm, não os políticos, mas os que passaram pela política? Todas as terças-feiras um novo episódio.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jmartins@expresso.impresa.pt

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